Nascida em uma família de comunicadores, Letícia Datena iniciou sua carreira profissional como modelo, aos 13 anos de idade. Depois de morar em 7 países, decidiu se dedicar a uma outra vocação, a de comunicadora. Entre o mundo da moda e o do jornalismo esportivo, aos 36 anos de idade, a jovem coleciona mais de 20 anos de profissão. Iniciar uma trajetória tão cedo e com tanta exposição, pela natureza da profissão e pelo sobrenome em evidência no cenário midiático, demandou que a jovem tivesse muita maturidade e foco para alcançar seus objetivos. Sempre determinada e disciplinada, enfrentou vários obstáculos que a fizeram conquistar o espaço que tem hoje, ocupado ainda por poucas mulheres no Brasil e no mundo. Hoje, Letícia é a cara da Stock Car, na Band, e do Automais, no BandSports, comprovando que, em uma área pré-definida como masculina, a mulher pode – e deve, sim! – ter espaço de notoriedade, e abre brechas para que muitas outras também possam desbravar e ocupar o lugar que quiser! Um de seus objetivos para 2023, inclusive, é abraçar jovens mulheres que querem trabalhar com automobilismo e dar aquela força para que alcancem esse objetivo. Nesta entrevista exclusiva, concedida por telefone à nossa equipe, Letícia compartilha toda sua experiência, revela como trocou a passarela pelo asfalto das pistas de corrida e mostra que, apesar do peso da responsabilidade de ser filha de dois grandes jornalistas, Mirtes Wiermann e José
Luis Datena, tem sua própria assinatura.
Você começou a carreira como modelo com apenas 13 anos, em agências importantes mundo afora. Como se encaminhou para o mundo da moda e como lidou com esse desafio sendo ainda criança?
Comecei muito cedo, sim, mas sempre tive a supervisão dos meus pais. Minha vontade de conhecer o mundo e minha paixão por modelar eram maiores que o meu medo. Lidei com esse desafio com muita responsabilidade, tive que amadurecer muito rápido.
Demandou maturidade e foco?
Muito foco em melhorar a cada dia, aprender inglês e espanhol bem. Aprender a criar um bom relacionamento com os clientes. E, claro, morar fora do país sem seus pais demandou muita maturidade e discernimento.
Foram setes países diferentes, dos 16 aos 26 anos de idade, certo?
Sim! Chile, África do Sul, Alemanha, França, Itália, Estados Unidos e México (para e pensa). Foi incrível, conheci outras culturas e aprendi a conviver com pessoas completamente diferentes de mim. Viver em outros países abre a cabeça e a gente começa a entender que o Brasil tem muitas coisas positivas e imbatíveis, mas também entende que, em outros pontos, estamos atrasados. Ajuda a criar um olhar mais crítico sobre as coisas, aprimorar o senso de julgamento e não apenas aceitar o que uma pessoa considerada importante pela sociedade diz como verdade absoluta. Você saiu de uma carreira de sucesso como modelo para o mundo do automobilismo.
Como foi a mudança da moda para o jornalismo esportivo?
Comecei na TV aos 18 anos, na Band, como repórter de alguns programas de entretenimento. Gostei da experiência e fui me aprimorar, estudar. Fiz um curso de jornalismo digital na Nem York Film Academy (escola de cinema norte-americana) e me formei em jornalismo, posteriormente. E aí surgiu a oportunidade de cobrir a Copa de 2014
pela Fox. Como sempre curti esportes, entrei de cabeça, gostaram do meu trabalho e foi assim que tudo começou.
Ser filha de comunicadores, os jornalistas José Luiz Datena e Mirtes Wiermann, teve peso na virada da chave?
Não foi decisivo. Aliás, nunca quis ser jornalista. Mas sempre tive todas as características
de uma! Sempre fui curiosa e questionadora, sempre gostei de ler e, principalmente, de escrever. Mas meus pais sempre me deram muitos conselhos, e me criticaram bastante no começo. Fui aprendendo com as críticas.
Ser filha deles “pesa”?
Não pesa, amo ser filha dos dois! Sou muito consciente da qualidade do meu trabalho,
fruto de muito esforço, assim como tenho a missão de sempre melhorar. Para mim, nada que eu faço é 100%, sempre há margem para melhorar.
Acha que o dom vem da genética?
Não sou especialista em genética! (risos) Acredito que somos um produto do meio. Fui criada com dois grandes jornalistas, formei minha personalidade observando e convivendo com excelentes jornalistas.
Recentemente, você declarou que é “cria do programa do Faustão”. Como?
Eu andava fazendo testes em canais de esportes e não dava certo. Era crua, não tinha experiência. Aí surgiu uma oportunidade de ser repórter do Faustão, ainda na Rede Globo, e ele acreditou em mim. Me colocou ao vivo de cara, deu super certo, e, a partir de aí, começaram a surgir convites das emissoras que antes não queriam me contratar. (para e pensa) Tudo o que você precisa é que alguém acredite em você e te dê uma oportunidade, e o Faustão fez isso. Sou muito grata.

E a paixão pelo esporte, de onde veio?
Da minha personalidade! Sempre gostei de praticar e assistir esportes.
Seu primeiro contato com as quatro rodas foi em 2006 em um evento que o Chile organizou para tentar receber o Mundial de Rally (WRC). Foi amor à primeira vista com os pitstops?
Foi amor ao primeiro ronco de um motor de Rally. (risos) O rally é muito forte no Chile, fiquei impressionada como as pessoas iam acampar nas rotas das especiais para ver os carros passarem. Achei tudo muito radical, muito louco e muito cheio de adrenalina.

