Deixa a net me levar, net leva eu

O leitor encontrará, nesta entrevista, o mapa para se dar bem no mundo dos negócios, da internet e das baladas. Quem faz sucesso em tudo isso e conta como acontece é Leonardo Picon, do alto de seus 21 anos, 14 deles dedicados ao mundo da internet, e dono de empresas nos ramos de audiovisual, confecção e alimentação. Sem contar, é claro, seu melhor produto, seguido por mais de 2,5 milhões de internautas no Instagram.

Leo Picon é um dos maiores exemplos, e talvez o mais granjeiro de todos, do sucesso dos influenciadores e youtubers, um sujeito que opina, veste, frequenta, viaja e leva junto multidões de internautas que curtem seu perfil e assistem a seus canais em busca de atitude, bom humor, gente famosa na intimidade e no estilo. Muito estilo. Leo pinta as unhas, transforma o cabelo, usa brinco, tatuagem e mistura terno preto com tênis branco. Sua audiência responde com milhões de likes e deixa no chinelo a da maioria dos galãs da TV Globo sem ele nunca ter aparecido em uma novela, por enquanto.

Papear e provocar gente como Neymar, de quem é parceiro de pôquer, Cleo Pires, Gabriel, o Pensador, Sabrina Sato e Luana Piovani é a rotina de Leo, que passa quase tanto tempo em aeroportos quanto nas festas. Em seu Twitter ele contabilizou, em 16 de fevereiro, os lugares onde já havia dormido só neste ano: Fernando de Noronha, Nova York, Paris, Salvador, Recife e Rio de Janeiro. “Só não dormi com você”, foi a provocação final do post. Até o fechamento desta edição entrou na lista, pelo menos, Milão, onde foi acompanhar a Semana da Moda.

O que assegura esse fenômeno de comunicação, comportamento e estilo de vida é um mundo de negócios que inclui marcas como Puma, Carolina Herrera, Audi, Listerine, Trident, Calvin Klein, Colcci e Havaianas, todos clientes ou parceiros de Leo, que revela nesta entrevista como funciona a relação com estes clientes e com seu público, os mistérios da internet, os que odeiam o sucesso alheio, a mídia e seu recente interesse pela espiritualidade.

 

Leo, se você tem 21 anos e está na internet há 14, é porque mentiu no perfil do Orkut, não é?

(Risos) Cara, estou nessa desde os sete anos, sossegado. Menti a idade no perfil, eu dizia que tinha 18 anos.

Quem tem 2,5 milhões de seguidores deve entender muito de internet. O que vai acontecer na rede daqui para a frente? Qual vai ser a próxima onda?

A internet é muito abrangente, mais da metade da população tem acesso, e pode acontecer de tudo. Como nos últimos hits do Carnaval, apareceu gente como Jojo Todynho e MC Loma, essa galera é efeito da internet, e ninguém dizia antes que ia estourar. Há pouco tempo apareceu aquela história do “Cala Boca Galvão” como um dos assuntos mais falados do mundo, e ninguém nunca entendeu como isso aconteceu. E aí aparece em cima uma história de que o “Cala Boca Galvão” era para salvar aves em extinção no Brasil, então não tem um cronograma, uma pauta, é um fluxo natural dela própria. Não sei dizer o que vai ser. Só posso dizer que entendo a linguagem do meu público.

Você consegue ler tudo o que eles comentam?

Eu dou uma olhada, é claro, mas não dá tempo de ler tudo. Sou bem tranquilo quanto a isso, não sou de postar e ficar ansioso, querendo saber quantos viram. Para mim as redes sociais são um instrumento de trabalho, então tem um monitoramento estratégico dos meus perfis, é acompanhada a composição do meu público, onde está, renda, o engajamento dele, de que assunto ele gosta etc. Isso é acompanhado porque é usado estrategicamente em trabalhos ou quando quero ter uma ideia ou promover alguma coisa da minha marca (a confecção Approve) etc. Então eu sei, mais ou menos, o comportamento do meu público, o que ele quer, mas, mesmo assim, não é algo sobre o qual a gente tenha domínio.

Que efeitos isso tem fora da rede, no mundo real?

