Na Revista Circuito de maio escrevi, na minha coluna, sobre as dificuldades pelas quais passei para conseguir trocar de carro. Uma verdadeira novela com final infeliz, passando por três marcas, várias concessionárias e um péssimo atendimento. A coluna teve enorme repercussão. Vários leitores me contataram para contar casos semelhantes de mau atendimento, dificuldade na troca e falta de transparência nas vendas. Todos relataram suas maratonas, muito parecidas com a minha. Até um diretor de montadora multinacional me procurou para trocarmos ideias sobre essas questões. Em resumo, trocar de carro no Brasil é uma lástima. As montadoras e concessionárias pararam no século passado e usam táticas de venda pra lá de manjadas. Essa atitude é fruto de um tempo no qual a procura era maior que a oferta (quem não se lembra do ágio?), quando os fabricantes tinham a faca e o queijo nas mãos para esfolar o pouco exigente consumidor brasileiro. Continuamos pagando caro por um produto de qualidade inferior aos vendidos em outros países, somos mal atendidos e quase não reclamamos. Mas o consumidor vem mudando, os tempos são outros, a crise se instalou, mas ainda somos atendidos por velhacos profissionais. E não é só nessa área que o bicho pega. Infelizmente, a coisa é contagiante. Tente comprar um celular numa operadora qualquer. Fiz durante 32 dias 36 ligações para a TIM, uma por dia, tentando comprar um iPhone. Nunca tinha, nunca chegou e jamais chegará. Em compensação, tenho 36 números de protocolos, que pretendo empacotar e mandar de presente para o Procon. Um amigo comprou duas passagens aéreas da Azul. Por uma questão de saúde, teve de cancelar a viagem. Determinação médica, com declaração por escrito e tudo. De nada adiantou. Não é possível transferir as passagens para um familiar, se adiar paga multa e se cancelar idem. Alguém já tentou trocar os pontos da Multiplus por uma passagem aérea? É uma epopeia. Exigem várias senhas, códigos secretos, transferem seus pontos para uma nuvem negra virtual inalcançável e criam dificuldades intransponíveis. Em plena era virtual, a oferta de internet residencial permanece na idade da pedra. Não existe em vários locais e, quando existe, não entregam o prometido e/ou a maldita cai constantemente. Outro desserviço são os sites de e-commerce, que escondem o telefone para contato. Finalmente, quando você descobre e liga cai numa espera interminável que depois se transforma numa pegadinha de números para teclar. Isso quando não cai a linha. Ou seja, verdadeiros ditadores sapateando na nossa inteligência. E os serviços públicos? CarapicuÍndia e Crotia disputam o troféu da pior prefeitura. Má iluminação das ruas, buracos, trânsito caótico, assaltos e outras barbaridades marcam as administrações dos novos velhos prefeitos, onde só os radares e a cobrança do IPTU funcionam perfeitamente. Não é só nas grandes empresas que o vírus do mau atendimento contagia. Quem está construindo ou reformando sabe do que estou falando. O pintor desbotou e sumiu, o eletricista está em choque e não apareceu, o marceneiro é um cara de pau, o encanador é um enganador e deu o cano, o jardineiro desabrochou e desapareceu, e a reforma não anda. Marido de aluguel? Cuidado, alguns pediram divórcio do ofício. E numa linda manhã de sábado a Eletropaulo resolveu fazer uma instalação na rua e cortou a energia por 12 horas, bloqueou ruas e acessos da região sem avisar ninguém e tumultuou a vida de milhares de pessoas, como se não houvesse amanhã. Parece que as empresas não precisam vender e muita gente não quer trabalhar direito no país dos 14 milhões de desempregados.
Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas.