Por Mônica Krausz
Um projeto de reintrodução de aves na natureza, passarelas aéreas de travessia para animais, uma estação de tratamento de águas e esgotos, coleta seletiva, sinalização anti-velocidade, um atlas local de fauna e flora, educação ambiental, ações na justiça para defender uma APA (área de preservação ambiental), o esforço para impedir invasões e mais desmatamentos.
Quem vive em condomínios, bolsões e associações de moradores da região provavelmente convive com estas questões pois, felizmente, ainda temos muita fauna e flora para curtir e preservar. A reportagem da Revista Circuito conversou com moradores, biólogos, diretores de associação e gerentes administrativos de alguns dos principais residenciais da região para saber como eles convivem e lidam com o meio ambiente local. O resultado é uma reunião de ideias bacanas que podem ser compartilhadas para que uns inspirem novos projetos para os outros.
Residencial Vila Verde – Itapevi
Bem na divisa entre Cotia e Itapevi, acesso pelo km 36 da Rodovia Raposo Tavares, essa Associação de Moradores tem mais de 30 anos e está dentro de uma APA (Área de Preservação Ambiental) de Itapevi, dentro do Cinturão Verde do Estado de São Paulo. Com 1.245 milhão m2 e 742 residências, é modelo para muitos outros residenciais já que tem trabalhos bacanas como o Projeto Asas, de reintrodução de aves e outros animais silvestres em sua área.
O Residencial também tem passarelas aéreas nas ruas principais para travessia de animais silvestres, tem uma bióloga contratada para atender questões ambientais na associação de moradores, uma estação própria de tratamento de água, coleta seletiva (4 mil toneladas de recicláveis por mês), coleta de podas (45 toneladas por mês), entre outras ações ambientais.
De acordo com a bióloga Juliana de Lima Cianfa, contratada pela Associação, hoje os proprietários que ainda vão construir devem preservar cerca de 30% de seus terrenos e esse percentual aumenta se houver nascentes. Além disso, o Residencial possui diversas áreas de preservação onde não se pode construir nada, as chamadas “áreas verdes públicas”. Essas áreas servem de refúgio para as espécies de fauna nativa presentes na APA. “Para construir aqui o proprietário precisa de diversos laudos e aprovações, inclusive da CETESB”, explica Juliana.
O Projeto Asas, realizado há mais de 10 anos no Residencial recebe do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS – Barueri) animais resgatados pela polícia ambiental ou bombeiros e reabilitados para reintrodução na natureza, já que o Vila Verde também é uma Área de Soltura e Monitoramento de Fauna Silvestre na região. Os animais chegam, ficam alguns dias em quarentena em uma sala especialmente construída no Residencial para isso e, em dia de soltura de aves, por exemplo, aproveita-se para realizar educação ambiental com as crianças, chamadas para participar e aprender a importância da preservação e do cuidado com os animais. “90% dos animais que recebemos do CETAS são aves”, conta Juliana, “de pequeno médio e grande porte como canários da terra, sabiá laranjeira, bigodinho, coleirinha, trinca-ferros, tucano-do-bico-verde, maritacas, entre outras”, acrescenta. Segundo Juliana outros animais como bichos-preguiça também já foram trazidos para reintrodução. “De 2015 a 2017 foram soltos 4 bichos-preguiça em nossa área de preservação”, relata. Nos arredores do residencial já se observou a presença de veados catingueiros e até grandes felinos. Mas dentro perímetro do Vila Verde, a população de quatis e saguis do tufo branco são as que mais se multiplicam já que os quatis não têm predadores naturais na área. “O predador do quati seria a onça”, conta Juliana. Os saguis-do-tufo-preto não são naturais da região, foram introduzidos e se alastraram.
Outras atribuições da bióloga contratada são retirar animais que invadem as residências como saruês, ouriços, lagartos, quatis, colmeias de abelhas e marimbondos, cobras entre outros e recolocá-los nas áreas de soltura. Encaminhar animais feridos para o CETAS de Barueri. Acionar bombeiros, zoonoses ou polícia ambiental, em caso de ocorrência de morcegos em residências, já que podem transmitir raiva. Avaliar e autorizar podas, fazer plantio de mudas (paineiras, açaí, pau-formiga, ipês-amarelos, entre outras), que são cultivadas em um viveiro próprio do residencial. No parquinho infantil, da área de recreação, Juliana identificou as árvores com plaquinhas para que as crianças aprendessem o nome das mesmas.