Eu fico muito chocado porque sou reconhecido em lugares onde jamais pensaria que iam me reconhecer. Nunca aconteceu de eu viajar para um país estrangeiro e não aparecer alguém para tirar uma foto. Se fosse Nova York e Paris, tudo bem, mas não. Eu fui para Cardiff, no País de Gales, assistir à final da Champions League, era um trabalho para um cliente, e cara, uma menina simplesmente parou um carro na minha frente, eu achando que ia ser sequestrado em Cardiff, e ela desceu gritando que não acreditava que tinha me encontrado, que ela morava em Cardiff havia sei lá quantos anos e que viu que eu estaria lá. É muito bom e bizarro. Outra vez eu estava em Las Vegas e fui assistir à uma luta do McGregor, e eu estava conversando com o Minotauro (lutador de UFC) na frente do hotel quando chegou uma menina e pediu para ele bater uma foto dela comigo, então eu pensei: “Nossa, às vezes não faz muito sentido”.

E quando o pessoal faz comentários raivosos? Os haters?

Pois é, você entra na aba de comentários de qualquer portal e vê as atrocidades que são faladas. Não são haters, são pessoas tristes, fracassadas, decaídas, e elas encontram a voz na internet. A internet reflete muito o problema social e das pessoas que ficam em casa coçando a barriga. Imagina um cara do tamanho de um Chico Buarque, com tudo o que ele fez, a relevância dele, e aí o que você mais lê na internet é que ele é um esquerdista, “tem que ir pra Cuba”, então na internet as pessoas falam qualquer coisa sem considerar nada além daquilo que querem. É claro que se você vê um vídeo de um cara batendo num cachorro é uma situação grave, e as pessoas estão xingando ele, isso criou uma revolta. Mas se você vê lá uma foto da Anitta fazendo o trabalho dela e o cara vai lá e quer jogar pra baixo e diz que é lixo, essas são pessoas vazias. Para o sucesso do outro criar uma revolta na pessoa deve ser alguém que nem trabalha, porque quem trabalha respeita o trabalho do outro. Eu, já desde 2009 na internet, leio comentários onde fui muito xingado, ofendido. Hoje eu tenho a visão de que as pessoas que tentam te diminuir são muito vazias, sem luz, não devem ser levadas em consideração.

Como você define a pauta ou o estilo dos seus canais? Como saber o que o público quer ver, o que expor e o que esconder?

O foco principal do meu conteúdo sou eu mesmo, então não é para ficar tratando de questões como política, esportes, apesar de tudo isso fazer parte da minha vida e de eu falar sobre isso com a minha visão, dizer o que eu acho pertinente. Também é importante eu me impor alguns limites, porque uma coisa é fazer as coisas com meus amigos, outra é expor eles ou a minha intimidade. Mas eu sou exatamente aquilo que mostro na internet. E tem assuntos que eu gosto de conversar com meu público, que eu aprendo, então busco passar um pouco desse aprendizado para as pessoas que podem nunca ter vivido algo parecido tirar disso alguma lição.

Mas e a pimenta? Como quando você se insinua para a Cleo Pires ou quando você fala da virgindade da sua irmã na frente dela?

Qualquer pessoa que entra no meu canal pode ter certeza de que já rolou vários encontros antes. Não funciona assim, sem conhecer, eu chegar e oi, sou o Leo, tenho um canal no YouTube. Vamos gravar? Não. O resultado só fica bom porque nesses momentos a gente se permitiu abrir a intimidade, na conversa a gente percebe esses limites. Uma coisa que me incomoda, hoje, é que você não tem mais privacidade. Se você estiver passando mal no meio da rua alguém vai vir filmar, e não teve a sua autorização. Às vezes, você está no aeroporto, vê alguém dormindo e pensa: “Cara, vai ser muito engraçado postar”. Eu já fiz isso, mas hoje tenho uma visão diferente. Então, se uma conversa avança para uma questão pessoal, às vezes é só brincadeira ou então faz parte de algo que seja espontâneo, sem planejamento, mas com esse cuidado de não contrariar. Além disso, a pessoa pode ver o vídeo depois e dizer o que achou.

O que as pessoas querem quando te convidam para uma festa?

