Se pudéssemos visualizar e decifrar como seriam os alienígenas, se é que eles realmente povoam algum lugar deste nosso imenso universo, provavelmente ele teria semelhanças, se não físicas, certamente intelectuais com o nosso personagem de capa desta edição. A alusão, que pode parecer constrangedora num primeiro momento, é apenas uma forma literal para ilustrar e apresentar a mente brilhante de Alê Machado, diretor de cinema e animação.
Ninguém deste planeta, ou poucos terráqueos, tem a determinação e a disciplina que ele e sua equipe tiveram no decorrer dos últimos cinco anos, tempo necessário para concluir o primeiro longa-metragem em 3D de uma animação infantil no Brasil.
Detentor de uma memória visual e de uma criatividade impressionantes, somada a uma infância imersa em filmes, quadrinhos, livros, videogames, além de muitos amigos na outrora pacata e inspiradora Granja Viana, o diretor de Bugigangue no Espaço falou com exclusividade à Revista Circuito durante a coletiva de imprensa do lançamento do filme. Contou sobre sua infância, sua vida, suas obras e seus projetos futuros no fantástico mundo da animação.
Quando nossa sociedade atual vive imersa em telas, computadores, smartphones e redes de interligação social, Alê já usava e brincava com o poder dos bytes havia tempos. Quando chamado e comparado a um nerd, aceita tranquilamente o adjetivo, que representa aquelas pessoas que adoram, dominam e são estudiosos ou especialistas em sua área ou campo técnico específico.
Num mundo dominado por eles, nerds como Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Bill Gates, dentre outros, definem e apontam o futuro do entretenimento, da cultura e da educação neste século 21. Assim, a Granja Viana coloca seu nome no mapa dos locais onde nasceram mentes brilhantes e grandes ideias. Alê traz uma animação infantil impecável e saborosa, tanto para crianças quanto para adultos, e coloca seu nome definitivamente entre os grandes cineastas do país. Vale muito a pena levar seus filhos ao cinema e prestigiar essa obra-prima nacional!
BOX SOBRE O FILME
BUGIGANGUE NO ESPAÇO
Enquanto Gustavinho (voz de Danilo Gentili), Fefa (voz de Maisa Silva) e os demais integrantes do Clube Bugigangue estão preocupados com os trabalhos da escola, nem imaginam que em um ponto distante da galáxia o vilão Gana Golber tomou o poder da Confederação dos Planetas, ameaçando a paz do universo. Expulsos da confederação, sete Invas, alienígenas atrapalhados e ingênuos, conseguem escapar ao cerco de Gana, mas, na fuga, sua nave é danificada e cai na Terra. Logo os Invas fazem amizade com as crianças do clube, consertam a nave e embarcam juntos numa aventura intergaláctica para restaurar a paz do universo.
Com roteiro e direção de Alê Machado, a animação Bugigangue no Espaço traz aos espectadores referências a filmes como Star Wars e E.T. e até figuras como Super Mario, Seu Madruga, Chupa-Cabras e E.T. de Varginha. O longa entrou em circuito nacional no dia 23 de fevereiro, nas versões 2D e 3D, com distribuição da Imagem Filmes. O filme terá lançamento em rede nacional em mais de 400 salas, e já existe uma versão dele totalmente dublada para o inglês para atender aos mercados internacionais.
RC – Alê, conversando com alguns amigos da sua época de infância na Granja, eles nos contaram que você passava aulas inteiras desenhando personagens de vários filmes, desenhos e jogos, e que os fazia muito bem já naquela época. Isso é mesmo verdade?
Sim, é verdade. Eu pegava os livros de Biologia e transformava os bichinhos das aulas em alienígenas e personagens. Minha mãe me dava bronca por isso, pois os livros tinham de ir para os irmãos mais novos, e eles já os pegavam cheios de desenhos. Os professores também não gostavam, então eu desenhava na parte de trás do caderno, até que as anotações de aulas se encontravam com os desenhos. Mas eu prestava atenção nas aulas, sim! (risos) e geralmente os desenhos tinham a ver com as aulas também! O meu jeito de entender as aulas era enxergar visualmente o que o professor estava ensinando, então, eu desenhava. Os senhores feudais, por exemplo, eu desenhei vários deles. Quando começamos a estudar Leo Huberman e a História da Riqueza do Homem eu dei uma parada com os desenhos, pois a coisa ficou meio confusa. (risos)
RC – Como foi sua infância na Granja? Você passou boa parte da sua vida por aqui, quais são suas melhores lembranças?
