Água de Cotia e região está contaminada por 27 agrotóxicos, aponta levantamento

Sabesp rebate e diz que água não está contaminada e segue padrões da OMS. Prefeitura de Cotia endossa. Professora da Unicamp pondera e diz que pesquisas devem ser vistas com cautela mas pede atenção aos cuidados com os mananciais.

Esta semana os moradores da cidade de Cotia se assustaram com a notícia de que um garoto de 10 anos de idade foi internado em estado grave após comer um bombom supostamente contaminado por chumbinho. O garoto passou mal na escola Idalina Godinho da Silva que fica no bairro da Água Espraiada em Caucaia do Alto e está internado no Hospital de Cotia e o caso sendo investigado pela Polícia Civil.
Aldicarbe é o nome científico do chumbinho. Ele aparece na lista das Pesticide Action Network (PAN) classificado como Altamente Perigoso. Muito usado no Brasil para matar ratos, o uso químico do produto foi reavaliado no Brasil após começar a ser utilizado para outros fins, como abortivo e tentativas de homicídio e principalmente suicídio.
E se você soubesse que esta mesma substância está em grande quantidade na água potável que você e sua família consome diariamente? Isso foi o que revelou o levantamento elaborado pela Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye apontando que 504 municípios de São Paulo têm na água um coquetel composto por 27 agrotóxicos. Cotia, Barueri, Carapicuíba, Itapevi, Embu das Artes, Osasco, Vargem Grande Paulista e Ibiúna estão nesta lista.
Dos 27 agrotóxicos, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas.00
De acordo com a publicação, em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017.  O monitoramento é feito pelas próprias companhias de água, no caso de Cotia e região, a responsável é a Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo.   Segundo a Agência Pública os dados que teoricamente são públicos, não são divulgados de forma compreensível para a população. Outro problema estaria no monitoramento das águas ou na falta dele, uma vez que dos 5.570 municípios, 2.931 não realizaram testes na sua água no período de 2014 a 2017.
Na água potável que sai das torneiras de Cotia por exemplo, de acordo com o levantamento, há 11 tipos de agrotóxicos considerados acima do limite seguro na União Europeia.
Mas como cada pais segue uma legislação diferenciada, no caso do Brasil o padrão é da  Organização Mundial da Saúde – OMS,  mesmo com esses índices de agrotóxicos detectados pelo estudo, a água brasileira que não seria aprovada para consumo na Europa é considerada boa. “A água fornecida pela Sabesp não está contaminada”, garantiu em nota a Companhia que informou à redação que faz testes diários em laboratórios certificados pelos órgãos competentes.
“A legislação brasileira, do Ministério da Saúde, estabelece parâmetros seguros de substâncias encontradas na água conforme definições da Organização Mundial de Saúde (OMS). Para controlar isso, são realizados 90 tipos de testes e mais de 90 mil análises mensais que aferem turbidez, cor, cloro, coliformes totais, metais, agrotóxicos, dentre outros.
Os relatórios de qualidade da água são enviados mensalmente ao Ministério da Saúde e também são disponibilizados às Vigilâncias Sanitárias dos municípios. Além disso, os clientes podem conhecer esses resultados na conta de água ou pelo site da Sabesp (www.sabesp.com.br).”
Questionada, a prefeitura de Cotia endossa o que foi dito pela prestadora de serviço: “Semestralmente é entregue na Vigilância Sanitária os relatórios de todos os parâmetros da legislação e os resultados estão de acordo com o preconizado por tal legislação.”
Controle deve ser no uso de agrotóxicos
A professora Cassiana Montagner Coordenadora do Laboratório de Química da Unicamp, em entrevista à Radio CBN na manhã desta quarta-feira (17)  foi mais ponderada e alertou que essas pesquisas deve ser olhadas com cautela.
Para ela ainda não há motivo para alarde. “As concentrações na água de beber são residuais e não estão necessariamente associadas a um efeito na saúde pública humana”, afirmou.
Segundo ela é fato que há resíduos de agrotóxicos na água consumida pelos brasileiros, fruto dos resíduos de agrotóxicos usados principalmente na agricultura e que contaminam o solo e consequentemente, os mananciais que precisam ser protegidos. O sistema de tratamento de água não tem condições de removê-los totalmente da água. Ou seja, se aumentar o uso de agrotóxicos no Brasil como está sendo previsto, com a liberação de outros componentes, cada vez mais os mananciais estarão comprometidos e também a água.
Por fim a professora afirma que a população pode continuar bebendo água tranquilamente porque ela está dentro dos parâmetros de segurança para consumo.
Por Sonia Marques

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