Katia Namura Pires é neta de japonesas e resolveu partir de Cotia para a terra do Sol Nascente: ainda no primeiro semestre de 2019, mudou-se para Hamamatsu, onde curte “a segurança e a mobilidade”. É um dos municípios japoneses com maior concentração de brasileiros: a cidade costeira tem, aproximadamente, 12 mil tupiniquins em um total de 800 mil moradores.

Por causa dos seus laços com a China, o Japão registrou seu primeiro caso de coronavírus em 15 de janeiro e a primeira infecção doméstica, em 28 de janeiro. No início de fevereiro, Tóquio enfrentou um surto no navio de cruzeiro Diamond Princess. Sem nenhuma orientação oficial, a população começou a esterilizar as mãos, usar máscaras e praticar distanciamento social por vontade própria.

O estado de emergência foi decretado só em 7 de abril pelo governo central, mas não impôs uma quarentena obrigatória em todo o país, apenas em alguns Estados mais movimentados e grandes cidades. Diferente das restrições mais rígidas de outras partes do mundo, a quarentena japonesa foi baseada em recomendações para a população praticar o distanciamento social e limitar seu deslocamento, estimulou empresas a fecharem temporariamente e o funcionamento do comércio foi mantido com horários diferenciados. “O Estado onde moro não precisou ficar de quarentena, mas as pessoas, por verem como estão os estados mais afetados, estão ficando mais em casa e evitando locais de grande movimentação”, comenta a brasileira.

O Japão também usou uma abordagem específica para rastrear o vírus: enquanto a maioria dos outros países adotou o chamado rastreamento prospectivo, na terra do sol nascente foi baseada em grupos. Trocando em miúdos, no rastreamento prospectivo, os contatos próximos de um caso de covid-19 são monitorados para que possam ficar em quarentena se apresentarem sintomas. Já a abordagem japonesa tenta descobrir onde foi infecção e, depois, monitorar as pessoas que visitaram o mesmo lugar. Para eles, encontrar os superpropagadores é uma maneira eficaz de controlar a doença.

Em 2018, em uma apresentação em Bà Nà Hills – Đường lên tiên cảnh, Vietnâ

Katia continua trabalhando, em uma indústria de banco de automóveis. “A fábrica tomou medidas para evitar que as pessoas fiquem muito tempo próximas umas das outras. Grupos almoçam em horários diferentes e as mesas do refeitório mudaram para que ninguém sente de frente ao outro e os utensílios agora são quase todos descartáveis para evitar o contato de várias pessoas com um mesmo produto (tempero). A temperatura também é medida todos os dias para que ninguém que possa ter 37.5 de temperatura vá ao trabalho… e se for, precisa voltar para casa até melhorar”, conta. Apesar de medidas menos restritivas, a economia local foi abalada: o serviço na fábrica em que Katia trabalha, por exemplo, também diminuiu. “Está fraco, por conta de recebimento de matéria prima do exterior ter parado”, justifica.

Dançarina, a jovem de 35 anos diz que hoje é “peão de fábrica” e a dança voltou a ser hobby, por enquanto. É sua válvula de escape para as horas de lazer. Além disso, para viver esses desafiadores dia de confinamento, lê, estuda e faz exercícios. Ela espera, em breve, “viver normalmente e frequentar os lugares públicos que gosto em paz”. E, claro, saborear em paz seu doce japonês preferido: Japanese Soufflé Pancakes. “Massa fininha r recheio pode variar entre chantilly, sorvete, caldas, geleias e frutas. O meu preferido é sempre o que acompanha blueberry e morango (qualquer fruta vermelha, principalmente as mais azedas para quebrar o doce)”, descreve com água na boca.

Com o grupo de dança
Katia, comemorando seu aniversário de 35 anos no Japão

Mas como tudo passa, o governo japonês anunciou, em 25 de maio, o fim do estado de emergência que havia decretado para controlar a pandemia. Com o fim das medidas mais restritivas nas últimas regiões que permaneciam em alerta, o governo deve colocar em ação um plano de reabertura gradual da economia e dos serviços. É esperado que escolas, locais públicos e comércio voltem a abrir em fases nas próximas semanas, sempre avaliando os números no país. Até agora, o país registrou 17.174 casos e 916 mortes. E já no 1º semestre de 2021, a população japonesa deve começar a receber a vacina. As Olimpíadas, que seriam realizadas em Tokyo em 2020, foram reagendadas também para 2021, entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021.

Olimpíadas adiadas por conta do coronavírus (Foto: Tomohiro Ohsumi/ Getty Images)

Este momento pode ter sido apenas uma pausa para que repensemos nossas ações, até que tudo consiga se normalizar. “Que saibamos ser mais humanos e que cada momento é único. Viver feliz, com o suficiente, é o que realmente importa”, finaliza a brasileira.

Por Juliana Martins Machado

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