Paul Gauguin nasceu em Paris, em 7 de junho de 1848. No ano seguinte, as atividades políticas do seu pai, um jornalista, forçaram a família ao exílio fugindo de Napoleão Bonaparte III. Os Gauguins mudaram-se para o Peru, país onde a mãe de Gauguin nasceu, em uma jornada marcada pela tragédia, pois seu pai morreu durante a viagem. Voltaram para o seu país natal depois que Paul completou 7 anos de idade. Aos 17 anos ingressou na Marinha e viajou o mundo, passando por diversos países da América Latina, como o Panamá e Brasil, onde ficou por 1 mês (no Rio de Janeiro).
Trabalhou em seguida numa corretora de valores parisiense e, em 1873, casou-se com a dinamarquesa Mette Sophie Gad, com quem teve cinco filhos. Aos 35 anos, após a quebra da Bolsa de Paris, foi demitido e então tomou a decisão mais importante de sua vida: dedicar-se totalmente à pintura.
Dizem que Gauguin abandonou sua família para viver sua arte, mas sabe-se hoje que ele foi expulso de casa por sua então mulher. Começou, assim, uma vida de viagens e boemia que resultou numa produção artística singular e determinante das vanguardas do século XX. Ao contrário de muitos pintores, não se incorporou ao movimento impressionista da época e desenvolveu sua própria linguagem artística.
O pintor decidiu morar no Taiti, em busca de uma vida mais fácil, novos temas e para se libertar dos condicionamentos europeus. Suas telas surgem carregadas da iconografia exótica do lugar e não faltam cenas que mostram um erotismo natural, fruto, segundo registros próprios, de sua paixão por jovens nativas.
Morou durante algum tempo em Pont-Aven, na Bretanha, onde sua arte amadureceu. Posteriormente, morou no sul da França, em Arles, onde conviveu com Vincent Van Gogh. Viveu por alguns meses com Van Gogh, com quem acabou brigando. Adiantou então sua volta a Paris, atrás de uma herança de um relativo. Com este dinheiro, realizou uma exposição individual na galeria de Durand-Ruel, onde juntou mais dinheiro para retornar de vez para o Taiti. Nessa fase, criou algumas de suas obras mais importantes, como a intitulada “De onde viemos? O que somos? Para onde vamos?”, uma tela enorme que sintetiza toda a sua obra.
O artista teve uma vida de aventuras, incomum para sua época e cheia de polêmicas. Dizem que tinha uma personalidade difícil e brigava com todos ao seu redor. Passou por uma frustrada tentativa de suicídio utilizando arsênio. Viajou o mundo, mas passou a maior parte da sua vida com dificuldades financeiras, problemas conjugais e doenças. Gauguin morreu aos 55 anos de idade por um infarto e complicações de Sífilis, enquanto preso por desacato a um militar.
VAMOS OBSERVAR
De onde viemos? O que somos? Onde estamos indo?, 1897
Paul Gauguin
140 x 375 cm
Óleo sobre tela
Museu Belas Artes de Boston, US
Esta é uma das mais famosas e complexas obras de Paul Gauguin. Ela representa uma investigação filosófica e existencial sobre a natureza da vida humana e seu propósito.
No título da obra, Gauguin faz três perguntas fundamentais: “De onde viemos?”, “O que somos?” e “Onde estamos indo?”. Essas questões existenciais são abordadas visualmente em diferentes partes da obra. Ele busca compreender a origem da humanidade, a natureza essencial do ser humano e o seu destino final.
A pintura é dividida em três partes distintas, que respondem às perguntas. Na parte superior esquerda, Gauguin retrata um grupo de figuras primitivas, incluindo uma estátua do deus hindu Vishnu. Essas figuras representam o mundo do mistério, do desconhecido e da origem primordial da humanidade, o passado. Na parte central da pintura, o pintor retrata uma cena contemporânea do Haiti, com um grupo de pessoas de diferentes idades e etnias, incluindo crianças, jovens e idosos. Eles estão cercados por elementos da natureza, como plantas, animais e um rio. Essa seção representa a vida presente, com todas as suas complexidades, interações e conexões com o mundo natural. Na parte inferior direita, Gauguin pinta uma sequência de figuras sombrias e enigmáticas, incluindo uma figura feminina que representa a morte. Essa seção simboliza o mistério do futuro e a inevitabilidade da morte.
A obra é uma reflexão profunda e pessoal do próprio pintor sobre a existência humana, a espiritualidade e o significado da vida. Através de suas escolhas estilísticas e simbolismos, o artista convida o espectador a explorar e contemplar essas questões universais e intrincadas da condição humana.
Gauguin criou sua própria lenda, a do artista que se coloca contra a sociedade de sua época e dela foge, para reencontrar na natureza e entre pessoas não corrompidas pelo progresso, a condição de autenticidade e ingenuidade primitivas, quase mitológicas, na qual ainda pode desabrochar a flor da arte, agora exótica, que é destruída pelo clima e costumes da Europa Industrial. Paul Gauguin encontra essa liberdade em sua própria criação, dentro de si próprio. O seu legado é imenso e tornou-se inspiração para todas as futuras gerações de artistas.
Quem quiser conferir o trabalho de Gauguin de perto. corra para o MASP. A exposição Paul Gauguin: O Outro e Eu fica em cartaz até dia 6 de agosto de 2023.
Por Milenna Saraiva, artista visual formada pelo Santa Monica College, em Los
Angeles, EUA. www.milenna.com