Ignorância Artificial

Marcos Sá escreve sobre como a autonomia humana está sendo substituída pela inteligência artificial, evidenciada pela perda de interações personalizadas em serviços como atendimento ao cliente e negociações comerciais. "Assim, os “sistemas” vão padronizando tudo e todos e vamos acatando, humildemente, as decisões das máquinas, sejam elas inteligentes ou burras, não importa, como gado nos curvamos à nova ordem", comenta.

LEMBRA QUANDO VOCÊ LIGAVA para o gerente do banco, ele atendia e tinha autonomia para resolver seus problemas? Era ele e mais ninguém! A resposta era baseada na capacidade do gerente em entender o problema, ter o bom senso de analisá-lo dentro da sua experiência, das normas e da sua importância como cliente.

E quando íamos às compras e pedíamos um desconto? Era tipo mercado árabe: você e o vendedor, quem tinha mais habilidade de negociar, ganhava a contenda. Mas sempre rolava um abatimento.

Pois é, perdeu Mané. Já não é mais assim. São dois exemplos simples para demonstrar algo que já é uma realidade, mas que tratamos como um fantasma que nos assombrará no futuro. A tal IA. Ou Inteligência Artificial.

Certamente, teremos vozes discordantes, mas já vivemos em uma sociedade onde tudo é dominado por um ente invisível, inalcançável, inatingível e implacável! Quantas vezes no nosso dia a dia não ouvimos a frase: “o sistema não permite” ou “não posso fazer nada, o meu acesso é restrito”? E, assim, os “sistemas” vão padronizando tudo e todos e vamos acatando, humildemente, as decisões das máquinas, sejam elas inteligentes ou burras, não
importa, como gado nos curvamos à nova ordem.

Ou seja, já vivemos o amedrontador futuro sombrio e catastrófico em que humanos serão dominados pelos androides e robôs. Tipo o filme Blade Runner, onde, em 2049, um mundo distópico é totalmente controlado pelos replicantes, uma mistura de androide clonado de um ser humano, que escravizam a humanidade.

Exageros à parte, o fato é que os profissionais das mais diversas áreas, cada vez mais, perdem autonomia e são reféns do  teclado. Empresas de telefonia, streaming, TV a cabo, locadoras de veículos, bancos, companhias de energia, cartão de crédito e até a padaria da esquina não dispõem mais de pessoas em carne e osso nos seus SAC’s (Serviço de atendimento ao consumidor).

A IA atende a ligação e faz aquele barulhinho ridículo ao fundo, imitando um teclar de dedos no computador. Tenta, de todas as formas, empurrar para um link onde outra IA vai teclar com você no WhatsApp com respostas burramente padronizadas, apostando no seu cansaço e consequente desistência. Um porre. Existem situações simples, como consultar contas, faturamento ou que exigem respostas objetivas, em que a ferramenta realmente funciona. Porém, se for uma dúvida um pouco mais complicada, onde não existem respostas padrão, aí lascou.

Por outro lado, a IA proporciona facilidades mil ao oferecer, através de diversos aplicativos, soluções para trabalhos, pesquisas e estudos, simplificando a vida dos estudantes e dos profissionais das mais diversas áreas. Já existem aplicativos destinados a descobrir se houve participação ou não da IA em textos, pesquisas, estudos, teses e publicações, condenando os autores a plágio ou ao humilhante CTRL C + CTRT V. Um fiasco. Como
toda inovação, o bom senso e o bom uso da IA devem prevalecer entre empresas, profissionais e de quem dela fizer uso.

Mas continuo valorizando as empresas que privilegiam o atendimento humanizado, com respeito ao cliente e preocupação em solucionar problemas. Senão, a Ignorância Artificial
acabará prevalecendo.

Listo acima alguns apps de IA que poderão ser úteis. Use com moderação e com IH – Inteligência Humana!


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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