A multifacetada trajetória de Samy Dana

Foto: Gui Gomes

Ele poderia ser engenheiro, mas felizmente escolheu a economia e assim pode nos ajudar a salvar as nossas contas bancárias. Filho de um imigrante judeu, que fez carreira como médico no Brasil e uma professora de português e inglês, ambos já aposentados, Samy Dana, 45 anos, pai de um filho de 9 anos, é mestre em economia, doutor em administração, com ênfase em finanças, PhD em Business na Espanha e pós-PhD, na Harvard Business School, nos Estados Unidos. Com esse currículo invejável, foi professor da FGV aos 21 anos e hoje presta consultoria financeira e empresarial, faz palestras, workshops e eventos de economia, tem vários livros publicados na área e faz muito sucesso nas redes sociais e como comentarista da Jovem Pan, atuando principalmente no Jornal da Manhã e no programa Pânico. Hoje tem duas empresas de IA e é um entusiasta do assunto. Além disso, há pouco tempo se formou músico no curso de piano da Santa Marcelina. Nesta entrevista exclusiva à Revista Circuito, ele conta mais sobre esta trajetória multifacetada incrível e o que veio buscar na Granja Viana.

Com seu parceiro e agora vizinho, Emílio Surita, no Programa Pânico

Qual foi o gatilho para você escolher economia na sua vida?

Eu não tinha uma ideia muito nítida do que era economia, assim como muitos estudantes não têm, mas eu sabia algumas coisas: que eu não queria fazer biológicas, nunca gostei muito de sangue. Gostava muito de matemática, de números. Daí poderia ter feito engenharia, seria uma escolha, mas resolvi fazer economia. E acho que foi uma escolha muito feliz. Iniciei a carreira acadêmica, já dava aulas com 21 anos de idade ao mesmo tempo que fazia mestrado e depois doutorado.

Você começou ministrando aulas aonde?

Eu comecei dando aulas na FAAP e depois passei num concurso como professor horista da FGV. Também dei aulas no Ibmec e, depois passei em outro concurso como exclusivo da FGV, onde eu fiquei por mais de 15 anos. Na pandemia, abri mão desse vínculo exclusivo, às vezes eu dou algumas aulas lá, mas posso dar aulas em outras faculdades também. Dei um curso num mestrado no Insper, um curso de finanças quantitativas. E agora estou avaliando a possibilidade de prestar concurso na USP.

“Há muitos caminhos possíveis, o meu foi sempre o estudo.”

Você acha que a economia pode ser uma boa profissão?

Eu acho uma boa profissão porque mistura exatas com humanas, é uma ciência social aplicada em muitas áreas. A economia é um estudo muito delicado, porque você está falando de coisas que se misturam, que envolvem o ser humano e que não têm uma variável isolada, diferente de outras, que são ciências puras mesmo, como física.

 

Você gosta de dar aulas?

É interessante você dar aula para quem quer aprender. Eu não tenho o menor interesse de ficar dando aula se o aluno não estiver interessado. Desde o início eu não exijo presença, só quando a faculdade pede alguma coisa, mas pra mim, não exijo presença. Eu acho que você pode escolher vários caminhos de carreira. Um dos caminhos passa pelo estudo, tem outros que vão passar pela experiência.

Depende muito mais do aluno…

Sim o professor é um guia. É muito pouco tempo de curso, você espera que o aluno leia fora da aula, que ele aumente o repertório dele, dentro da sala você passa o seu guiamento. Cabe a cada um a dedicação após o tempo regulamentar.

Como alcançar o sucesso na carreira?

Eu não tenho uma estatística sobre sucesso, mas eu sei que uma grande parte do sucesso é simplesmente sorte. Então, é a história, sempre tem uma parte da sorte na vida, porém, quanto mais preparado você estiver, melhor. Eu acho importante uma base de raciocínio lógico e raciocínio quantitativo, de comunicação, é preciso ser capaz de comunicar com precisão. Se eu estou te passando uma mensagem, ela deve ser precisa. Eu também preciso conseguir ler uma mensagem. Seja uma mensagem numa conversa, seja uma mensagem por escrito. Com raciocínio lógico e raciocínio quantitativo, você pode estudar programação lá na frente.

Você é pai, como lida com essa formação de base do seu filho?

Hoje eu tento limitar o tempo de tela do meu filho. Estimular esportes. Tem vários esportes a escolher, e nesse sentido a Granja é muito boa, né? Porque em São Paulo você fica meio circunscrito em um apartamento ou no térreo. Aqui as crianças conseguem jogar futebol, andar de bicicleta, adquirem habilidades relacionais. Aprender a lidar com outro, a lidar com frustrações, com a sua raiva e a do outro… eu acho que esse tipo de habilidades socioafetiva, emocional, isso é muito importante também. É difícil educar, né?

“A maioria dos pais tenta fazer o melhor, não vai sair perfeito, mas você tenta ajudar.”

Você é a favor da introdução de aulas sobre economia e finanças no Ensino Fundamental?

