Ele nasceu na pequena cidade de Baungarten, ao sul de Viena, na Áustria Imperial. Filho do gravador Ernest Klimt e de Anna Finster, foi o segundo dos sete filhos do casal. Com 14 anos, ingressou na Escola de Artes Decorativas de Viena junto ao seu irmão Ernest. Passaram a auxiliar seu professor na pintura de murais e, em pouco tempo, começaram a receber encomendas para fazê-lo pela cidade. Uma delas foi pintar três grandes painéis para o teto do auditório da Universidade de Viena, representando as figuras da Filosofia, Medicina e Jurisprudência. No painel sobre a saúde, o artista retratou a figura de Hygeia, a filha mitológica do Deus da Medicina, que era identificada com uma cobra. O artista ousou em sua versão, fazendo corpos nus e pelos pubianos, algo nunca feito antes. A obra gerou muita polêmica e revolta. Depois de um dramático impasse entre Klimt e o Ministério da Educação, no qual o artista teria apontado uma arma para os homens que tentavam removê-las, o Ministério recuou e as pinturas permaneceram onde estavam.
Viena era então uma cidade muito conservadora. Nessa época, ainda dominava o historicismo neobarroco, marcado por quadros pomposos e detalhistas. Junto a um grupo de jovens pintores progressistas e desiludido com as restrições da Künstlerhaus – a sociedade à qual todos os artistas vienenses se sentiam obrigados a pertencer – Klimt resolveu fundar a Secessão de Viena, tornando-se seu presidente. Provocativo, o novo estilo da Secessão, que se tornou o que conhecemos por Art Nouveau, valorizava o decorativo e o ornamental, determinando formas tridimensionais delicadas, sinuosas, onduladas e sempre assimétricas, uma quebra total de estilo e conceito. Foi uma reação individualista de conteúdo romântico frente às tendências ecléticas e ao classicismo acadêmico.
Com seu estilo rebelde de ser e de se vestir, na maioria das vezes envolto em uma túnica escura, Gustav Klimt tornou-se uma figura exótica na cena artística. É fato que muitos artistas estudaram o corpo feminino, mas os nus de Klimt se mostraram muito íntimos, provocativos e, portanto, ultrajantes para sua época. Somente em meados de 1917 recebeu o devido reconhecimento, ao ser eleito membro honorário da Academia. Gustav Klimt faleceu em Viena, Áustria, de apoplexia, no dia 6 de fevereiro de 1918.
VAMOS OBSERVAR
O Beijo
1907-1908
Óleo e folhas de ouro sobre tela
180 × 180 cm
Österreichische Galerie Belvedere, Viena
Executada entre 1907 e 1908, em folhas de ouro e óleo sobre tela, medindo 180 x 180 centímetros, é uma das obras mais famosas de Klimt e uma das mais conhecidas de todos os tempos. Seu tamanho, praticamente real, transporta os espectadores para dentro da pintura, trazendo uma imediata identificação com a mesma.
A obra pertence ao período da fase dourada do pintor. Gustav sempre foi fascinado por ouro e metais por causa de seu pai, que era gravador. Por isso, trazê-los para as suas telas foi natural. Além desta inovação, o artista também juntou retratos feitos a óleo de forma clássica e o que no futuro chamaríamos de geometria abstrata.
A força masculina dominante na pintura é representada pela poderosa capa de blocos pretos e cinzas, suavizada pela ondulação orgânica feminina, que lembra a árvore da vida. A feminidade é representada por círculos, motivos florais brilhantes e linhas onduladas, que fluem para cima. A chuva dourada abençoa a união do casal e as folhas triangulares lembram imagens de água. O casal transmite a sensação de desejo erótico, de clímax e de intenso prazer. É impossível olhar para essa obra, que reproduz os mosaicos bizantinos de Ravenna (Itália), sem se fixar e deixar a mente viajar para um subconsciente enigmático. Outra inspiração evidente é a arte japonesa, sempre presente nos trabalhos do artista.
Existem outras interpretações d’O Beijo. Alguns críticos dizem que Klimt pintou uma cena de um mito grego, a triste despedida entre Dafne e Apolo, que ocorre pouco antes de ela se tornar uma árvore de louro. Além da originalidade e beleza da obra, talvez seja o desejo secreto, pertencente ao imaginário coletivo, que contribuiu para que as pinturas de Klimt sejam amplamente reproduzidas em camisetas, bolsas, canecas e em uma infinidade de itens.
Pouco é realmente sabido sobre o artista. Diziam que ele nunca se casou ou se envolveu de verdade com alguém, mas teve muitos casos e 14 filhos com mulheres diferentes. Talvez por isso o pintor era tão fascinado com o tema amor e erotismo. Apesar de muita especulação sobre sua vida, disse uma vez: “Quem quiser saber alguma coisa sobre mim deve olhar atentamente para as minhas obras e procurar reconhecer o que sou e o que quero”.
Por Milenna saraiva é artista visual, formada pelo Santa Monica College, em Los
Angeles, EUA. É galerista da Casa Galeria, espaço de arte contemporânea.