Jardim Algarve – Granja Viana – Cotia
Com uma área de cerca de 300 mil m2, 104 residências e 145 lotes, o Residencial Jardim Algarve, tem uma grande área de preservação com lago, também chamada de área de recreio, com 29 mil m2 onde já foi realizado um profundo estudo de identificação de fauna e flora locais por um engenheiro agrônomo contratado pelo Associação de Moradores para ter esse mapeamento registrado.
Segundo a moradora e Diretora de Meio Ambiente do Residencial, Mariângela Sepulveda, este mapeamento realizado resultou na publicação, em 2012, do
Atlas Ambiental Jardim Algarve.
Segundo ela, com o desmatamento vizinho, ocorrido recentemente, é nítida a diminuição da presença de aves de grande porte como tucanos e por isso um dos projetos atuais do Algarve é fazer plantio de árvores frutíferas que alimentem estas aves para atraí-las de volta. Também os peixes, aves e mamíferos que habitam a região do lago do Ribeirão Marmeleiro, tem sofrido com o assoreamento que vem ocorrendo após o desmatamento e aterro da obra, que encontra-se embargada.
Palos Verdes – Granja Vianna – Carapicuíba/Cotia
Com área de 564 mil m2 de área total e 130 mil m2 de áreas verdes, também chamadas de Áreas de Recreio, onde há três lagos, dois parquinhos infantis, uma quadra e um Parque Ecológico com área de mata nativa intocada de 30.800 m2, o Palos Verdes é um dos Residenciais mais antigos e conhecidos da região. Bem na divisa entre Cotia e Carapicuíba, tem 2/3 de sua área em Carapicuíba e 1/3 em Cotia. São 299 lotes e 270 casas construídas.
Recentemente um engenheiro agrônomo fez um estudo fito sanitário das árvores para identificar espécimes doentes para substituição por outras árvores saudáveis. “Nós o contratamos para fazer um mapeamento de todas as árvores do Palos, identificamos as que estavam condenadas e com risco que cair e agora estamos retirando essas árvores. Para cada árvore retirada nós replantamos várias”, conta Stela M. F. Nabuco de Abreu, diretora de meio ambiente do condomínio. “Em setembro nós plantamos 103 novas árvores no residencial a partir deste estudo do agrônomo”, conta Jonnas Severiano gerente do condomínio.
E nestas ocasiões de replantio, chamam as crianças do condomínio para realizar um trabalho de educação ambiental. “Algumas árvores até recebem os nomes das crianças para incentivá-las a cuidar do meio ambiente e preservá-las”, conta Stela. “Nós investimos bastante em reflorestamento porque este é um condomínio pra quem gosta de natureza”, ressalta. Segundo ela, recentemente também foi conquistada uma autorga por 30 anos junto à prefeitura para desassoreamento e manutenção do lago principal, onde há muitos patos, gansos e até cisnes negros, além dos peixes.
Fazendinha – Granja Viana – Carapicuíba
Um dos maiores bolsões da Granja Viana, o Fazendinha possui 1954 unidades – entre residências e terrenos ainda por construir – divididas em 15 loteamentos de diferentes tamanhos, ocupando uma área de 3 milhões de m2, sendo 600 mil m2 de área de preservação ambiental, totalmente nativos. O bolsão tem 70% do seu perímetro circundado pelo Rio Cotia, Ribeirão Vargem Grande e outros córregos que os abastecem.
As áreas de preservação abrigam uma grande quantidade de espécies de animais, algumas raras, como o veado campestre, o tatu bola, tucanos, gaviões, esquilos, saruês, lagartos, cobras, entre outros. O Bolsão já foi palco de estudos e pesquisa pelos órgãos municipal e estadual, e é frequente o encaminhamento de animais silvestres a entidades especializadas no tratamento e recuperação. O engajamento de muitos moradores nos cuidados para com esses animais é algo que merece destaque.
Segundo Monika Sengberg, diretora administrativa e de comunicação, uma das maiores preocupações da associação é a preservação desta rica fauna e flora. Os desafios são muitos e vão desde a contenção de invasões, o combate à queimadas, a inibição de descartes irregulares até a prevenção dos atropelamentos de animais.
Visando a proteção dos animais, frequentemente vistos nas ruas, foi recentemente reduzida a velocidade limite para 30 km/h em todo o bolsão. Adicionalmente, está previsto, para esse ano, um estudo técnico de todo o sistema viário do bolsão que pretende trazer novas propostas e soluções para um fluxo mais seguro dos animais, pedestres e ciclistas.