É um business. Funciona assim: as festas possuem promoters ou relações públicas que são pagos para trazer pessoas que o dono da festa ou que eles próprios consideram interessantes, bonitos, o que for, então eles chamam pessoas que tornam a festa legal, desde gente que tenha dinheiro para gastar com bebidas, mulheres bonitas para circular e pessoas de todo tipo, famosos ou não, e eu faço parte desse grupo de pessoas que eles acham interessantes. É assim.

Festa cansa quando vira trabalho?

Eu vou onde me sinto bem, nunca paguei para entrar em lugar nenhum. Por exemplo, se eu vou para o Carnaval em Salvador, que é uma festa incrível, mas tenho uma entrega a fazer a um determinado patrocinador, então eu tenho de criar um conteúdo para uma marca. Eu vou, conheço o lugar, penso no que quero fazer, e aí vai no network. Tipo: eu conheço o fotógrafo que está no evento, e aí peço ajuda: “Mano, preciso fazer uma foto com esse produto”. Ele faz a foto, me passa, eu aprovo, insiro e falo o post. A partir desse momento, meu dever profissional foi cumprido e, a partir daí, só tenho o meu dever pessoal de me sentir bem e de me divertir.

Como funciona o mercado de merchandising?

Hoje eu só trabalho com marcas que consumo, então elas estão, naturalmente, na minha vida. Com as conexões que a gente tem acaba trabalhando com essas marcas. Eu nunca tive nenhum problema com Anvisa ou qualquer coisa assim. A gente tem algum conhecimento e segue as regras. O importante é ter boa comunicação com o nosso público, criar um conteúdo interessante para eles. E se esse conteúdo for interessante, inserir as marcas. Não dá para chegar simplesmente falando: Olha meus óculos, que legal! Não é assim que funciona, tem que ter alguma coisa para passar de mim ou não rola.

Qual é a melhor estratégia para chegar a uma festa e fazer amizades? Como se livrar da timidez?

Vai muito de cada um, mas acho importantes duas coisas: primeiro, se sentir bem na sua solidão. Você é a companhia que vai estar do seu lado do primeiro respiro da sua vida até o último suspiro, ninguém vai estar do seu lado durante todo esse tempo, então é importante você se sentir bem sozinho. Eu estou numa fase em que curto muito a minha solidão, quer dizer, eu faço minhas coisas sozinho, embora sempre tenha alguém que eu conheça ou trabalhe comigo. A outra coisa importante é criar uma relação bacana quando você está num ambiente com pessoas diferentes. Aí é comunicação, chegar a um lugar e cumprimentar quem está lá, o motorista, o segurança, o diretor da empresa, as pessoas que estão lá fazendo a mesma coisa que você. Isso, além de eu achar meio básico para se relacionar com o ser humano, também traz network.

E a relação com a mídia? Como é? Essa história do ficou ou não ficou com fulana, beijou ou não beijou. Como lidar com isso?

Cara, eu vejo umas mentiras no jornalismo de fofoca, tipo falar alguma coisa que o cara viu que você não fez. A gente conclui que a mídia expõe uma história do jeito que quer. Minha grande dúvida é até que ponto isso vai, porque tudo tem interesse por trás. Se é algo relacionado só à minha vida, é uma futilidade, mas algo relacionado à questão da saúde, segurança, o que um político fez ou deixou de fazer… eu não sei como isso é contado. Se for da mesma forma que é contada a vida das celebridades… A gente vê nas manchetes: fulano é um ladrão, e pensa “como as pessoas sabem disso?”. Elas viram? Ouviram dizer? E o pior é que 90% da população leva uma manchete de jornal como verdade absoluta, então fica difícil. Hoje, graças a Deus, temos nosso espaço para se defender. Por exemplo, quando saíram coisas sobre mim dizendo que eu estava tendo um affair com sei lá quem, eu fui no meu espaço e disse: não estou. Mas não é todo mundo que tem esse espaço. Se a mídia hoje diz que você matou sei lá quem e depois é provado que você não matou, eles não vão dar a mesma importância, não vão atrás de você para dizer: Poxa, ele não matou, desculpa, vamos refazer a sua imagem. Não, eles não estão nem aí.

A mídia já disse que você não está namorando e nem querendo. O que você faz para evitar pessoas que querem se aproximar de você com objetivos outros, com objetivos…

Sexuais!? (risos)

Pois é, como é que você lida com isso?