A infância daquela época não tem preço. Eram poucas as pessoas que viviam por lá, naquele tempo, nós conhecíamos todas as famílias, todos eram muito amigos. Íamos a pé da casa de um amigo para outra. Eu costumo dizer que tivemos uma infância parecida com a da Turma da Mônica. Sempre estávamos juntos, em turmas, na casa de um ou de outro, passeando pelas ruas, entrando em terrenos que ainda não tinham casas construídas, enfim, acho que esse estilo de vida e essa infância hoje não existem mais, perderam-se um pouco no tempo, e as crianças de hoje dificilmente vão viver o que tivemos o prazer de vivenciar, infelizmente. Se você pensar nas crianças de hoje em dia, que têm uma vida mais urbana, em apartamentos, e passam o dia vendo YouTube, televisão ou videogames, e só fazem isso, acho que eles perdem muito do que tivemos com relação à criatividade e à fantasia, porque tínhamos a chance de brincar e explorar os mais diversos lugares e assuntos.
RC – Você, naquela época, já fazia o estilo intelectual, estudioso, até nerd mesmo, pois estava sempre cercado de livros, gostava de computadores e videogames, enfim, explica isso, Alê.
Não me via muito como intelectual, não. Mas nerd eu era, sim! Acho que eu inventei o nerd na Granja Viana (risos). Eu era um nerd na época em que ser nerd não era legal, não era cool, porque hoje em dia é legal ser nerd. Eu não era um nerd no sentido de ser um ótimo aluno, era apenas um aluno bom, nota B e estava feliz assim, fazendo o suficiente para passar de ano, e nunca tive problemas com isso (espero que minha filha não leia esta matéria). Eu prestava atenção nas aulas, desenhando, lógico, mas pensando que isso faria com que eu não precisasse perder mais tempo depois estudando, entende? Para poder usar meu tempo para desenhar mais, criar personagens, histórias em quadrinhos etc. Eu adorava e lia todas as edições da Revista MAD, íamos ao Vem Q Tem (antiga e clássica livraria da Granja Viana da década de 1980) no dia do lançamento da edição do mês, era sempre um dos primeiros a comprar e já ficavam até separadas para mim. Lia muito quadrinhos, em geral, e sempre gostei muito de humor também, mas não gostava dos quadrinhos de herói, que é o que caracteriza mais os nerds. Via muito desenho animado e muitos filmes, era e sou ainda fissurado por Star Wars, então acho que eu fui criança por bastante tempo mesmo. Tem um momento que marca bem isso, quando vários amigos foram a um show do The Cure, em 1985, mais ou menos, e eu não fui, fiquei em casa ouvindo as trilhas sonoras de filmes como Star Wars, E.T. Então eu pude estender bem a minha infância e a Granja me possibilitou isso.
RC – Chegou a sofrer bullying dos amigos por isso? Lembra-se de alguma história que te marcou desta época?
Bullying? Obviamente e muito! Só não tinha esse nome ainda. Eu fui muito zoado mesmo! Eu falo muito sobre isso, pois acho que existe uma supervalorização do bullying. Eu trabalho com humor, qualquer piadinha que você faça, hoje em dia, é vista como bullying. Como eu fui muito zoado na infância e superei isso numa boa, acho que faz parte um pouco de bullying, sim! Como eu digo, o que acontece na escola fica na escola! É problema seu lá e não adianta aumentar e levar para mãe, psicólogo ou diretor. Obviamente que bullying com violência física ou relacionado com racismo e gênero eu repudio totalmente. Eu lidei bem com isso na minha infância e acho que faz parte de um momento da vida. Imagina que eu tive barba com 11 anos, tinha um bigode imenso. Já sabe qual era meu apelido ou não? Barba, né, óbvio. Eu achava horrível o apelido. Eu gostava de Star Wars e me apelidaram de Chewbacca, o que não é o apelido mais legal para uma criança. Os Titãs gravaram Homem Primata naquela época e na primeira festa a que eu fui que tocou essa música, imagine para quem meus amigos apontaram? (risos) Depois que inventaram a Gillette, eu levo isso numa boa, inclusive não me gerou nenhum trauma, já fiz até filmes em cima disso!