A pressão demográfica nas áreas limítrofes do Bolsão é uma das questões mais preocupantes, e para atuar nessa questão, a Fazendinha licenciou, junto às secretarias municipais e demais órgãos competentes, a solidificação do cercamento de seu perímetro protegendo assim as áreas de preservação em seu entorno. Essa obra é acompanhada da recuperação de áreas verdes degradadas no local. Em 2017 foi realizado numa dessas áreas, com o apoio da Prefeitura e participação dos moradores, o plantio 1.000 árvores nativas da região. Outros projetos de reflorestamento estão em fase de estudo.
Jardim Colonial – Granja Viana – Carapicuíba
Com 22 residências e 20 mil m2 de áreas verdes, o Residencial Jardim Colonial, na Chácara São João, também tem problemas ambientais em suas divisas. Tanto que a área verde original era de 25 mil m2. “5 mil metros pertenciam à Prefeitura e foram invadidos”, conta Regina Bucco, Presidente da Associação de moradores. Segundo ela, os vizinhos danificam os muros de contenção, jogam lixo por cima do muro, despejam a fossa no córrego local, entre outros problemas. “Nós fizemos um muro com 140 metros de extensão e 5 metros de altura e nem assim conseguimos conter as depredações e invasões”, conta.
Chácaras do Lago – Granja Viana – Carapicuíba
Recentemente, de acordo com a moradora Ivete Glinglani, tiveram problemas com atropelamentos de animais silvestres como saruês e saguis, mas uma mobilização dos próprios moradores em um grupo interno de Whatsapp surtiu bons efeitos. Ivete chegou a resgatar um saruê atropelado e então a polêmica começou.
“Alguns moradores achavam que os saruês eram ratões e a gente começou a explicar sobre a função deles na natureza”, conta. “Depois começamos a propor ideias sobre redução de velocidade, confecção de folhetos informativos, entre outras ações e as discussões duraram cerca de uma semana”, conta. Segundo o síndico geral Francisco Arruda, a velocidade nas ruas do bolsão foi reduzida para 20 km/h e é respeitada por pelo menos 80% dos moradores, os outros 20% ainda precisam de conscientização.
O fato é que desde que as discussões sobre atropelamentos e resgate de animais começaram no whatsapp o Chácaras do Lago não teve mais atropelamentos.
“Hoje os moradores usam o grupo para falar de avistamentos de espécies de fauna como corujas e saguis na área do condomínio ou nas residências”, comemora Ivete, que acredita que mais ações educativas deveriam ser realizadas pelos condomínios e pelos órgãos públicos, pois muitos moradores novos, que vêm de São Paulo, desconhecem os procedimentos corretos e acabam prendendo, envenenando, matando animais que poderiam ser soltos em outros espaços.
Vintage Arte de Morar – Granja Viana – Cotia
Muito moderno, o Vintage Arte de Morar, possui um clube com área de 15 mil m2, rede subterrânea de energia elétrica e comunicação, o que lhe confere uma paisagem limpa e sem interferência de fiações aéreas. Abastecido de água pela Sabesp, tem como destaque ambiental uma estação própria de tratamento de esgoto e água de reuso que serve os empreendimentos Vintage Arte Morar (residencial) e Vintage Offices (comercial). Faz coleta seletiva de lixo e mantém programas de preservação e replantio de mudas de espécies nativas nas áreas verdes do empreendimento.
Alphaville – Granja Viana – Carapicuíba
A reportagem da Revista Circuito não obteve retorno da administração do Residencial Alphaville Granja Viana, mas sobre a sua relação com o meio ambiente cabe ressaltar que a instalação do Centro de Educação para Sustentabilidade – CES Carapicuíba, foi uma contrapartida ou compensação ambiental da Fundação Alphaville, para a Prefeitura de Carapicuíba em função do desmatamento realizado na região para implantação do empreendimento.
Com a realização do empreendimento, a Fundação Alphaville doou para a Prefeitura de Carapicuíba uma área de 300 mil m2, com nascentes: o Parque das Nascentes. E dentro deste novo Parque Municipal, foi construído o CES, que foi inaugurado na semana do meio ambiente, em 2017. O acesso ao CES e ao Parque, que tem visitação controlada e monitorada acontece pela Avenida São Camilo, 968.
No CES são realizada ações importantes como a formação de agentes ambientais mirins, com alunos de 5º ano das escolas públicas da região, estimulando-os a serem multiplicadores de informações ambientais por onde passarem; Viva o Verde nas Férias, com ações de educação ambiental em pontos de grande movimento da região; o Corredor Verde para Polinizadores, em parceria com o Transition; o Simpósio de Educação Ambiental, entre outras. O Espaço do CES hoje também é sede do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Carapicuíba, tem trilhas, viveiros, horta e orquidário.