Por que incluímos a Etiópia no nosso roteiro de viagem? Bem, um país onde foi descoberto o mais antigo elo entre o homem e o macaco… só pode ser legal! Foi este o meu primeiro pensamento na escolha da Etiópia como destino.
Pensamento seguinte: um país que tem a terceira forma de Catolicismo, que é o Catolicismo Etíope; tem um dos grandes centros de peregrinação muçulmana, que é Harar; é berço dos Falashas (judeus etíopes, hoje em grande parte emigrados em Israel) e tribos africanas, no Vale de Omo… só pode ser legal!
A Etiópia é um país exótico, distinto de tudo o que existe na África, no Oriente Médio ou na Ásia, e ainda começa a caminhar em termos turísticos, especialmente num turismo “upscale”, com opções mais confortáveis para o viajante. Está mais para mochilão mesmo, mas, sem dúvida nenhuma, para quem quer sair dos destinos superturísticos e conhecer um lugar autêntico, é um destino imperdível.
Quanto tempo ficar na Etiópia?
A Etiópia merece, ao menos, 20 dias de viagem, tamanha a diversidade de locais para se visitar. Como tínhamos somente 10 dias de viagem pelo país, tivemos de optar por um roteiro mais específico e que nos interessava mais. Então, focamos nosso tempo entre Lalibela e a Depressão de Danakil, um dos cenários mais inóspitos e instigantes de todo o mundo. A maior parte da viagem pode ser feita por conta própria. Somente a Depressão de Danakil deve ser feita com agência de viagens, pois é impossível de outra forma. É também possível contratar carro com motorista para se chegar a alguns destinos. Optamos por fazer quase tudo com a ETT www.ethiotravelandtours.com com trechos aéreos e terrestres.
Roteiro de viagem pela Etiópia
Adis Abeba
Capital, é a porta de entrada no país. Tem o maior mercado da África, o “Mercato”, assim chamado pelas infrutíferas tentativas de colonização italiana e que merece uma visita. Dentro de uma gama de atrações da capital, incluímos as visitas a três pequenos museus, sendo que um deles para ver a cópia da ossada da Lucy, visita à catedral ortodoxa e beber o delicioso café etíope no “TOMOCA” café. Com tantos outros lugares interessantes no país e tendo o dia bem aproveitado, um dia é o suficiente para dar uma geral na cidade.
Lalibela
É o principal destino turístico da Etiópia. Está a 640 km ao norte da capital, Adis Abeba, e é a melhor opção para se chegar até lá é voando pela Ethiopian Airlines, que tem voos diários. No entanto, é possível também viajar de ônibus ou mesmo de carro alugado com motorista.
Como 70% da população etíope é católica, Lalibela é o maior centro de peregrinação do país. Monoblocos de igrejas esculpidas em arenito abaixo do nível do chão formam um conjunto de 14 igrejas impressionantes que constituem um Patrimônio Cultural da Humanidade.
Ficamos dois dias em Lalibela, sendo que no segundo dia visitamos um mosteiro encravado na rocha a 6 quilômetros da cidade.
Outra opção de passeio é uma caminhada pela montanha para visitar igrejas encravadas nas rochas, mas que, naquele momento, foi inviável, pois a estrada estava bastante comprometida para se aproximar do local. É aconselhável pegar um guia local para melhor absorver o entorno.
Sábado é o dia do mercado. Todas as pessoas que vivem nas redondezas se dirigem à cidade para vender seus produtos. Na verdade, a forma da troca comercial praticada é basicamente o escambo. É um mercado exuberante, com um povo muito alegre e que ficou muito curioso com a nossa passagem por lá, cumprimentando e fazendo muitas brincadeiras.
A cidadezinha tem várias opções de hotelaria e pousadas, mas se a ideia for presenciar o Natal etíope, que acontece em janeiro, é preciso reservar com bastante antecedência, pois a cidade fica abarrotada.
Existe uma limitação grande de restaurantes, ou mesmo compra de produtos em mercadinhos.
O prato nacional é a “Injera”, um tipo de panqueca cinzenta e esponjosa feita de teff (grão originário da Etiópia) com diferentes recheios. O mais popular e nosso preferido era o “Shiro Tagamino”, no qual a injera é recheada pelo que parece ser um pirão de feijão apimentado. Não encontramos frutas e verduras com frequência.
Mekele
É a cidade de entrada para a Depressão de Danakil. De Lalibela para Mekele, ao norte, fomos de carro, e foi uma viagem maravilhosa, pois tivemos a sorte de passar o Ano Novo Etíope (2010 para o calendário local) “on the road” por inúmeras vilas onde o povo estava em festa total. Homens e mulheres muito bem-vestidos e todos na rua comemorando com vizinhos e parentes.
