Street art

"Conhecido como Vhils, Alexandre Farto é um dos maiores nomes da street art do mundo", escreve Milenna Saraiva.

Alexandre Farto, conhecido como Vhils, nasceu em Lisboa, em 1987. Tinha apenas 10 anos quando se interessou pelo grafite e começou a grafitar nas ruas aos 13 anos. Começou em Portugal, depois por toda a Europa. Diz que o grafite lhe deu a base para decidir seu futuro profissional. Passou da lata de spray para o estêncil e, mais tarde, explorou outras ferramentas e processos. Começou a perceber que o grafite vive em um círculo fechado de pessoas, mas que na rua havia grande potencial de comunicação. Já cansado de pintar em paredes ilegais, passou para os pôsteres de publicidade. Pintava-os de branco e escavava as camadas de anúncios acumulados. Experimentou voltar às paredes e esculpi-las também. E foi assim que descobriu seu estilo único e conquistou o mundo.
Desde os 19 anos, vive em Londres, onde fez um curso de Belas-Artes na St. Martin’s School. Foi lá que começou a ser reconhecido e espalhou a sua street art de retratos anônimos em paredes danificadas e fachadas de casas abandonadas. Foi, então, convidado para expor no Cans Festival, evento organizado pelo Banksy, e a partir daí surgiram convites como a Lazarides Gallery, em Londres e a Studio Cromi, na Itália.
Normalmente é o próprio Alexandre que escolhe o lugar onde crava sua arte, mas também tem recebido convites para fazer intervenções em vários locais. O artista acredita que o processo de trabalho é mais importante do que o resultado final e, por isso, filma todas as etapas. “Um dos conceitos fundamentais que exploro reside no ato de destruição como força criativa, um conceito que trouxe do grafite – um processo de trabalho através da remoção, decomposição ou destruição ligado à sobreposição de camadas históricas e culturais que nos compõem. Acredito que, de forma simbólica, se removermos algumas dessas camadas, deixando outras expostas, podemos trazer às de cima algo daquilo que deixamos para trás.”
Neste seu processo, usa explosivos e martelos para esculpir e dar textura às paredes. Usa também produtos de limpeza, ácidos corrosivos e café juntamente com os tradicionais sprays, estêncil e tintas.
A convite da editora holandesa Lebowski, publicou o livro Vhils/Alexandre Farto Selected Works 2005-2010, uma compilação dos seus trabalhos em paredes e suportes como metal ou madeira. Hoje, conhecido em todo o mundo apenas como Vhils, seus retratos contrastam o novo com o antigo, de forma complexa e ambiciosa, mas também poética. Mais recentemente, o artista tem usado a sua arte como plataforma para comentários políticos e sociais. Uma de suas últimas obras intitulada Marielle, presente tem chamado bastante a atenção.
 
 
Vamos Observar
Marielle Presente, 2018
Escultura em parede
Lisboa, Portugal
Vhils
 
No mês passado, completou-se um ano da execução de Marielle Franco e seu motorista, Anderson Pedro Gomes. Enquanto o nome de Marielle estampa os jornais brasileiros em manchetes, em Lisboa as razões são outras – e lindas. Vhils, um dos maiores nomes da street art do mundo, esculpiu um painel em homenagem a ela no Miradouro Panorâmico do Monsanto. O projeto fez parte da campanha Brave, da Anistia Internacional, que tem como objetivo homenagear mulheres defensoras dos direitos humanos. O lugar, que durante muito tempo ficou fechado, é agora uma atração e virou ponto turístico da capital.
Durante o festival, o mural, que poderá ser visitado depois, quando o Panorâmico de Monsanto voltar a estar aberto ao público, vai ser acompanhado de um trabalho de vídeo, no qual se recupera o trabalho, entrevistas e arquivos de Marielle Franco. Assim, esperam chamar a atenção para proteger seu legado. No Brasil de hoje, onde se vive uma situação muito tensa e se levanta uma série de questões sensíveis e preocupantes, Vhils destaca que “é importante haver estas pessoas que têm essa missão de chamar a atenção para muitos dos problemas no país”.
Marielle Franco, negra, lésbica, nascida num complexo de favelas no Rio de Janeiro e militante de esquerda do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), destacou-se por denunciar abusos das forças policiais nas favelas e pela defesa dos direitos humanos. De acordo com o artista, a história da Marielle Franco sempre o tocou muito. Quando tomou conhecimento de tudo que Marielle fez e defendeu, sua história tornou-se uma fonte de inspiração. Sua mensagem continua a inspirar pessoas em todo mundo, lembrando-nos que nunca devemos desistir de lutar pela justiça. O artista também disse que o que mais o encantava é que ela não tomava partidos e era sempre a favor da conciliação e da paz.  Sua tese de mestrado foi dedicada a policiais que foram assassinados no Rio. Hoje, sabemos que eles mesmos, ex-policiais, a mataram.
Vhils chega a comparar Marielle com outro defensor dos direitos humanos: “Ela me faz lembrar Nelson Mandela, porém numa versão feminina e no Brasil”. Isso mostra como Marielle virou semente, sim. E a pergunta que não se cala ainda é: Quem mandou matar Marielle?

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