Eu gosto de chamar de cidadania. Finanças pessoais. Acho que as crianças devem entender por que eu pago imposto. Para onde vão os meus impostos? Quais são os direitos do cidadão? Elas têm de conhecer o estatuto do idoso, os direitos do consumidor, como funciona a inflação. O que é a inflação? Tudo isso tem a ver com cidadania, direitos e deveres.

“Saber fazer contas é importante, mas é mais importante você ter esses fundamentos da cidadania.”

 

Como você avalia os principais desafios econômicos que o Brasil enfrentará esse ano?

Às vezes a gente pode sofrer por coisas que temos controle e tem coisas que não temos controle. Vamos chamar o que temos controle de política interna e do que a gente não tem controle da política externa. O Trump foi lá e fez umas tarifas, a gente sofre com isso. E tem coisas favoráveis, a diplomacia brasileira que historicamente vai bem, o Itamarati, consegue costurar, mas essas coisas a gente não tem muito o que fazer. Muitas vezes não é nem o dólar que subiu frente ao real, não, às vezes o dólar subiu frente a todo mundo. Mas às vezes é o contrário, às vezes não é o dólar que subiu, é o real que desvalorizou. Em relação às questões externas, a gente está num momento difícil… O Trump é muito controverso, um cara polêmico que anuncia que vai tarifar o mundo todo ao mesmo tempo que negocia com o Putin, que não era um aliado histórico dos Estados Unidos e ninguém sabe o que vai sair disso.

E internamente?

Eu acho que a gente tem um problema, que é um governo que gasta muito historicamente. Gasta mais do que arrecada. É um governo que tem esse negócio de fazer políticas públicas – que eu particularmente não tenho nada contra se fazer políticas públicas, programas sociais, eu por exemplo gosto de programas como bolsa família – mas o problema é o seguinte: quem vai pagar essa conta?

E aí os economistas olham o seguinte: pode arrecadar mais, mas o governo já aumentou muitas alíquotas, continuam aumentando e criou novas. Então criou a alíquota da Bet, criou fundo exclusivo… E aí acaba sobrecarregando. Falou que vai taxar super ricos, aí também não sei. Não ligo, mas os super ricos podem ser tudo, menos burros, então já teve casos na França, por exemplo, que taxaram os super ricos e as pessoas foram embora.

A gente já tem uma relação difícil com impostos porque não temos um bom retorno deles. A saúde pública é ruim. Todo mundo que eu conheço que tem condição de pagar um plano, paga. A mesma coisa vale pra educação privada e pública, segurança privada e pública. A gente tem seguranças armados nos condomínios. A gente paga duas vezes, paga uma vez para o governo e paga o privado.

Sua casa na Granja Viana

Vamos falar um pouco da Granja Viana?

Eu alugo uma casa super boa num condomínio lindo aqui. A Granja tem uma coisa que a gente gosta, que é essa questão de mato, um lugar mais rústico. O Alphaville é lindo, nenhum demérito lá, mas às vezes me parece que você está nos Estados Unidos. Por outro lado, aqui tem seus problemas. No meu condomínio a falta de água é recorrente, a falta de luz, a internet é ruim, em Alphaville, segundo amigos, não tem esse problema. Alguns funcionários do condomínio, que não tem moto nem carro, ficam uma hora e meia para pegar transporte. As próprias avenidas, elas não têm calçada e isso é muito ruim. Isso eu acho que está em descompasso com a arrecadação dos municípios, seja Cotia, seja Embu, seja onde for. A mobilidade é outro problema aqui. A Raposo é um inferno.

E como você está lidando com essa questão de mobilidade?

Ah, eu fico às vezes em São Paulo, e tenho horários alternativos. Sair às 10 da manhã daqui é bem razoável. Agora, sair às 7, às 6 não dá. Isso é muito ruim. É um problema que eu acho que as prefeituras da região vão ter que resolver. Não dá para subir prédio enquanto não tiver uma infraestrutura, seja de acesso pelas vias, seja de luz e água.

Como que você vê o mercado imobiliário na Granja?

Eu acho que a Granja precisa de uma revitalização. Eu vi muitos condomínios antes de alugar. Tem muitos condomínios que eu imagino que tinham uma estrutura excelente na ocasião que foram construídos. Mas a manutenção é muito cara, né? Se a gente for comparar com o Alphaville, não é que os problemas não existam lá, mas são menores. Até segurança em Alphaville tenho a percepção que é maior do que aqui. Acho que a Granja vai precisar se ajustar. O vendedor acha que vale aquilo, o comprador acha que vale menos, menos negócios são feitos. E isso não é bom para o mercado.

Num mesmo condomínio, tem muita variação de preços, eu nem estou falando sobre o tamanho da casa, por m², casas com o mesmo tempo de vida, mesmo perfil, têm valores muito diferentes. Isso é ruim porque na dúvida sobre o valor real, o comprador não compra. A dúvida afasta.

Então eu acho que é um mercado que precisa evoluir com informações, com transparência, e vai passar em algum momento por preço, ou vai descer o preço ou vão ter que fazer um investimento gigantesco para justificar aquele preço, né?