A partir daquele momento, seu rosto começou a ficar familiar para os fãs dentro e fora do Brasil, além de ganhar o respeito das grandes lendas do automobilismo, como Ott Tänak, Sébastien Ogier, e Sébastien Loeb. Também começou a fazer parte do cast do Fox Sports, que sempre prestigiou o rali mais temido do mundo, o Dakar. Em 2019, foi uma das poucas profissionais de comunicação do Brasil a cobrir o evento, que estava em sua última edição na América do Sul. Faça um balanço da sua carreira.
Eu lutei demais para dar certo no automobilismo. Tive que estudar muito, às vezes 8 horas por dia, quando entrei no rally. Ia visitar oficinas e ver os mecânicos montando os carros, me interessava por tudo. E foi através dessa paixão e da quantidade de informações que eu trazia nas transmissões, que começou a chamar a atenção do pessoal. Depois de um ano no Rally Mobil, fui cobrir o WRC pela Fox Sports Latin America e, em pouco tempo, comecei
a integrar o time oficial de apresentadores do WRC. O Dakar foi incrível, a melhor experiência da vida.

Já passou por algum perrengue cobrindo competições em condições extremas?
Muitos! (risos) Frio, chuva, falta de sinal nas especiais. Sempre enfrentando condições
adversas, como calor extremo ou neve.
O mundo do automobilismo ainda é predominantemente masculino, embora as mulheres venham conquistando cada vez mais espaço. Depois de tantos anos neste mundo, você
acha que tem ajudado a fortalecer o espaço do público feminino em meio aos roncos dos motores?
Eu espero que sim! Tem meninas que me procuram nas redes sociais, dizendo que se inspiram no meu trabalho e pedem conselhos. (para e pensa) Um dos meus objetivos para 2023 é me organizar para abraçar essas jovens que querem trabalhar com automobilismo e dar uma força como puder, contar quais foram os caminhos que funcionaram para mim, os que não valem a pena. Vem coisa boa por aí.
Já sofreu episódios de preconceito por ser mulher?
Já sim, mas hoje não acontece muito. Eu sempre vi como mais um dos milhares de obstáculos que eu teria pela frente. Acho que a melhor resposta para atitudes machistas é fazer um bom trabalho, trazendo informação de qualidade, admitindo quando não sabe alguma coisa. Hoje, trabalho com homens incríveis e que me apoiam muito. Mas, sim, falta espaço para mulheres no automobilismo.

Você acredita que as mulheres, hoje em dia, estão conquistando mais lugares que nunca
ocuparam?
Sim, acredito!
Mas ainda faltam mulheres dentro dos boxes e das pistas, não é?
Concordo totalmente! (para e pensa) Mas temos mulheres incríveis em vários setores já, só precisamos engrossar esse caldo!

Quais dicas daria para as mulheres conquistarem seu lugar ao Sol, seja na área que for?
Acho que a mulher tem que aprender a se priorizar e não estar de acordo com o que a
sociedade espera dela. Viva de acordo com o que acredita e jamais seja refém de regras que não fazem sentido. Faça os seus planos com base no que te faz feliz, afinal de contas,
a vida é curta demais para viver algo que não te pertence. Cada um é responsável pela
sua própria felicidade.
Agora, vamos falar da Letícia também fora das pistas. Como é sua rotina?
Treino, trabalho muito em criação de conteúdo para a Stock Car, principalmente, mas também para outras empresas, como a ZMatch, a Claro… Eu sou hiperativa. Se não tenho nada para fazer, o que é bem raro, vou redecorar a casa, dar banho no cachorro, procurar destinos incríveis para viajar. Amo viajar e comer bem.
Você é casada com o nutricionista Rogério Oliveira. Ele costuma ajudá-la a manter uma alimentação saudável? Aliás, como é a sua alimentação?
Ele é, certamente, o melhor profissional de nutrição que eu conheço. Com ele, comecei a comer mais, melhor, e o resultado disso foi atingir uma composição corporal com mais massa magra e menos gordura. Meu metabolismo funciona muito melhor, tenho mais disposição. Enfim, ter um nutri desses em casa, ajuda muito!
E a Granja Viana, que lugar ocupa na sua agenda agitada?
Conheço a Granja Viana e frequento sempre que posso. É um circuito icônico para os amantes de kart. Eu mesma já pilotei no Kartódromo Internacional em um evento para jornalistas e amei.
Além de kart, pilota ou pretende pilotar outros veículos de corrida?
Não e nem pretendo.

Pensa em alçar novos voos, como sair da maior competição nacional do automobilismo e partir para uma mundial, como a Fórmula 1, por exemplo?
Tenho apenas 36 anos, espero trabalhar bastante ainda! E, claro, quero continuar evoluindo, estou muito feliz com tudo o que conquistei, mas tem muita coisa para fazer ainda.
Quais seus planos para o futuro?
Evoluir na minha carreira e poder atingir um nível no qual eu possa ter tempo e dinheiro para conhecer o mundo, ao lado da minha família, aproveitando cada minuto dessa jornada.
Por Juliana Martins Machado