O novo documentário de Aurélio Michiles, Honestino, reconstrói a trajetória de Honestino Guimarães, líder estudantil desaparecido durante a ditadura militar, e foi selecionado para o Festival do Rio, um dos eventos mais importantes do calendário audiovisual brasileiro.
Presidente da UNE e um dos maiores símbolos da resistência contra o regime militar, Honestino foi preso e desaparecido em 1973, aos 26 anos de idade. Sua história é recontada por meio de cartas, poemas, imagens de arquivo e depoimentos de familiares, amigos, políticos e militantes, além de cenas ficcionais interpretadas por Bruno Gagliasso.

Com produção de Nilson Rodrigues e fotografia de André Lorenz Michiles, o filme tem direção de arte de Kita Flórido, que já havia colaborado com Michiles em O Cineasta da Selva. Nesta entrevista, ela fala sobre o processo criativo, a parceria com o diretor e a relevância de trazer Honestino de volta à cena no Brasil de hoje.
- O filme Honestino trata de uma figura histórica e simbólica. Como você traduziu esse peso político em escolhas de cenografia, cores e ambientação?
O momento histórico foi determinante, mas não no sentido de uma reconstituição rígida. A frase do Ailton Krenak, “o futuro é ancestral”, nos guiou. A direção de arte buscou pontuar o contexto histórico, mas de forma sutil, quase como uma linha tênue de tempo. A ideia era mostrar que o que é hoje já foi ontem, e que o ontem continua vivo no hoje. -
A direção de arte muitas vezes constrói uma ponte entre passado e presente. No caso de Honestino, quais elementos você quis preservar da época retratada e quais trouxe como uma leitura contemporânea?
Preferi não separar com dureza o passado e o presente. Há elementos que remetem diretamente ao período histórico, mas eles não aparecem como peças de museu. Surgem como presenças ainda ativas, dialogando com o agora. É uma fusão, um espaço de continuidade. - Você já havia trabalhado com Aurélio Michiles em O Cineasta da Selva. Como foi reviver essa parceria agora em Honestino?
Foi uma parceria criativa muito natural. A gente se entende, cria junto, existe confiança mútua. Em O Cineasta da Selva já tínhamos essa sintonia, e em Honestino isso voltou de forma ainda mais forte. Para quem gosta de história, trabalhar e conversar com o Aurélio é incrível — é uma aula de história a cada minuto. E, desta vez, trabalhei com o André Lorenz Michiles, diretor de fotografia do filme e filho do Aurélio, e tivemos uma ótima sintonia; ele é brilhante, rolou muita conexão. - Qual a relevância de Honestino hoje?
É um filme que fala de memória, resistência e futuro. A história do Honestino não é só do passado, ela ecoa no presente e nos ajuda a pensar o Brasil de hoje. O documentário é relevante porque lembra que luta e esperança caminham juntas, e que a memória não é só lembrança, é também ferramenta de transformação.