Mingyur Rinpoche nasceu em 1975, no Nepal. Foi educado desde cedo segundo a filosofia budista, tornando-se um mestre de meditação tibetana celebrado por sua capacidade de apresentar a prática de forma clara e acessível. Depois de um exame que escaneou seu cérebro em estado de meditação, na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, foi considerado a pessoa mais feliz do mundo. Mingyur Rinpoche sabe, por experiência própria, que a meditação pode mudar o cérebro, pois sofria com ataques de pânico quando criança e foi capaz de superá-los através da meditação intensiva. Seu estilo de ensino reflete este cenário único que combina a antiga sabedoria tibetana com os conhecimentos da ciência moderna, além de conselhos práticos sobre o uso da meditação para lidar com os desafios da vida diária.
No início de junho de 2011, Mingyur deixou seu mosteiro em Bodhgaya, Índia, para iniciar um período de prolongado retiro solitário, retornando em novembro de 2015. Na manhã que deixou o mosteiro, seus assistentes bateram na porta de seu quarto e, como não houve resposta, entraram no cômodo e o encontraram vazio; com exceção de uma carta, explicando que ele tinha deixado a cidade por um período indeterminado e que passaria o tempo viajando e praticando meditação pelas montanhas do Himalaia. Partiu sem dinheiro nem posses, não levou seu passaporte ou telefone celular, saiu sem carregar nada consigo, nem mesmo sua escova de dentes.
Recentemente, Yongey Mingyur Rinpoche esteve no Brasil para lançar seu último livro, “Alegre Sabedoria”, e para uma série de palestras sobre as técnicas de meditação. A equipe da Revista Circuito esteve lá, frente a frente com esse jovem monge.
RC – O tema “qualidade de vida” está banalizado. Todos buscam mas, ninguém sabe, na prática, o que de fato estão procurando. Qual o principal pilar para se viver bem?
MR – A verdadeira qualidade e caminho para uma vida com significado é encontrar, em nós mesmos, a felicidade, através do amor, da compaixão, das coisas que são inerentes ao próprio ser humano. Saber enxergar e descobrir isso, essa preciosidade que está dentro de nós; isto, pra mim, é o significado de qualidade de vida.
RC – O senhor acredita que existe uma receita para a felicidade?
MR – Estou ensinando aqui, no Brasil, e no mundo a meditação. E o que a meditação ensina (apenas um dos ensinamentos) é a encontrar alegria até mesmo em problemas e em situações difíceis. Exemplificando: você tem em uma mão um problema e na outra, alegria. A alegria tem que ser maior, vencer, esmagar o problema; assim a sua felicidade e o significado da sua vida estarão sempre numa crescente. Você vai perceber que o problema faz parte da solução – tornando, assim, sua vida mais feliz e com mais significado.
RC – Estudos científicos comprovaram os benefícios da meditação. O senhor foi voluntário em um importante estudo. Por favor, conte-nos um pouco.
A meditação traz benefícios para o corpo físico e para a sua mente, conferindo mais calma e mais paz à sua jornada. Existe, particularmente, em cada um de nós, um patamar de felicidade e de infelicidade. Seja o que for que aconteça na sua vida, você não pode alterar muito esse patamar. Por exemplo, você pode ganhar na loteria, mas vai estar feliz por um período; contudo, depois de um tempo vai voltar ao patamar normal de felicidade. O mesmo ocorre quando você bebe uma xicara de café. Você aumenta por um período sua felicidade e logo ela volta ao patamar básico. A única coisa que melhora e aumenta o seu patamar de felicidade é a meditação, além de muitos outros benefícios que ela pode gerar. Você pode transformar seu patamar de felicidade meditando e, assim, tornando-se uma pessoa mais saudável e feliz.
RC – Quanto tempo de meditação diária é necessário para uma pessoa sentir resultados efetivos?
Os efeitos podem ser variados de pessoa para pessoa, assim como o tempo a ser praticado. Os tempos podem variar de 10 a 60 minutos por dia e, após a oitava semana de prática, as conexões cerebrais já melhoram em 10%, apenas com oito semanas de prática regular. No entanto, não existe limite máximo ou mínimo de tempo para praticar meditação, e a tendência é você se aprimorar mais com a prática diária.
RC- O senhor diz que todo ser humano nutre sentimentos de amor e compaixão, 365 dias do ano. Então, por que o mundo está tão violento, com homens matando e cometendo atrocidades contra seus iguais?
Possuímos amor e compaixão dentro de nós. Às vezes apenas não reconhecemos esses sentimentos ou não deixamos fluir. As pessoas precisam agir mais com seus corações, deixa-los falar e segui-los instintivamente. Existem muitas coisas ruins no mundo, mas temos que focar nossas energias sempre em busca de soluções, baseadas no amor, na compaixão e na solidariedade.