O brasileiro fuma uma média de 17 maços de cigarro por ano. O custo chega a quase 18% do salário mínimo. Os dados, apresentados pelo Ministério da Saúde, ainda apontam que 428 pessoas morrem por dia no Brasil por causa da dependência de nicotina. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o país soma mais de 28 mil novos casos de câncer de pulmão por ano – 90% deles ligados ao cigarro. Mesmo assim, há cerca de 18 milhões de fumantes ainda hoje no país, o oitavo com mais fumantes no mundo.
Para entender a complexidade que envolve o problema e alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou o Dia Mundial Sem Tabaco. Relembrada nesta sexta-feira (31), a data visa conscientizar sobre o impacto negativo que o uso do tabaco causa.
Mas parar de fumar não é tão simples assim. O psiquiatra Dr. João Paulo Lian Branco Martins explica que por ser o tabagismo uma dependência química, deixar de fumar traz desconfortos físicos e psicológicos. “Esses desconfortos são provocados pela abstinência de nicotina. Quando se inala a nicotina, ela chega ao Sistema Nervoso Central entre sete e 19 segundos. Lá, ela modifica o estado emocional do indivíduo, de um jeito muito parecido com o que ocorre com a cocaína, a heroína e o álcool.”
O tabagismo, segundo ele, está relacionado a mais de 50 doenças, entre elas, o câncer, doenças do aparelho respiratório e doenças cardiovasculares. “Os fumantes estão mais sujeitos a úlcera do aparelho digestivo, osteoporose, catarata, impotência sexual no homem, infertilidade na mulher, menopausa precoce e complicações na gravidez”, complementa.
VIDA SEM CIGARRO
Quando um dependente de nicotina consegue abandonar o vício, os benefícios vêm a curto, médio e longo prazo. De acordo com especialistas, mesmo após anos de tabagismo, bastam apenas 20 minutos sem consumir o cigarro para a pressão arterial voltar ao normal e a frequência do pulso cair a níveis adequados.
Após 24 horas, o risco de se ter um acidente cardíaco relacionado ao fumo diminui e em apenas 48 horas as terminações nervosas começam a se recuperar, e os sentidos do olfato e do paladar melhoram. De duas semanas a três meses, a circulação sanguínea melhora consideravelmente, facilitando caminhar e também ajudando na função pulmonar, que melhora em até 30%.
E foi parando de fumar que a saúde do motorista Alexandre Gaspareto, 49, de fato, melhorou. Após ter fumado por cerca de 20 anos, há quase uma década o cigarro não faz mais parte do seu dia a dia.
Ele conta que por ter comido carne de porco em uma festa de final de ano, e consequentemente ter passado mal por isso, é que largou de vez o vício. “Provavelmente, a carne estava mal assada”, relembra. “Depois disso, eu pegava um cigarro e, ao acender, sentia enjoo e nojo. Aí eu peguei e joguei fora. Disse que não ia fumar mais. Daí em diante, nunca mais fumei”, disse.
Gaspareto diz que hoje se sente bem e as dores, que tinha em outrora, não têm mais. “Eu me sinto muito bem. Eu tinha umas dores no pescoço, nas pernas e espalhadas pelo corpo todo. Me sentia mal, cansado, mas hoje, não. Hoje eu tenho 49 anos e nem parece. Minha saúde está ótima”, afirma.
MINORIA CONSEGUE
Mas casos como o de Gaspareto são mais raros de acontecer. “A maior parte dos fumantes tem muita dificuldade e as recaídas são muito comuns”, diz Dr. João Paulo. E ele tem razão. Segundo uma pesquisa divulgada pela Fundação Para um Mundo Livre de Fumo (Foundation for a Smoke-Free World, no original), apenas 28% dos brasileiros, que tentam parar de fumar, conseguem obter êxito. A maioria, 72%, não conseguiu encontrar os meios para largar o vício.
É o caso do geógrafo Flávio Paiva, 37. Fumante também há cerca de 20 anos, ele tem dificuldades em parar de fumar. Paiva disse que chegou a conseguir parar por um ano, mas voltou ‘simplesmente por hábito’. Recentemente, ficou uma semana sem o cigarro, até pensou que desta vez iria conseguir, mas teve novamente uma recaída.
“Muitas vezes, fico alguns dias sem fumar, principalmente quando estou doente, gripado, etc. Não sinto abstinência, mas volto pelo hábito”, explica.
E o hábito de fumar, de acordo com Dr. João Paulo, é cheio de ações e gestos que passam despercebidos, mas que dificultam muito a abstinência. “Vale a pena conhecê-los, identificar os motivos que levam a pessoa a fumar e pensar em maneiras de evitá-los”.
O psiquiatra explica que, além de apenas contemplar a ideia de parar de fumar, o fumante que decide abandonar o cigarro, deve definir uma data para esse acontecimento. “A partir do dia escolhido, ele deve se afastar de tudo que lembre cigarro, como não andar com maços, nem isqueiros, não ter cinzeiros por perto e evitar os hábitos associados ao tabagismo”.
Fazer exercícios, se alimentar bem e controlar a respiração para diminuir a ansiedade também são fatores importantes. Além disso, ocupar a maior parte do tempo com atividades que exijam concentração, podem auxiliar no tratamento da dependência.
“Depois que se consegue parar de fumar, não se deve deixar a peteca cair. Tabagismo é uma doença crônica. Isso significa que mesmo abstinente, a pessoa continua tabagista. Mesmo depois de meses ou anos, não se deve acender um cigarro ou dar uma tragada. O risco de voltar a fumar é enorme”, ressalta.
E se caso voltar a fumar, isso não significa que seja o ‘fim do mundo’, pois as recaídas são comuns e fazem parte deste ciclo. “São como gols que a gente leva no futebol ou pontos contra nós em partidas de vôlei. Eles acontecem e nem por isso a gente para de jogar. O que devemos fazer é rever as situações de risco e retomar as estratégias para deixar novamente de fumar”, finaliza o médico.
 Por José Rossi Neto

Artigo anteriorMoradora de Barueri recebe prêmio de R$ 1 milhão do sorteio da Nota Fiscal Paulista
Próximo artigoAgenda do primeiro final de semana de junho está imperdível