Depressão de Danakil
Fica no deserto de Danakil, um dos lugares mais inóspitos e quentes do planeta. Ao norte da Etiópia, no chamado Chifre Africano, e em cima de uma fenda na crosta terrestre, que torna esta região conhecida como o “inferno na terra”. Uma gigantesca planície a 160m abaixo do nível do mar, salpicada de formações de sal, sulfetos e enxofre, cuja atividade vulcânica é uma das maiores de todo o planeta. Isto unido às altas temperaturas pode chegar a 60 °C.
Optamos pelo tour mais longo, de quatro dias, pois não queríamos apressar a visita. Foi muito interessante, porém exaustivo fisicamente. A empresa de turismo peca em não informar adequadamente aos viajantes as condições da viagem, pois, por duas noites dorme-se ao relento, sendo que numa delas em um lugar absolutamente inóspito, sujo, muito quente e sem nenhuma espécie de banheiro. Ou seja, salve-se quem puder! Já na terceira noite, dorme-se em uma pousada. Num quartão com vários colchões no chão, banho de canequinha e privada turca. Neste momento, achei que estava no paraíso diante do que tinha passado nas outras noites.
A paisagem é deslumbrante, e o ponto alto do passeio é a caldeira do vulcão Erta Ale. Chega-se ao acampamento militar, na base do vulcão, por volta das 5 da tarde e às 8 da noite inicia-se a subida de 10km para a boca do vulcão. A subida é de uma inclinação relativamente leve, mas é feita no escuro munido de uma lanterna, e muito calor. O problema maior é a velocidade da subida, que é quase correndo, uma vez que a visita lá em cima tem de ser feita no escuro para apreciar a beleza. Dorme-se por três horas novamente ao relento, e a volta deve ser feita ainda no escuro, pois com o calor do dia se torna insuportável.
Tenho 62 anos e meu marido 63, e nos consideramos “fitness”. Todo o resto do grupo tinha menos que 35 anos, então achei melhor alugar um camelo para fazer as 3 horas de subida (que também não foi fácil). Meu marido, que fez tudo a pé, disse ter sido muito cansativo. A descida preferi fazer a pé, uma vez que já estava sentindo as 3 horas em cima do camelo do dia anterior.
Este é um dos quatro lugares do mundo onde se pode observar um lago de lava tão de perto, a 50 metros abaixo da boca.
Fiquei extasiada, sentindo-me muito pequenininha diante desta natureza tão exuberante. Mas absolutamente plena e muito, muito feliz!
Este foi, sem dúvida, o melhor da viagem! Além do vulcão ativo, outros pontos surreais que compreendem essa viagem são os lagos ácidos com tons em amarelo e verde, os gêiseres; e o lago Assal, área de extensão de sal, no qual a extração do mineral é a principal atividade econômica dos Afar, povo que ali habita.
Demais destinos turísticos pela Etiópia
Conversando com outros viajantes, todos mochileiros, eles foram unânimes em dizer que Gondar e Axum (destinos turísticos) foram uma roubada. Contudo, para quem gosta de “hiking”, a “Siemen’s mountain” parece ser uma boa opção. Pela limitação de tempo, não pudemos incluir nesta viagem Omo Valley, ao sul do país, na fronteira com o Quênia, o que foi uma pena.
Segurança
Apesar de ser um país pobre, mas em franco desenvolvimento (graças a grandes investimentos da China), a Etiópia é um lugar bastante seguro para viajar. As diversas religiões convivem de forma harmoniosa, o que é motivo de orgulho dos etíopes. Nas regiões de fronteira com a Eritreia, os tours são seguidos com escolta policial para garantir a segurança dos viajantes.
SOBRE A AUTORA:
Debora Patlajan Marcolin, médica, 62 anos, muito curiosa com relação à diversidade cultural do nosso planeta. Viajo desde que me conheço por gente e tudo me atrai. Desde a minha vizinhança pobre de Carapicuíba até as cerimônias fúnebres de Tana Toraja, na Indonésia, passando por paraísos naturais, como o Pantanal Mato-Grossense e deserto do Jalapão. Já conheci por volta de 70 países e não paro de projetar novos destinos. Entendo que, para se viajar é preciso estar de peito aberto e abandonar qualquer tipo de preconcepção, que, com certeza, a viagem vai te provocar profundas mudanças internas e gosto pela vida.