Lazer na Granja: jogar pickleball no Clube Pitangueiras.

Está gostando de morar na Granja? O que você gosta de fazer por aqui?

Eu gosto de fazer mil coisas aqui. Eu estou feliz de estar aqui. Normalmente venho quinta ou sexta. Quando eu não consigo vir, eu fico com saudades da casa, eu tenho vários hábitos aqui. Então, por exemplo, eu jogo pickleball no Clube Pitangueiras, que é um clube tradicional da Granja, e o pessoal lá é sensacional.

Com a esposa Patrícia Turmina

“E é uma comunidade muito legal e de certa forma, isso é um grande ativo da Granja. As pessoas são muito mais assim… conectadas.”

Temos a vista, a piscina. Eu e a Pati fazemos pizza, então a gente faz a massa, espera fermentar, fazemos alguns embutidos também. Temos um telão para ver cinema. Pati estava, agora, regando a mini horta, essas coisas que são pequenas, mas que fazem diferença. Meu filho também adora as crianças daqui, vira e mexe, também traz um amigo de São Paulo para cá.

É um refúgio, né?

É, a balança, não tenho nem dúvida, pesa muito mais para cá. Mesmo se você não quiser sair, não fazer nada, já tem coisas muito legais para curtir na casa. Em São Paulo a vida é muito corrida. Temos vários hobbies de casal, o pickleball, o tênis de mesa, a pizza. O Lucas adora rechear, então isso tudo é muito bacana.

Fale um pouco dos seus trabalhos e projetos atuais. Você tem livros publicados…

Tenho uns 20 livros publicados. Na TV, eu fiquei sete anos na rede Globo, agora eu vou fazer seis anos na Jovem Pan. Também estou pensando em dar aulas, vou tentar concurso na USP. Mas como tempo parcial. E eu tenho duas empresas que eu fundei de inteligência artificial.

Como que você entrou nesse mercado de inteligência artificial, Samy?

Ah, por ser PhD em economia, eu sempre programei. Eu sempre trabalhei com modelos produtivos, com estatísticas…

Conta para gente sobre estes novos projetos.

São duas empresas de IA. Uma delas é a Sampi, que customiza a inteligência artificial para atender empresas de mídia. A outra empresa chama Fresh Codes, que usa IA para questões jurídicas e logísticas. Tudo o que é conteúdo é Sampi, tudo que não é conteúdo é Fresh Codes.

Então você está mais ligado com inteligência artificial do que qualquer outra atividade?

Não, eu sempre fiz várias coisas. Eu sempre dei aula, sempre tive consultoria, faço palestras, eu sempre faço um monte de coisas.

Como você enxerga todo o cenário da IA hoje?

Eu acho que a gente está numa revolução de IA, mas eu não vejo assim a IA ou o ser humano. Acho que o humano com IA vai substituir o humano sem IA. O mundo vai ficar mais produtivo usando toda essa tecnologia, vamos ganhar tempo.

Então usar IA vai ser obrigatório?

É eu acho que já é. Uma grande parte das coisas já são feitas com IA. Tecnologia para otimizar processos. Por exemplo, na Sampi, customizamos conteúdo respeitando todo o manual de redação. Então qual é o tamanho do texto, quais são as fontes jornalísticas que vocês costumam usar, o estilo e construção do texto, o tipo de notícia. A IA é capaz de seguir isso. No caso das empresas jornalísticas, o jornalista vai trazer as informações como sempre trouxe, mas com a IA ele vai produzir muito mais em menos tempo.

Vocês têm a revista Circuito, você criou um público, uma marca, porque vocês mantêm um processo, o cara sabe o que esperar da revista, o anunciante sabe o que esperar. As pessoas que leem a Circuito estão esperando um tipo de matéria, um tipo de redação, um tamanho de matéria, um tipo de abordagem, é no olhar de quem reside na Granja. O que vale na sua empresa é processo.

Onde você se imagina daqui vinte anos? Com que idade pensa em se aposentar?

Eu acho que você tem que ter um patrimônio. Sempre penso em liberdade, opções que você tem de bem-estar. Se você não tem patrimônio, você terá dificuldade de se aposentar e pouca liberdade de escolhas. Não tem como contar apenas com a aposentadoria do governo que é tão pequena. Mas a gente vai moldando a vida, talvez tenha épocas que eu queira dar mais aulas, fazer menos vídeo, seguir mais na TV. Então, eu acho que é um pouco assim, as mudanças na trajetória vão acontecendo conforme seus gostos.

Conselhos de economista…

Às vezes você fala vou me aposentar daqui a 20 anos e trabalha, trabalha, trabalha como se não tivesse direito a nenhum momento de prazer. Eu acho que tem que ter um equilíbrio, você tem que ter um pouco de prazer, você tem que ter um pouco de obrigação.
Pense no futuro, mas viva o presente. A gente não sabe dia de amanhã. A vida não começa depois que você se aposenta. Tem que ser um processo contínuo.

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