Seu trabalho inclui escultura, instalação e pintura. Uma das características de sua obra é o uso de materiais que variam amplamente, de sangue, pão e flores, a mármore e aço inoxidável. Ganhou destaque no início dos anos 1990, quando ele e vários colegas artistas redefiniram o que era fazer e experimentar com a arte contemporânea. Marc faz arte sobre o que é ser uma pessoa que vive no mundo hoje. Sua obra questiona o relacionamento do homem com a natureza e como isto é mediado pelo desejo humano. Também dialoga sobre o que identidade e beleza significam e por que as pessoas são compelidas a transformá-las. Outro tema comum é história social atual. Seu trabalho também se conecta com frequência e de forma significativa à história da arte, desde mestres modernos até a antiguidade. Quinn fez exposições individuais no Museu de Sir John Soane, na Tate Modern, na National Portrait Gallery, em Londres, na Fundação Beyeler, em Basileia, na Fondazione Prada, em Milão, e na South London Gallery.

VAMOS OBSERVAR
Uma Onda de Poder (Jen Reid), 2020
Escultura em resina
Bristol, Inglaterra

O artista ganhou as manchetes mundiais recentemente, quando colocou uma estátua sua, da manifestante Jen Reid, em um pedestal que estava vazio em Bristol, Inglaterra. O espaço antes era ocupado por um monumento a Edward Colston, um comerciante de escravos do século XVII. Foi derrubada por manifestantes do Black Lives Matter e jogada no porto durante os protestos que sucederam o assassinato brutal de George Floyd, sob o joelho de um policial supremacista. Mas a estátua teve vida curta na cidade. As autoridades removeram a obra cerca de 24 horas após sua montagem. Em uma declaração, Marvin Rees, prefeito de Bristol, disse que a estátua havia sido “obra e decisão de um artista de Londres” e que “não foi solicitado e não foi dada permissão para a instalação da mesma”. Ativistas de todo o mundo pedem a remoção de monumentos em homenagem às figuras que defendiam opiniões racistas e colonialistas. O plano para a substituição permanente do monumento ainda não foi anunciado pelo conselho da cidade de Bristol. Em um comunicado divulgado, Quinn disse que seu trabalho foi desenvolvido em colaboração com a própria retratada na escultura, a ativista Jen Reid. Contou que não foi criada como uma solução permanente para a demanda social pela remoção da estátua e sim para chamar atenção ao racismo institucionalizado.  A estátua do escravagista havia sido derrubada em junho e Jen, na ocasião, subiu na coluna deixada vazia e levantou o punho cerrado. A pose foi tão icônica, que inspirou Quinn a esculpir a mulher em tamanho real. Reid explicou que sua espontaneidade em subir no lugar da estátua reverencia aqueles que vieram antes dela, as crianças negras e suas famílias. Também foi um momento para dar voz a George Floyd e a pessoas negras como ela, que sofrem injustiças e desigualdades sociais calcadas pelo racismo estrutural.

A escultura de Quinn gerou muitas controvérsias. Em um artigo do Art Newspaper, com a manchete “O problema da escultura Black Lives Matter de Marc Quinn”, o artista Thomas J. Price argumentou que Quinn, que é branco, não era o mais adequado artista para substituir o monumento derrubado. “Um exemplo genuíno de aliança”, escreveu Price, “poderia ter sido dar o suporte financeiro e as instalações de produção necessárias para um jovem artista local, negro, fazer a substituição temporária.” Muitos outros elogiaram o trabalho, incluindo a própria Jen Reid, que disse que estava “cheia de orgulho” por ser imortalizada de tal maneira.

O que significa retirar estátuas de escravocratas do espaço público? Estátuas de personalidades históricas, que atualmente seriam julgadas pelos mais diversos crimes, habitam cidades no mundo todo. Por aqui, uma das mais conhecidas e criticadas é a do bandeirante Manuel de Borba Gato, localizada na capital paulista. O bandeirante era conhecido por escravizar e caçar indígenas, o que gera discussões sobre o simbolismo de se manter uma estátua em sua homenagem na maior cidade do país. A mesma hoje está protegida por uma grade.

Derrubar qualquer símbolo da escravidão de africanos, indígenas ou de qualquer outro grupo, não é, de forma alguma, destruir a história. Esta continuará a ser narrada a partir das pesquisas sérias que centenas de estudiosos especializados realizam dia após dia. A história destes personagens deve, sim, estar nos livros de história e ser passada para as próximas gerações. Homenageá-las com monumentos significa perpetuar o racismo estrutural que causa tanta dor e injustiça para tantos, mundo afora. A derrubada de estátuas deve acompanhar mudanças de posturas na sociedade como um todo, promoção à educação antirracista e representatividade nos espaços intelectuais, profissionais, socioeconômicos, políticos, culturais e midiáticos de importância.

 


Por Milenna Saraiva, artista plástica e galerista, formada pelo Santa Monica College, em Los Angeles.

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