Thiago Gimenes: na trilha de grandes sucessos, o cantor, produtor e compositor fala de música e arte

Influenciado pela tia, maestrina, começou a fazer aulas de piano com 4 anos de idade. Aos 9, compôs a primeira canção. Em resumo, como mesmo diz, a música o escolheu bem cedo e ele nunca correu dela. Thiago Gimenes é, antes de tudo, um músico de bases clássicas. Formado em Composição e Regência pela UNESP, se especializou em Voz e Arranjo Vocal pela Berklee College of Music – uma das mais importantes faculdades de música do mundo – e, desde 1995, ensina teoria musical, piano e preparação vocal. Aos 38 anos, soma mais de 600 composições escritas, algumas nascidas do refúgio e inspiração da Granja Viana. Tem músicas gravadas por nomes como Zizi Possi, Brian Mcknight, Alinne Rosa e Marcos e Belutti. Assinou a direção musical de diversas peças de teatro musical, além de turnês de vários cantores e, inclusive, do Humorista Ceará. Está produzindo “Barnum – O Rei do Show”, espetáculo da Broadway que ganhará os palcos do Brasil a partir do segundo semestre. Mais recentemente, embarcou em uma experiência diferente, a de compor o painel de jurados das competições musicais “Canta Comigo Teen” e “Canta Comigo”, onde segundo ele avalia emoção e verdade dos candidatos. Acredita que o futuro da música será muito mais diversificado e plural do que já é e diz ficar feliz em ver que ela está em ótimas mãos. Faz parte de um projeto social que trabalha com educação, cultura, meio ambiente e inclusão social de crianças e jovens e afirma, com todas as letras, que a arte salva! Assim como ela o salvou – e tem salvado a todos nós neste tempo de pandemia.

Vamos ao início de tudo. Como surgiu a paixão pela música?
Sou de uma família onde a música é muito presente. Minhas primeiras lembranças da infância, com uns 3/ 4 anos, são os Natais onde todos se reuniam para cantar e minha tia Eliete tocava piano. Ela era maestrina e sempre foi minha grande referência musical. Me lembro de muito cedo sentar ao pé do piano para ouvi-la tocar, ela tinha uma escola de música e comecei a estudar piano aos 4 anos de idade.

É verdade que compôs sua primeira canção ainda criança?
Sim! (sorri) Sempre gostei de compor, criar minhas canções, mas até os 9 anos eu não havia terminado nem mostrado pra ninguém nenhuma delas. Compus Meu Viver com essa idade e tive coragem de apresentá-la na igreja. Era uma música Gospel.

Seu desejo sempre foi fazer da música sua carreira?
Meu caminho com a música foi árduo como em qualquer outra carreira, mas ao mesmo tempo foi muito natural. Eu já estudava desde criança e, na adolescência, tinha a banda da igreja que participava, já dava dando aulas e regia corais. Comecei sendo assistente da minha tia e fui seguindo. Fiz curso técnico de publicidade no segundo grau, mas no final do curso já estava trabalhando com composição e criação de Jingles (risos). A música me escolheu bem cedo e eu nunca corri dela!

E se não fosse a música, faria o quê?
Acredito que algo ligado a criação (para e pensa). Arte de alguma maneira.

Você já compôs para Zizi Possi, Brian Mcknight, Alinne Rosa, Marcos e Belutti, entre outros. Isso sem falar nas trilhas de novelas. Qual a menina dos olhos?
(abre um sorriso) A música gravada pelo Brian Mcknight e a Tânia Mara! Seria tão fácil foi composta, na verdade, para uma peça de teatro muito especial e nunca imaginei que ela seria gravada pelo meu maior ídolo musical. Ouço o Brian desde criança e não pensei que, através dessa música, viria a conhecer e ser parceiro de composição dele. Compomos mais duas canções, quando ele esteve no Brasil para gravação do clipe. A música também foi tema de um personagem da novela I Love Paraisópolis, da Rede Globo.

Como se dá o processo criativo?
Depende muito do tipo de composição. Quando é para algum musical, leio muitas vezes o texto, tento me conectar ao máximo com a gênese do personagem. Em um musical a letra da música precisa fazer parte do texto, então começo pela escrita e depois, dependendo da identidade musical do personagem ou momento da peça, componho a melodia. Agora, nas músicas chamadas de radiofônicas, encontro inspiração em tudo! Em histórias e vivências minhas, ou de outras pessoas, em um filme, uma cena, outra música… geralmente não tem uma regra. Às vezes, a letra vem primeiro. Em outras, a melodia. Pode vir as duas coisas ao mesmo tempo! Também componho por encomenda e, neste caso, sei o tema e o estilo e vou compor dentro do que me foi pedido, mas tentando sempre trazer minha identidade para composição.