Cara, eu sou jovem, tenho minha liberdade, sou solteiro, estou solteiro, e eu vivo atrás das minhas vontades, então o que eu tenho vontade e posso ter eu faço. Eu estou muito feliz com o momento que estou vivendo.

Você consegue ser gentil com as pessoas dizendo não?

Sim, respeitoso, eu acho que, muitas vezes, tenho de falar não em ambientes como baladas, onde as pessoas estão sob o efeito de álcool e se tornam inconvenientes, é uma posição chata. Mas a gente fala, não do mesmo jeito, que eu já recebi milhares de “nãos” de garotas e respeitei, eu tenho de passar um não com a mesma seriedade e respeito.

E o que alguém tem de fazer para se aproximar de você numa festa?

Muita gente se aproxima de mim para tirar uma foto, conversar, perguntar alguma coisa etc. Mas meu filtro é energia, é uma coisa que a gente sente da pessoa no olhar e tudo o mais, e aí rola ou não. Tem aqueles que a gente encontra por acaso, viram grandes amigos, e acabam entrando para nossa vida, como tem gente que a gente cruza centenas de vezes e é sempre um contato superficial. Eu acredito muito na energia que a gente transmite, na paridade de energia. Isso acontece de uma forma muito natural, não há como forçar uma amizade.

E se a pessoa for um famoso?

Também não depende de a pessoa ser famosa ou um completo anônimo. Eu fiz algumas viagens para alguns lugares completamente ilhados, remotos, e nesses lugares a gente acaba conhecendo gente muito interessante, além de ter um contato mais espiritual, aprende coisas das quais aqui na cidade grande a gente fica meio afastado e a gente vê que o valor realmente está na energia, nas intenções. Boas intenções trazem boas companhias.

Você já foi barrado em algum lugar?

Já, já fui barrado em balada, quando era menor de idade, por causa da minha carinha. Quando eu era pequeno tinha cara de mais novo ainda, e isso começou a mudar tarde, então era difícil.

Como você se tornou empreendedor, com menos de dez anos?

Eu sempre fui amigo do Dudu Surita, que é aqui da Granja, a gente meio que cresceu junto, estávamos sempre juntos na escola, no inglês, passeando, e ele sempre se interessou por fotografia, tirava muitas fotos nas viagens, e as fotos dele começaram a ter uma repercussão grande. Eu fui meio que na onda dele e comecei a tirar também. E aí começou no Orkut. Minhas fotos eram replicadas, criavam perfis fakes com as minhas fotos, havia uns grupos tipo “Gatos do Orkut” e coisas assim, até que se criou no Orkut um fã-clube oficial sobre mim e começou a ganhar gente. E aí essa galera ficava me indicando para a Capricho (revista da Editora Abril para adolescentes) e ela me chamou. Eu saí na Capricho com 13 anos, como o “colírio” da revista.  Aí, em pouco tempo, a gente foi do Orkut para o Twitter, depois Facebook, depois Instagram e a base de seguidores foi sempre crescendo. A Capricho foi, com certeza, o empurrão. Nada disso que eu vivo hoje aconteceria se não tivesse saído na Capricho.

Mas como você começou a ganhar dinheiro com isso?

Eu usava a internet como todos os jovens, Twitter, o MSN etc. e fazia transmissões ao vivo. E tudo o que eu fazia tinha repercussão maior, e aí chegou determinado momento em que começou a virar negócio. Nos meus primeiros trabalhos eu era chamado para fazer presença vip em matinê, e disso aí eu fui juntando uma grana, eu também tinha feito publicidade infantil quando era mais novo, e quando tinha 15 para 16 anos eu já fazia alguns trabalhos que achava grandes, fiz dois intercâmbios para fora do Brasil trabalhando como garoto-propaganda da Forma Turismo, e aí os trabalhos foram tomando corpo. Só que eu tinha em mente que uma hora isso poderia acabar, porque eu não era cantor, não era artista, não fazia nada, e foi por esse motivo que eu entrei para o teatro, quando tinha 14 anos, e por esse motivo também eu decidi abrir um negócio. Eu já tinha dinheiro para investir, não dependia de pai e mãe para nada, e aí encontrei sócios maravilhosos para executar esse projeto, todos jovens como eu, do mesmo meio, da internet e tudo o mais, e assim nasceu a Approve (confecção e loja virtual de roupas). No começo era tudo brincadeira, a gente trabalhava sem camiseta no escritório, ficava chamando amigo e fazendo parada, e aí começou a virar financeiramente e a gente foi cada vez mais reinvestindo, isso foi dando uma estrutura para a Approve. E, além disso, eu também fui crescendo, fui pegando trabalhos cada vez maiores.

