Elisa e Fabio Picoli moram em Dubai, mas estavam nos Estados Unidos à procura de uma casa, quando o Sheik proibiu a entrada e a saída de qualquer pessoa (sendo turista ou residente) nos Emirados Árabes Unidos. Barrados no aeroporto, estão há quase um mês vivendo em um hotel, a quilômetros de distância dos filhos que ficaram no Oriente. Com esta história, damos sequência à série de reportagens com granjeiros que contam para a gente como estão enfrentando a pandemia por aí.

 

O casal Fabio e Elisa Picoli

Há alguns meses, Elisa Bacchi Picoli – ou Lili, como os amigos a conhecem na Granja Viana – recebeu a feliz notícia que seu marido Fabio seria transferido de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para Dallas, no Estado americano do Texas. “No dia 13 de março, um pouco antes da explosão do covid-19, eu e meu marido viemos procurar e comprar uma casa em Dallas. Nossos filhos, por conta dos estudos, ficaram em Dubai, onde moramos há 2 anos. No dia 20 de março, que seria o nosso retorno, infelizmente fomos barrados no aeroporto, não podendo voltar. O Sheik tinha proibido a entrada e a saída de qualquer pessoa, sendo turista ou residente. Foi um choque”, relembra ainda emocionada.

Sim, desde que os casos de coronavírus começaram a crescer por lá, o governo adotou uma série de medidas, definindo uma lista de regras a serem seguidas. Assim como o restante das cidades dos Emirados Árabes Unidos, Dubai está sob toque de recolher noturno desde 26 de março. A mobilidade será restrita e ações legais são tomadas contra quem violar a decisão. Supermercados, farmácias, serviços de entregas de alimentos e remédios continuam a operar normalmente, mas as pessoas só podem sair de suas casas para propósitos essenciais e apenas um membro da família pode sair por vez. Metrô e trem estão suspensos e ônibus gratuitos e descontos de 50% no serviço de táxi são fornecidos durante o período de isolamento. Testes foram intensificados em toda a cidade e os aeroportos, fechados.

Uma foto tirada por um drone mostra uma praia deserta em Dubai. Os Emirados Árabes Unidos fecharam suas principais atrações turísticas e culturais, incluindo parques e praias, além de suspenderem a emissão de vistos para estrangeiros e outras medidas (Foto: Mahmoud Khaled/EPA/BBC)
Os filhos Duda e Enzo

Por conta destas medidas severas, Elisa não vê os filhos – Duda, de 21 anos, e Enzo, de 14 – há mais de um mês. “Mesmo nossa filha mais velha tendo 21 anos de idade, qualquer família em um momento como esse, deseja estar juntinho no ninho. Não acreditávamos no que estava acontecendo, demorou para cair a ficha, mas quando recebemos a notícia de que seríamos obrigados a ficar preso em Dallas por mais alguns dias, percebemos que a situação era mais séria do que imaginávamos”, conta. Os filhos se apavoraram no primeiro momento, mas depois de um tempo, sem ter saída, deram as mãos e seguiram em frente “mais fortes do que nunca”, de acordo com a mãe. Graças à tecnologia, pais e filhos conseguem se comunicar bastante e, mesmo com a diferença de 9 horas no fuso horário, estão “mais unidos do que nunca, apesar de muitas vezes ficarmos tristes e chorosos”.

Com o passar dos dias – que “demora muitoooo para passar”, faz questão de frisar -, todos começaram a enxergar o lado positivo da situação. A Duda tem surpreendido como “dona de casa”. “Ela e o Enzo, com certeza, estão mais unidos. Eles comentam sobre a falta que fazemos e dizem que não faziam ideia de como o trabalho doméstico é duro. Ou seja, garanto que valorizarão em dobro o que fazemos por eles (risos)”, comenta. Lá em Dubai, nesse tempo de confinamento, os jovens estudam on-line todos os dias, cuidam da casa e dos cachorros e fazem exercícios em casa para manter a forma e a cabeça relaxada.

Enquanto isso, Elisa e Fabio estão hospedados em um hotel e aproveitam o tempo ocioso para conhecer mais Dallas. “Assim, quando chegarmos de vez, estaremos familiarizados com o novo lar. Aqui, eu e meu marido vamos todos os dias até o condomínio onde compramos a casa para caminhar, pelo menos, uns 4 km, também para exercitar, relaxar e o tempo passar mais rápido”, conta.

Ao passo que Dubai está praticamente vazia com a polícia circulando para ver quem está fora de casa e aplicando multa caso necessário, em Dallas ainda é possível ver gente circulando. “Mas todos mantêm uma boa distância. Todos os estabelecimentos estão fechados, a não ser mercados, farmácias e hospitais. Os restaurantes funcionam apenas com pedidos on-line e você pode pegar o seu pedido na porta”, diz.

Apesar de toda esta situação adversa, Lili é categórica em dizer que, mesmo em momentos ruins, devemos tentar extrair o melhor para aprender algo de bom. “Agora é hora de darmos as mãos. Que as famílias mais afetadas possam se reerguer logo e que muitos possam ter um maravilhoso recomeço de vida quando essa tormenta passar”, finaliza.

Por Juliana Martins Machado

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