RC – A 44 Toons é uma produtora de conteúdo original para formatos multiplataformas (séries, longa-metragens e jogos). Sua marca registrada é o humor, diálogos rápidos e piadas nem sempre óbvias para cair no gosto da família. Conte-nos um pouco de como tudo começou e o despertar desta paixão pela animação.
Uma vez dei uma entrevista falando sobre isso, e meus irmãos não gostaram muito. Eu passava tardes vendo desenho animado e jogando videogame. Até que meu irmão mais velho me deu uma bronca, dizendo que eu deveria dar um rumo à minha vida. Eu tive, então, a bênção de poder trabalhar com as duas coisas, hoje em dia, e me sinto muito realizado. Eu sempre quis e não consigo me imaginar fazendo outra coisa a não ser animação! Uma vez um amigo me perguntou o que eu queria fazer quando crescer, e eu disse cinema. Mas aí pensei, cinema não dá, não pode, não tinha nada no Brasil (daquela época) que refletisse o que eu pensava e queria para mim (em termos de entretenimento e efeitos especiais). Aí, então, pensei: vou fazer quadrinhos, até chegar ao cinema, que são as duas coisas mais próximas do que eu sempre quis fazer na vida profissionalmente. Eu comecei com a minha primeira produtora (44 Bico Largo na época, que depois virou a 44 Toons) na Granja mesmo, com o jogo o Enigma da Esfinge, logo que saí da faculdade. Ficamos por ali por 8 anos e fomos crescendo, fazendo jogos, alguns por encomenda, até. Aí, então, inventamos a Bugigangue, num formato de revista e CD-Rom, além de alguns projetos de curta-metragem, também, e assim eu fui me aproximando do mercado e do universo da animação, até conseguir clientes específicos no ano de 2006. Aí mudamos para a Vila Madalena já com o nome de 44toons e totalmente focados em animação e em alguns projetos de jogos ligados a este tema.
RC – O sucesso das animações blockbuster e de tantas produtoras e filmes é um fenômeno de público e de crítica mundial e que arrebata o coração e a mente de milhares de crianças (e de adultos também). Como você vê o mercado brasileiro em relação ao americano e ao de outras potências do cinema de animação pelo mundo?
O Brasil se posiciona de uma maneira muito importante nesse mercado do ponto de vista do consumo desse tipo de animação. É um mercado muito importante para o audiovisual, apesar de estar bem distante do americano, levando em conta, principalmente, o quesito número de salas, mas, mesmo assim, nosso mercado de audiovisual é muito grande. Estamos no Top 10 do mundo em rendas dos filmes. Estamos vivendo o melhor momento do cinema nacional, melhor até que os anos 1970/1980 com Os Trapalhões e Dona Flor (com 11 milhões de espectadores). De alguns anos para cá, o mercado tem crescido e o market share do Brasil vem acompanhando esses números, existindo modelos de negócio possíveis para o cinema no país hoje em dia. Sendo o Brasil, então, um dos lugares com melhor bilheteria para as animações internacionais, não faz sentido não usar esse potencial para alavancar a produção nacional. O Brasil produz muitos bons filmes artísticos e poéticos, e ganhou, por três vezes consecutivas, o Festival de Annecy, na França, a mais importante premiação do gênero no mundo, no entanto, apesar de ter essa tradição na animação de qualidade, o Brasil ainda não tem um filme de entretenimento para esse público ávido por novidades deste gênero. O Bugigangue é um filme em 3D e de entretenimento que usa as mesmas técnicas destes blockbusters, que têm humor e são para a família, então estamos apostando que vamos conseguir abrir o caminho para este tipo de animação ser explorado por mais produtores brasileiros.