Quem e o quê te inspiram?
Pessoas, histórias, lugares, lembranças… às vezes, um pensamento me traz uma frase e uma música surge do desenvolvimento desse pensamento. Sou muito conectado à natureza e sempre busco um espaço onde possa ficar em silêncio e deixar os pensamentos fluírem. Nem sempre é possível, mas essa, sem dúvida, é minha preferência.

Qual seu estilo musical preferido?
Não tenho um único (ri). Minha playlist tem muito R&B, Soul, MPB, New jazz… amo música acústica de uma maneira geral também.

E seu contato com o teatro musical, como aconteceu?
Sempre gostei de assistir filmes musicais, cresci assistindo os desenhos musicais da Disney e sempre tive essa vontade de trabalhar com isso! Aos 19 anos, fui convidado para fazer a preparação vocal do elenco de um musical e, a partir dali, não parei mais. Juntei minha paixão por composição aos estudos de dramaturgia e, logo, compus meu primeiro musical, aos 21 anos. Já tenho mais de 40 musicais e mais de 500 canções dentro desse segmento.

Qual foi a sensação quando viu o resultado do seu primeiro trabalho nos palcos?
Olha, a sensação é sempre a mesma… é um filho muito esperado que nasce, uma alegria inexplicável. Junto, muitas inseguranças e incertezas, mas ainda assim uma sensação de vitória! É lindo ver uma ideia que, às vezes, nasceu num momento solitário, criar forma, cor, som… e com a junção dos talentos dos criativos e do elenco, tudo fica melhor e maior. Luz, som, cenário, figurino, maquiagem… é realmente mágico!

É muito difícil trabalhar no ramo dos musicais?
Acredito que seja difícil como em qualquer outro ramo, mas temos o agravante de estarmos num país onde a arte não é muito valorizada. São muitos anos de estudo para estar em condições técnicas para o mercado musical (canto, dança, teatro e muitos outros) e não somos registrados. Trabalhamos por contrato, ou seja, estamos sempre buscando o próximo trabalho. Mas eu não trocaria por nada, é minha grande paixão!

Entre todas as produções, qual foi a mais difícil para atingir o resultado esperado e por quê? E na outra ponta, com qual espetáculo você mais se identificou?
A resposta é a mesma para as duas perguntas: o musical A princesinha, da Fundação Lia Maria Aguiar. Foi minha primeira direção geral ao lado de Keila Fuke e a responsabilidade era imensa. Elenco de 120 jovens, 5 atores já conhecidos do grande público (Fafy Siqueira, Júlio Rocha, Mara Carvalho, Rafael Almeida e Tânia Mara) e mais uma equipe técnica de mais de 80 profissionais. Foram poucos ensaios para uma equipe tão grande, mas eu mergulhei tanto naquela história e me identificava muito com os conflitos da personagem, que foi muito prazeroso. Ganhamos o prêmio Quality de melhor musical infantil, um ano depois com a peça. Foi maravilhoso ver que todo esforço da equipe tinha valido a pena.

Você está trabalhando o “Barnum – O Rei do Show”, espetáculo Broadway que ganhará os palcos do Brasil a partir do segundo semestre. Será protagonizado por Murilo Rosa e o ator, inclusive, já está tendo aulas de canto contigo para se preparar para o personagem. Pode nos contar mais sobre este trabalho?
A história de P.T Barnum ganhou notoriedade mundial através do filme musical O Rei do Show, mas já havia sido um grande sucesso na Broadway nos anos 80 com músicas do gênio Cy Coleman. Fiquei muito feliz quando fui convidado pelo diretor Gustavo Barchilon para assinar a direção musical da versão brasileira. A equipe técnica é um time de peso do teatro musical e a produção, por ter adquirido o direito de texto e música, e não de franquia, deu liberdade de criação a toda equipe. Claro, obedecendo a  obra, mas podendo criar também, o que faz com que o público receba um musical da Broadway mas com uma brasilidade e uma identidade muito nossa como país.

