Uma vasta paisagem embebida em segredos e mistérios povoa a arte de Catharina Suleiman. Através do seu olhar, o corpo salta aos olhos, desvelando formas, sentidos, gestos e apelos da alma. O corpo, em sua arte, é investigado como prova material de percurso histórico da mulher, tanto da “primitiva, que é também a própria natureza, como da mulher moderna inserida em um sistema em que sua natureza é silenciada”, provoca. Não à toa que seu trabalho foi citado pelo Wall Street International como thought provoking (do inglês, provocador de pensamentos).

Mãe solo e autodidata, Catharina começa a carreira nas artes depois dos 30 anos, especializando-se em diversas técnicas. “Comecei na fotografia analógica histórica e processos alternativos. Saí do quarto escuro em busca de texturas, até sentir a necessidade de fazê-las com minhas próprias mãos. Outras técnicas se fizeram necessárias no meu processo criativo e, hoje, é difícil definir qual é o meu médium. Às vezes, misturo técnicas e materiais. Às vezes, não”, tenta explicar.

O resultado, em seus trabalhos, é uma narrativa poética, muitas vezes política, influenciada pela natureza e pelo antropoceno. Sua obra conta histórias sobre memórias, lutas e arquétipos do feminino e da relação terra-humanidade, através da fotografia, vídeo performance, stencil, pintura, bordado, gravura, escrita, escultura, têxtil, bio materiais e tintas naturais.

Se pudesse deixar uma mensagem a quem está começando nas artes, diria para ter um objetivo “sem ego”, trabalhar e estudar muito para que a cultura continue e se fortaleça com a contribuição dos seus esforços. “Entenda agora, que nós, como artistas, existimos
como um coletivo e não como indivíduos. Cave um buraco, aceite sua obsessão, continue cavando, entregue o trabalho, nunca pare de cavar o buraco, mas não caia nele”, ensina.

Certa vez, Catharina foi palestrar em Marau, na Bahia, e recebeu o convite para pintar um muro em Taipu de Dentro. Como ela não tinha material, foi na única papelaria da região, comprou papelão rosa e estiletes escolares (a intenção era fazer stencil), além de luva de faxina e spray para pintura de escapamento de moto. Como máscara, usou uma camiseta. O resultado? “Foi um dos trabalhos mais compensadores que já fiz! Pintei em um restaurante à beira mar, com os moradores de lá. Foi lindo, dançamos, comemos, rimos”, recorda.

Taurina com ascendente em Capricórnio, Catharina se descreve como uma eterna pesquisadora e diz que morar na Granja Viana é fundamental para sua pesquisa atual com materiais e tintas naturais. “Coleto do meu próprio jardim e do bairro”, informa. Além disso, o desenrolar dos dias, a observação da natureza, o silêncio da mata, o nascer do sol e “tudo que envolve a vida latente desse espaço são fundamentais para o meu processo criativo”, frisa.

Enxerga a arte contemporânea como um mar de possibilidades, mas ainda não sabe definir qual será o resultado desse momento de tanta liberdade criativa e entrada da tecnologia. “Gosto da ideia de muitas pessoas estarem criando ao mesmo tempo, contando suas histórias, as de suas ancestralidades e se expressando como desejam. E principalmente as artistas mulheres, que agora deixam de lado os assuntos e afazeres que lhes foram impostos para falar da própria materialidade, sem tabus, sem culpas, sem censura”, comenta.

Por todo canto

Desde 2013, desenvolve instalações e artes urbanas indoor e outdoor, trabalho que já foi
mostrado no Memorial da América Latina, Instituto Tomie Otahke, MIS, CCSP, EPA, entre outros. A artista faz parte de coleções importantes, entre elas a de arte Latino Americana da UNESCO. Seu trabalho já foi exposto individual e coletivamente em países da Europa e da América. E até 7 de junho, estará, junto com os de mais cinco artistas brasileiras, na Expo da Paulista, a maior exposição a céu aberto da América Latina apresentada pela UGT – União Geral dos Trabalhadores. O tema desta edição, a 9ª, é Democracia, Paz e Trabalho e Catharina irá apresentar as obras abaixo.

Por Juliana Martins Machado

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