RC – Alê, fazer um longa-metragem de animação infantil, em 3D e 100% nacional parece uma tarefa impossível. Como foi o processo de criação do Bugigangue?
Tem um ditado do qual eu gosto muito. “Ele não sabia que era impossível, foi lá e fez.” É um pouco parecido com o que aconteceu, porque, quando começamos a projetar o Bugigangue, ele era meu primeiro filme, e quando eu escrevi o roteiro e comecei o processo de financiamento, eu não tinha nem uma série feita. Hoje, eu já tenho três séries produzidas que estão no ar. A primeira versão da história tinha vários planetas e muitos personagens em cena, o que se tornaria muito difícil de executar. Os conselhos que eu recebia de consultores e diretores para esse roteiro era para que eu reduzisse, fazendo um primeiro filme menor, mesmo sendo em 3D. Mas eu mantive a ideia inicial do Bugigangue, essa coisa da turma de crianças que estava muito ligada à minha infância e, de certa maneira, eu estava fazendo aquele filme ao qual eu queria ter assistido quando tinha 10 anos de idade. Logo que a gente começou a fazer o desenho de produção, vimos que teríamos de inventar muita coisa e descobrir como fazê-las, acho que acabamos sendo muito criativos na produção.
RC– Sobre os custos de produção para realizar o filme, o que você pode nos contar?
O custo do filme é de 4,6 milhões de reais, o que parece muito dinheiro, mas, se você dividir pelos cinco anos de produção e pelas 50 pessoas trabalhando, você vai ver que não é um orçamento alto e tivemos de nos desdobrar para fazer isso acontecer. Um filme de animação blockbuster tem um orçamento médio de 150 milhões de dólares, então, se eu conseguir fazer um filme igual com um orçamento de 2 milhões de dólares, é porque eu inventei a roda e acabei com o negócio deles (risos). Então, pensamos: qual pode ser nosso diferencial? Focamos muito na história, nas imagens de perder o fôlego, os planetas sendo incríveis, destacando a beleza do filme, e acho que acabou dando certo. Temos um filme de 80 minutos com quatro locações diferentes (os diferentes planetas), o que muda toda a iluminação e o setup dos ambientes e com uma média de dez personagens em todas as cenas, o que significa que o animador tem de mexer em dez personagens a cada cena. Levamos cinco anos para finalizar o filme, e estamos muito felizes e empolgados para ver os resultados e a reação do público.
RC – Além de todo o perfeccionismo dos personagens, das cores e dos detalhes impressionantes da animação, algo que chama a atenção no filme é a trilha sonora, que foi gravada pela Orquestra Sinfônica de Budapeste. Como foi esse trabalho?
O filme é 100% brasileiro, mas tem três países que tiveram papel importante na prestação de alguns serviços-chave. Primeiro a gravação das vozes guia que foram feitas num estúdio em Nova York, onde gravamos com atores da Broadway. Aí, então, veio a trilha sonora, composta pelo compositor sinfônico Alexandre Guerra, que foi composta aqui no Brasil e performada pela Orquestra Sinfônica de Budapeste, na Hungria (o Brasil não possui a mesma tecnologia das salas de gravação da Hungria, o que tornaria a trilha, como foi concebida, inviável) contando com mais de 60 músicos. As partituras foram enviadas para lá e a orquestra ensaiou por três meses até a semana de gravação para o filme. Nos dias de gravação, houve momentos emocionantes, poder ver o Maestro tocando as músicas que você ouvia no seu computador. Basicamente, o filme vai passando em uma tela para o Maestro, que vai regendo a orquestra e os músicos tocando os temas do filme, mesmo o filme não estando totalmente finalizado, apenas montado em sua sequência final. Aí, então, a trilha é mixada e somada à sonoplastia.
RC – O filme foi finalizado na Índia, é isso mesmo?
