Se você é morador da região, gosta de viver aventuras e é apaixonado por jipes, prepare-se. Chegou o momento de conhecer um grupo que reúne tudo isso e muito mais.

Juntar uma galera animada toda semana, contar histórias e dar boas risadas. Organizar passeios com direito a belas paisagens, contato com a natureza, enfrentar estradas de terra e o que mais vier pelo caminho. E por que não aproveitar tudo isso com veículos 4×4 preparados para esse tipo de aventura? É um pouco do que o jipe clube da Granja Viana desenvolve aqui na região e, a cada encontro, ganha uma nova história que será difícil de esquecer.

A primeira coisa importante é entender o que é um veículo 4×4. Chamamos de 4×4 os carros com tração nas quatro rodas. De modo simplificado, os jipes. Se você ainda não teve contato com essa categoria, pode até se questionar: mas para que tração nas quatro rodas? Bem, poder contar com um motor forte que trabalhe igualmente nas quatro rodas pode não apenas fazer a diferença em trilhas e estradas de chão, como levar aventureiros mais longe em suas expedições. É um diferencial que dá ao carro maior segurança e estabilidade quando o caminho se tornar desafiador.

A Granja Viana é o tipo de lugar em que encontramos de tudo. Ao mesmo tempo em que fica próxima ao centro da capital paulista, a maior metrópole do país, também pode se dizer que está quase no interior. É possível encontrar a agitação da cidade de um lado, e a tranquilidade do outro. Ou ainda, as duas coisas sem precisar sair daqui. Quer dizer, trabalhar no corre-corre durante a semana e se juntar com amigos para se aventurar em lugares pouco conhecidos e de acesso radical sem viajar longas distâncias.

“Cotia é um município imenso. Está entre os 25 maiores do país. Existem muitas opções de estrada de terra para passeios, locais para acampamento e as sempre desejadas trilhas, todas mapeadas já, mas que se recomenda sejam realizadas inicialmente com alguém que conheça bem as dificuldades existentes”, descreve Moa, um dos membros do 4×4 Granja Viana.

O município é considerado como “berço das melhores trilhas” para os praticantes de atividades off road. Pode-se dirigir por trilhas que contornam a represa de Morro Grande e se ramificam para Ibiúna, Itapecerica da Serra, São Lourenço da Serra, Juquitiba e muitas outras.  Essas condições podem ter se mostrado favoráveis já no ano de 1985, quando os Pioneiros Ademir Nunes, Luiz Guerim, Guidinho, Tino, Pedro Pitoco, Jair de César e outros amigos da época formaram o Jeep Clube de Cotia.

O grupo não possui presidente, diretoria ou cobrança de mensalidade. O que demonstra o primeiro traço característico do grupo: a igualdade. Cada membro tem sua própria história individual que não representa a história do clube, mas que juntos o constituem, unidos por uma paixão em comum.

Entre eles, está o Moacyr Pereira da Costa Jr, ou como é conhecido no grupo, o Moa. Sua relação com jipes começou um pouco antes do JC de Cotia ser criado, quando comprou o seu primeiro veículo da categoria, um Willis CJ5 1957. “Comprei por farra, e daí esse vírus do 4×4 não mais saiu do meu sangue”, comenta. Logo, já estava associado ao Jeep Clube do Brasil, grupo que tinha sua sede no centro da capital paulista e lá organizavam trilhas e acampamentos conhecidos na época como “Jeeppipoca”.

Os anos foram passando e após muito tempo de atividade com o JC do Brasil, chegava uma nova fase na vida de Moa. Em 1990, veio morar na Granja Viana e, rapidamente, encontrou outros jipeiros das redondezas que compartilhavam de seus hobbies. Quando percebeu, não apenas estava associado a um novo clube, como era muito bem aceito por todos.

De lá para cá, mais do que fotos registrando aventuras e uma incrível história foi sendo criada. Laços de amizade e aprendizado eram renovados a cada partida nos motores e muito amor por esse clube integraram ao espírito aventureiro do Moa e de muitos outros no grupo que se mantiveram juntos durante os anos.

Em meados dos anos 2000, houve a união entre os clubes 4×4 Granja Viana e o Jipe Clube Cotia. Hoje, os dois grupos funcionam como um só corpo na cidade. Hoje, essa família 4×4 já expandiu suas atividades off road para trilhas e passeios para outras cidades e estados.

Além disso, o 4X4 Granja Viana criou relação de amizade e respeito com  outros clubes da região participando de eventos e passeios conjuntos, entre eles os Cabeçudos Off Road, Elite da Lama, Lama na Veia 4X4, Indomáveis 4X4, Comando Oeste e muitos outros. “Todos os clubes mencionados, que conhecemos e compartilhamos, são do Estado de São Paulo e têm o mesmo ideal: preservação da natureza, diversão e engajamento social”, ressalta Moa.

E para quem acha que jipes, lama e aventura não é coisa de mulher…

No jipe clube, a Erica Moraes é conhecida por Kiki. Ela também iniciou sua relação com a categoria 4×4 fora do grupo dos granjeiros, quando assumiu a administração do Off Tracc em 2009. Na época, era o maior centro de treinamento of road da América Latina.