Atualmente, você é um dos jurados do ‘Canta Comigo’. Como tem sido essa experiência?
Participar do programa foi um presente que recebi em 2020. Estou na terceira temporada e é um prazer estar com tantos amigos no júri, ouvindo talentos do nosso país. O programa é plural em estilos, vozes, opiniões e isso é enriquecedor.

Como avalia tecnicamente os cantores e dá conselhos para jovens artistas?
Definitivamente, avalio pela emoção e a verdade. Sou um jurado mais técnico, busco uma técnica apurada no canto, mas se existe verdade na interpretação e emoção do candidato eu levanto e canto junto. Erros são completamente perdoáveis, quando o cantor tem a capacidade de te emocionar e se conectar com você.

Qualquer um pode cantar, na sua opinião? O cantar seria apenas criar técnicas vocais e ter força de vontade ou tem a ver com dom?
Sim! Qualquer um que consegue falar, pode cantar! Acredito que o grande dom é a paixão pela música. Cantar exige muitas horas de treino e, para quem não é apaixonado por isso, pode parecer um fardo. Mas se você é apaixonado por cantar, por mais difícil que seja o ajuste técnico, ou determinada música, você simplesmente não consegue parar. O estudo é a chave de tudo. A repetição faz milagres!

Quais conselhos daria para quem quer seguir carreira musical?
Insista! Ame muito mais a música do que a fama ou o reconhecimento. Pratique diariamente. “Se você abandonar a música um dia, ela te abandonará uma semana”. Coloque amor, bondade e humildade no que fizer e a vida vai fazer o caminho dela para que seus sonhos se realizem.

Você faz parte de um projeto social que trabalha com a educação, cultura, meio ambiente e inclusão social de crianças e jovens. Como é participar desse projeto?
A Fundação Lia Maria Aguiar é o maior presente que recebi profissionalmente! (sorri) Eu sou de uma origem muito pobre e só pude estudar música, porque sempre fui bolsista na escola da minha tia. A história dos alunos da fundação é a mesma que a minha. Tive acesso a música e eles têm acesso hoje a 11 modalidades artísticas apenas dentro do núcleo de teatro musical da FLAMA. Lá, me sinto completo e realizando numa plenitude o que sonho com a minha arte.

A arte salva?
Sou uma prova viva disso! (respira fundo) A arte me salvou, me transformou, mudou a minha vida e eu vejo isso todos os dias nos meus amigos de profissão, alunos e público. A arte tem salvado a todos nós neste tempo de pandemia. Não consigo imaginar um mundo sem a arte.

“Fico feliz em ver que a nossa música está em ótimas mãos” é uma declaração recente que deu. Pode nos explicar.
Na fundação, dou aulas a crianças a partir de 8 anos. Estou na segunda temporada do Canta Comigo Teen. É lindo ver que essa nova geração, justamente por ter mais acesso à informação, estão em contato com o que há de mais moderno na arte, mas sempre buscam referências em artistas de muitas décadas antes do nascimento deles por exemplo. E eles se usam de tudo: sites de cifras, vídeo aulas, apps de estudo… hoje, não é raridade vermos crianças com uma maturidade no canto e na performance, antes só encontradas em adultos.

Como você vê o futuro da música no Brasil?
Eu acredito que muito mais diversificado e plural do que já é. Sou de uma geração onde as rádios segmentam demais a programação pelo estilo musical. Hoje, com as plataformas digitais, temos acesso a muitos mais estilos musicais e, consequentemente, ouvintes para todos eles.

Falando em futuro, vamos falar dos seus projetos. Além do espetáculo da Broadway, o que mais está por vir?
Meu segundo EP de músicas autorais e o musical Além do Ar da Fundação Lia Maria Aguiar, que conta a história de Santos Dumont e terá a temporada em São Paulo também. Fora isso, alguns projetos musicais já estão em andamento e em fase de composição.

E a Granja Viana como chegou até você?
Como a natureza me inspira, sempre encontrei refúgio e inspiração na Granja! Tenho duas grandes amigas, Nikki e Leilah Moreno, que moraram na Granja e eu sempre dava aquela escapada da loucura do centro de São Paulo para ir compor e fazer um som com elas e outros amigos aí. Hoje, moro na Serra da Cantareira, mas tenho um amor e lembranças lindas da Granja Viana!

Por Juliana Martins Machado

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