Fugindo um pouco do tema “pandemia”, nosso colunista Marcos Sá relembra uma situação inusitada que ocorreu no Festival de Publicidade de Cannes, em 2004.

 

Tudo já foi dito, discutido, escrito, visto e revisto. Até eu, por aqui, acertei em cheio na minha coluna de setembro de 2019, quando escrevi sobre o fim do mundo, que seria causado não pelas guerras nucleares ou por um asteroide gigante perdido no espaço e que se chocaria letalmente com a Terra, mas sim por um ser microscópico e cruel.  Um vírus. Sim, um vírus! Chamei esse monstrinho genericamente de virose! Todo mundo já teve uma. Só que agora a virose tem nome, sobrenome, local de nascimento, RG e passaporte internacional. Coronavírus chinês ou Covid-19. E veio para arrasar, no mau sentido, o nosso já abatido planetinha. Sorte que o mundo não acabou, mas que sofreu, sofreu. E ainda chora. A quarentena virou sessentena, que virou oitentena, cemcentena e sabe-se lá aonde vai parar. Então, agora vamos falar o quê? Qualquer opinião, a favor ou contra, a cloroquina, a ivermecitina, ao isolamento social ou ao fim do confinamento, acaba virando motivo de discussão e inimizades. O inimigo por aqui, não é o vírus, e sim todo aquele cara que tem um ponto de vista diferente do seu. Quando escrevo este texto, ainda estamos quarentenados. Ficar em casa é uma delícia, desde que você queira ficar. Mas quando você é obrigado a ficar, torna-se uma prisão. Mas é o que temos. Então, já que o assunto está esgotado, as boas notícias não chegam e, enquanto a vacina não vem, direto do meu cativeiro, vou mudar de assunto. Lembrar de tempos melhores. Tempos onde as fronteiras estavam abertas e as pessoas podiam viajar, se encontrar, se abraçar e se beijar sem medo de ser feliz.  Vamos deixar o corona de lado e partir para viagens mais empolgantes. Mudando de assunto, mas sem deixar os cuidados de lado. Só para melhorar o astral, que anda muito em baixa. Então, vamos lá, como diria o Boldrin, mais um “causo”. O ano era 2004. O Estadão era o representante no Brasil, do Festival de Publicidade de Cannes, e eu era o responsável no jornal pelo evento. Os representantes de cada país convidavam jurados que iriam compor e avaliar as peças publicitárias, previamente selecionadas. A Riviera Francesa fervia. Cannes era e continua sendo, a consagração e o reconhecimento profissional internacional, das agências e dos publicitários. No Palais, local do evento, um lindo centro de convenções à beira-mar na cidade de Cannes, antes do início, dos trabalhos dos jurados, havia uma reunião de apresentação com os organizadores do festival, os jurados e os representantes. Monsieur Rogê, o dono da bagaça toda, chefão geral, com pompa e circunstância, deu o briefing: sequência das peças publicitárias, horários, refeições, regras, etc., e finalizou destacando, firmemente, o seguinte: “as bebidas alcoólicas estão terminantemente proibidas para os jurados, durante as sessões de julgamento das peças publicitárias!”. O.K.? Todos entenderam? Corta. Dia seguinte, logo cedo, na hora marcada, pontualmente começam os trabalhos dos jurados. Tudo segue dentro do previsto, conforme planejado pela organização do festival. Vida que segue. Às 12h30, pontualmente, como previsto, é servido o almoço aos jurados, sala ao lado. Os garçons contratados pela direção do festival passam de mesa em mesa, servindo vinho. Sim, vinho. Enchiam os copos com aquela classe tradicional. Ué? Mas não era proibido terminantemente aos jurados consumirem bebidas alcoólicas? “Sim, é proibido!”, responde monsieur Rogê! Mas vinho não é bebida alcoólica! Aprendi nesse dia que, na França, quase todo mundo é abstêmio!

 


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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