Quando Kiki assumiu essa ocupação, foi preciso que tivesse orientações de antigos administradores que pudessem lhe ensinar sobre os “cuidados com as trilhas” no sentido da responsabilidade ecológica das práticas envolvendo veículos e natureza. “Foi aí que eu conheci o meu ‘pai da trilha’, o meu tutor, o meu querido amigo Moa! E assim nasceu a nossa amizade”, relembra.

Depois de certo tempo, Kiki deixou o Off Trac e acabou se afastando dos jipes por alguns anos. Em 2015, finalmente comprou seu primeiro 4×4, uma Mitsubishi TR4 que garantiu o retorno das aventuras off road e um reencontro pra lá de especial  com o Moa. E, então, houve o convite para que ela fosse às reuniões do Jipe Clube 4×4 Granja Viana, onde conheceu os demais integrantes e as atividades do grupo.

“Fazer parte de um Jipe Clube é ter uma segunda família. Ter um jipe Clube na minha região é maravilhoso. Consigo ir aos encontros com mais frequência e conheço pessoas que tem a mesma paixão e que moram perto de mim. Aumento o meu círculo de amizades”, comenta.

Mas nessa trilha já houve desafios de muitos tipos, entre eles, as críticas. E para a surpresa de muita gente, as críticas vieram de pessoas do próprio meio esportivo confrontando o fato desse tipo de atividade não ser para mulheres. “As críticas sempre vinham de homens que faziam trilhas. Eles me enviavam whatsapp me criticando. Até ligação já recebi. É difícil achar mulheres que respiram off road, mas quando encontramos nos unimos, trocamos experiências e nos apoiamos”, comenta.

Apesar disso, a jipeira diz que, hoje em dia, as pessoas apoiam mais do que criticam. Muita gente mostra admiração por ela fazer trilhas, entrar em atoleiros e puxar o guincho. Isso quer dizer que ser uma mulher jipeira é poder sujar um pouco as mãos ou até quebrar unhas durante o percurso, é poder dirigir jipes por estradas tortuosas e dar muita risada no fim das contas, né Kiki? “Ser jipeira é maravilhoso! É ter amigos por todos os cantos, é ter contato com a natureza, é sentir aquele cheirinho de mato todos os finais de semana! Ser jipeira é aprender o verdadeiro significado de entra junto, sai junto. É não deixar ninguém para trás, nunca. Seja na trilha ou fora dela. Ser jipeira é aprender que no final você vai chegar na sua casa, só não se sabe quando. Mas você vai chegar!”, descreve.

Aventuras memoráveis

Há diferentes perfis entre os membros do clube e cada um tem sua história dentro e fora do 4×4 Granja Viana, mas há uma coisa em que todos concordam: dirigir jipes é fazer dos seus desafios, experiências. O pior dos terrenos também é aquele que dá mais emoção e adrenalina e sempre irá render boas histórias.

As atividades Off Road podem ser consideradas como esporte, estilo de vida ou até um hobbie. Mas não se engane, é preciso ter relativo conhecimento técnico e habilidades na condução de um jeep, que também precisa ser bem preparado para as dificuldades que a pessoa planeja enfrentar. Além de que é uma prática em que a pessoa deve evitar fazer individualmente:

“Não é recomendado, inclusive é fortemente desaconselhado, a prática solitária do 4×4. Imperioso que se faça em 2 ou mais veículos, sempre cada veículo com pelo menos um ajudante, os famosos Zequinhas”, informam.

Estando tudo corretamente preparado, é só ajeitar tudo no jipe e embarcar em mais uma jornada e voltar com muitas fotos e coisas para contar. E histórias, o 4×4 Granja Viana tem de sobra para contar depois de tantos anos de atividade nos mais variados terrenos.

Entre as principais aventuras vividas pelo clube, está a viagem para a Transamazônica em julho de 2017. Os jipeiros saíram de Cotia e percorreram uma distância de, aproximadamente, 10.000km em 21 dias.

“Não pude fazer o trecho do Jalapão por problemas pessoais que me fizeram retornar a São Paulo. Problema grave que até motivou a desistência de outro membro nesse trecho da viagem apenas para me acompanhar na viagem de retorno”, conta Moa. Após superar esse problema, Moa e seu acompanhante seguiram até Ribeirão Preto. Lá, encontraram o restante do clube todo reunido e então, junto retornaram para casa.

“Um jipeiro não deixa ninguém para trás”
(Moa)

 

Em tempos de Pandemia
Com a quarentena e as medidas tomadas para conter a propagação do covid-19, o clube está estamos fazendo reuniões virtuais através de aplicativo, nas mesmas datas, cada um em sua casa. “Esperamos em breve podermos voltar a nos reunir e confraternizar, homenageando a vida”, aposta Moa.

 

Relembrando
Em outubro de 2001, a equipe da Circuito acompanhou o Jeep Clube da Granja e encalhou na Trilha do Verde em Cotia. Veja na reportagem abaixo:

 

Por Eric Ribeiro

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