A família também ajudou, não é?

Com certeza. Na internet sempre tem gente falando que eu nasci em berço de ouro, e eu nasci, mesmo, numa família em condições legais, nada exorbitante, mas pode-se mesmo dizer que eu nasci em um berço de ouro, só que eu nunca deitei nele para descansar. Meu pais me ajudaram muito, mas não foi financeiramente. Meu pai, por ter uma empresa, pôde tirar milhares de dúvidas que eu teria dificuldade de entender sem ele. Minha mãe me levou a muitos compromissos, me acompanhou em situações que talvez sozinho eu me sentisse oprimido. A escola em que me colocaram, a faculdade que meu pai pagou, em tudo isso me ajudaram muito e me ajudam até hoje. Num aspecto muito de formação. Quando as coisas começaram a acontecer, eu achava que já estava ganhando muito dinheiro, que eu podia ir para uma escola mais fácil, e foram meus pais que fizeram questão de ser chatos e dizer não vai, e nisso eles foram firmes, hoje dá para ver.

O que você vê quando imagina um Leo Picon com 30, 40 anos?

Não faço ideia. Uma coisa que eu aprendi é que o mundo é muito líquido, as coisas mudam do nada. Eu nunca imaginei que eu ia ter um bar. Eu só espero que com 30 anos eu esteja muito rico, porque eu trabalhei muito (risos). Espero estar tranquilo, mas não tenho nenhuma projeção, não imagino. Meus planos são para este semestre, e depois a gente vê o que essa plantação rendeu de frutos.

Você nasceu na Granja Viana?

Quando nasci morávamos no Morumbi e o meu pai já construía uma casa aqui. Vim para cá com seis anos. Minha infância foi ótima, no condomínio, meio que na rua, andando de bike, caindo, me arrebentando, andando de patinete, jogando bola na chuva, skate, eu ia para a escola a pé ou de bicicleta, era o Rio Branco. Foi assim, bem distante da realidade dos adolescentes que eu conheço e que cresceram em São Paulo, acho que senti uma ligação mais forte com a natureza, com o esporte, eu saía da escola, almoçava, voltava para a escola, para atividade física, então eu tive uma adolescência bem criativa.

E por que teve de voltar para São Paulo?

Quando começaram a acontecer os meus compromissos em São Paulo, indo e vindo, ficou realmente exaustivo, coisa de cair no sono no carro. Eu acordava muito cedo porque tinha de fazer muita coisa em São Paulo, e tinha de voltar, e esse trânsito era coisa absurda, e também as obras na Raposo, acho que fazem ainda, onze da noite, deixar uma pista, um absurdo, eu ficava puto, queria matar as pessoas – não vai colocar aí “eu quero matar”! – , mas eu ficava maluco, porque estava cansado, e uma obra acontecendo onze e meia da noite, um monte de carros presos na mesma situação que eu, eu olhava para o ônibus com gente na janela. E aí eu tive de me mudar. Eu me planejei, ganho tanto, vou gastar tanto fazendo essa mudança, mas se eu ganhar mais tempo pode ser que ganhe mais, sem contar a qualidade de vida, não é? Ninguém quer ficar no trânsito. Aqui na Granja, para ir trabalhar, tem de fazer todo um planejamento, um monte de coisas. Em São Paulo eu saio dez minutos antes do compromisso e está tudo certo. Mas eu tenho muito carinho por aqui.

Você medita? Tem uma religião ou alguma afinidade espiritual?