A iluminação, a renderização (processo pelo qual se pode obter o produto final de um processamento digital) e alguns efeitos foram feitos em um estúdio em Mumbai, na Índia, muito por conta dos melhores preços e da expertise do cinema indiano para a produção de longas-metragens em 3D. Uma coisa é você trabalhar 30 segundos para publicidade, outra são 80 minutos para cinema, então achamos prudente utilizar o know-how indiano, que está acostumado a prestar esse serviço para o mundo já. Acabei passando 20 dias por lá para codirigir a equipe que estava trabalhando no filme, e foi uma experiência muito enriquecedora.
RC – Alê, as crianças de hoje em dia estão coladas, cada vez mais, a seu iPads, e essa interface com o mundo digital parece ser um processo irreversível. Você acha saudável esse hábito? Acredita que, de alguma maneira, pode ser prejudicial?
Acredito, sim! Acho que é legal, é divertido, sim. Tenho duas filhas, uma de 10 e outra de 2 anos, e elas usam bastante e assistem ao Ipad. Acho natural que o consumo do audiovisual não seja mais linear como era para a gente e não faz sentido para eles ter de esperar para assistir a um programa, então o consumo é imediato. É uma geração que não diferencia onde está assistindo ao conteúdo. Até este ponto é saudável, mas como nós mesmos não podíamos ficar o dia todo jogando Atari, acho que o mesmo vale para as crianças de hoje, ou seja, dosar o tempo e o conteúdo consumido. Quem deve, de fato, ficar atento são os papais, pois é tentador você ter esta babá eletrônica extremamente eficiente e disponível o tempo todo. Acredito que estimule a criatividade e pode ser usado, sim, mas com supervisão e moderação.
RC – Os filmes e as animações e todo esse mundo de informações, imagens, sons que estão disponíveis para as crianças podem contribuir, e não concorrer com a educação formal nas escolas? Como você enxerga essa questão?
As escolas precisam e vão se modernizar. Essas tecnologias fazem parte do dia a dia das crianças e seria uma estupidez abrir mão delas como ferramentas de ensino. Obviamente, não vai substituir o professor em sala de aula, mas deve ser incorporado como uma nova ferramenta de aprendizagem. Existe um estudo que diz que do que aprendemos ouvindo retemos cerca de 10% do que foi ensinado. E do que aprendemos interagindo e vivenciando como experiência aprendemos 90%. Ao trazer estes jogos, chamados de jogos de impacto social, para a sala de aula e colocar as crianças em contato com aquela matéria e experimentando algo vivo, o aprendizado será concreto e retido por elas. O proprio MEC sugere, em suas diretrizes, que se traga para a sala de aula filmes que tratem da cultura brasileira, sendo assim, qualquer país que almeje uma boa formação cultural e acadêmica deve incorporar a tecnologia na sala de aula.
RC – Como você vê a indústria do entretenimento infantil e a educação num futuro próximo, daqui a cinco ou dez anos, por exemplo? Para onde caminha o intelecto dos nossos jovens?
Criança é criança em qualquer era. Eu consigo me teletransportar para minha infância e ver o que eu queria consumir. Às vezes, me pergunto como seria experimentar esse mundo de poder ter acesso a tudo, assistir a um filme na hora e quando a gente quer. Já tivemos o videocassete, mas não tinha a mesma oferta de conteúdo de hoje. Mas acredito que crianças são sempre crianças, os desejos são parecidos mesmo em épocas tão diferentes, mas acho que o que deve acontecer são elas participando mais e mais do entretenimento, que elas opinem mais e que, por conta das redes sociais, elas se agremiem mais, ficando mais perto de outras crianças que gostam das mesmas coisas que elas, não tendo o espaço como um limitador, pois na minha época estávamos “presos” aos nossos grupos de escola. Acredito, ainda, que elas vão interagir cada vez mais com o próprio conteúdo, serão cada vez mais comuns as experiências imersivas para as crianças, como óculos de realidade virtual, para que elas adentrem aqueles ambientes. Acho que a tecnologia vai tornar esse desejo infantil de ser tudo, de experimentar tudo, possível, finalmente. Meu único receio é de que essa presença maciça da tecnologia e que permite que a criança vivencie virtualmente você ser bombeiro, policial, que este excesso de realismo da tecnologia acabe comprometendo, de alguma maneira, a imaginação destas crianças.