Marcos Sá fala do caos sobre rodas nas ruas da cidade

Nosso colunista escreve sobre a convivência caótica e perigosa entre diferentes formas de mobilidade, especialmente motociclistas: "Milhares de acidentes fatais diariamente ocorrem nos ringues, ops, nas ruas por conta dessa somatória de fatores irresponsáveis"

Viver nas grandes metrópoles não é tarefa fácil. Até nas cidades menores, a vida já não está mais tranquila. Violência urbana, drogas, assaltos a bancos e caixas eletrônicos, trânsito caótico. Enfim, os problemas de toda ordem só aumentam e as soluções não chegam. Vou focar aqui em um tema crítico que tem chamado atenção de quem circula pelas ruas do nosso Brasil, que é a convivência entre as diversas formas de mobilidade. Pela ordem natural, numa cadeia de prioridades no trânsito, teríamos mais ou menos a seguinte configuração: prioridade um para pedestres e, depois, bicicletas, motos, carros de passeio, camionetas, ônibus e caminhões. Imagino que os mais frágeis deveriam ser respeitados pelos mais robustos. Infelizmente, a coisa não funciona assim. É um salve-se quem puder. Nessa barafunda incivilizada, onde a guerra é fratricida, os motoqueiros vêm ganhando um destaque negativo brutal. Óbvio que não estou generalizando a irresponsabilidade. Temos de tudo, mas o duelo que vemos nas ruas diariamente é, na maioria das vezes, de entregadores contra todos os outros veículos. Motos versus todos. Até os entregadores que utilizam a bicicleta como meio de entrega têm contribuído para o caos. Andam pelas calçadas, atropelando pedestres ou costurando no trânsito e causando confusão sem nenhuma identificação e consequente responsabilidade. A tempestade perfeita funciona assim. As empresas de entrega incentivam monetariamente seus entregadores a andar o mais rápido possível nos trajetos. Os clientes/consumidores já se acostumaram com a agilidade na entrega e não aceitam demora. Radar para moto? Eles põem a mão na placa e passam zumbindo. Os motoristas nunca sabem de que lado da faixa de rolamento ficar e as motos passam de todos os lados, buzinando e arrancando os retrovisores dos carros de quem se atreve a ficar nos espaços que eles julgam serem donos e saem impunes. A arapuca está armada. É o caos vigente. Em caso de acidente, o motorista do carro envolvido é cercado por dezenas de outros entregadores que se juntam ao acidentado em solidariedade, encurralando o motorista. Os motoristas também não colaboram e mudam de faixa sem sinalizar a mudança. Também não adianta muito sinalizar, pois nada muda o ímpeto das motos em ultrapassar. Devemos esse caos ao ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso) que sancionou a lei que permite a circulação de motos pelos corredores, ao governo federal e Congresso que não regulamentam a lei, pondo um pouco de ordem nessa bagunça. Soma-se a isso a ausência de fiscalização mínima dos responsáveis pelo trânsito, o medo dos responsáveis nas prefeituras em serem rigorosos com a categoria e sofrerem represálias, a falta de amor pela vida de alguns desses jovens que se arriscam nas ruas. Está armado o desastre. Milhares de acidentes fatais diariamente ocorrem nos ringues, ops, nas ruas por conta dessa somatória de fatores irresponsáveis. Por fim, estamos assistindo agora uma interferência do governo federal contra as empresas de entrega. O que o governo quer é faturar, aumentar os impostos e, consequentemente, encarecer o serviço para os consumidores. Perdem todos e ganha a máquina arrecadadora do governo federal. Ao invés de taxar as empresas, o certo seria responsabilizá-las quando houver desrespeito às leis de trânsito, fazendo com que os entregadores sejam identificados e dirijam com responsabilidade, além de criar condições mais humanas para os empregados dessas empresas. Segundo o Ministério Público, em 2022, tivemos mais de 25 mil óbitos por acidentes de moto no Brasil, mais de 68 vítimas por dia. Deve ser mais do que acontece na guerra da Ucrânia. Mais uma tragédia no meio de tantas, que convivemos com normalidade.

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