Eu não tenho uma religião, mas tenho uma espiritualidade com que eu sinto coisas… assim… eu tive, agora na viagem para Fernando de Noronha (no réveillon), uma experiência muito forte, não só no ano novo, durante todos os dias em que eu fiquei lá tive uma experiência muito forte, que foi a confirmação de algo que eu tinha dúvida. Foi algo que realmente eu pude sentir. E desde antes de Noronha isso vinha comigo… Noronha foi a primeira cidade que visitei em que procurei cultivar o hábito de visitar igrejas. E depois já fui para Nova York, para Paris visitando igrejas. Então foi muito legal passar por esses lugares que antes passavam despercebidos e tentar fazer uma conexão… assim, não sei com quem. É uma conexão comigo mesmo, com algo superior que existe em mim, e, cara, isso tem me causado muitas coisas boas. E também, de um tempo para cá, um frei me manda frases praticamente todos os dias. São frases de pastores, de sábios, esse cara de livre e espontânea vontade faz esse serviço de me trazer frases maravilhosas que realmente acendem minha espiritualidade e também me trazem aprendizados para o dia a dia. Eu acho que isso está muito ligado à essência da religião, que é a empatia, o perdão, a calma, essas coisas estiveram muito presentes no meu amadurecimento atual, estou muito feliz carregando esses valores.

O que foi isso? Uma visão? Um sonho?

Não foi um sonho, eu estava o tempo todo acordado. Eu não quero fazer um testemunho do que aconteceu, porque vão dizer que eu estou louco. Eu me privo de falar dessa história. Mas foi uma coisa muito forte para mim, e que, assim, eu escrevi a respeito de forma superficial, mas é algo que me tocou e, em todos os seus detalhes, eu guardo para mim.

E você pretende investir nessa vocação? Aproximar-se de algum caminho espiritual?

Cara, eu vou abrir uma igreja porque dá muito dinheiro (risos).

Por falar nisso, além de ter uma confecção, você é também uma vitrine para a moda. Você trabalha o cabelo, pinta as unhas, usa terno preto com tênis branco, ou seja, tem muito estilo. Esse visual todo é você quem cria ou tem um personal stylist?

Eu não tenho personal stylist, mas acompanho muito a moda em diversos veículos, eu vejo como as pessoas se vestem, reparo isso nas ruas. Se vou para uma cidade mais forte na moda, como Nova York ou Paris, eu visito as lojas mesmo sem ter interesse em comprar, mas para ver, para entender as peças, e sigo muitas páginas na internet que falam sobre isso, então acabo me vestindo de um jeito que eu acho interessante e acaba pegando todas as referências que estão dentro da gente, tanto para fazer compra ou para desenvolver uma coleção, quanto para se vestir no dia a dia.

A coleção da Approve é você que planeja e desenha?

Isso aí é um processo. Em algumas coleções foram ideias minhas que passei para o time de criação. Eles é que vão criar a peça no computador, isso eu não faço, não sei desenhar, mas na ideia eu colaboro.

Você traz ideias das viagens?

Sim, quando tenho tempo nas viagens eu separo para ir às lojas e aos aglomerados fashion que eu ouvi falar, ou que eu sei que são legais, para dar uma olhada. E observo como as pessoas se vestem na rua. Acho que o Brasil tem ótimas referências, mas, falando por São Paulo, Rio de Janeiro, o Sudeste é um lugar em que existe uma certa censura quanto ao jeito como você se veste. As pessoas te olham esquisito, você se sente meio oprimido. É muito diferente de capitais como Paris, Nova York, em que as pessoas se vestem de um jeito diferente e passam totalmente despercebidas na rua, isso é um aspecto em que falta uma evolução aqui. Há um olhar julgador. Acho que não cabe a uma pessoa reprimir a outra com olhar, cara de espanto, é bem chato.

Como é que está sua relação com sua irmã (a também youtuber Jade Picon)? Como você vê esse crescimento dela na internet?

Cara, a gente é muito próximo, durante essa entrevista ela ligou para mim três vezes, a gente vai sair para jantar hoje, então eu a vejo só crescendo, fico muito orgulhoso pelo que ela vem se tornando, e, ao mesmo tempo, sinto muita saudade da gente criança, junto, nós éramos muito próximos. Nossos pais eram casados, depois nossos pais se separaram, então tem muita lembrança boa, a gente segue muito próximo depois que eu saí de casa. Acho que, como todos os irmãos, a gente briga, se xinga, mas se ama e está junto para tudo. Sou o maior fã dela desde sempre e para sempre.

 


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