Barbara Bruna é filha de um dos casais mais famosos da televisão brasileira, Nicette Bruno e Paulo Goulart. Aos 65 anos, a atriz, diretora e produtora é mãe de Vanessa Goulartt, que também rumou para a carreira artística. É uma verdadeira família em cena! Nascidas em coxia de teatro, cresceram brincando com personagens dos mais variados tipos, completamente livres no tempo e no espaço. Embora o palco seja onde tudo pode, aprenderam com o teatro a disciplina, o respeito, o questionamento e a resistência. Falam de relações, espiritualidade e vida. E como amam viver. Barbara, há um ano, renasceu, depois de 22 dias internada por complicações com a Covid-19. Vanessa descobriu uma fé inabalável e encontrou forças nas letras. Poetisa e super espiritualizada, usa o poder das palavras e o tarô para tornar o viver mais leve. E a Granja, qual papel desempenha nisso tudo? É onde Vanessa se diz em paz e acolhida de maneira incrível. Em frente à sua casa, há um ipê lindo, daqueles amarelos bem vistosos e floridos, que traz a certeza da renovação, da volta do colorido em meio ao cinza, do frescor e das bênçãos primaveris a cada finzinho de inverno. Próximo a ele, estão mãe e filha espalhando alegria e otimismo. Como uma explosão de raios solares nas flores amarelas do ipê, em um bate-papo descontraído permeado por uma energia ímpar, Barbara e Vanessa abriram a caixinha mágica das memórias, mergulhando na história da família que é precursora do teatro brasileiro e também em suas próprias trajetórias.
Intersecção dos tempos: como é lindo sentir que passado e presente são uma coisa só, ao ver mãe e filha juntas. Como é a relação de vocês?
Vanessa Goulartt: Minha mãe é minha base. E o interessante é que essa relação é de conquista. Já tivemos muitas diferenças e, hoje em dia, temos um relacionamento tão lindo e forte que chego a ficar emocionada. Minha mãe hoje é meu tudo, minha referência, meu exemplo… (respira fundo) Ela me ensina todos os dias.
Barbara Bruno: Fico muito muito feliz e emocionada em ouvir isso. E é verdade: é uma relação de conquista e, por isso, é tão bonita… É uma via de mão dupla. A Vanessa me ensinou muito, muito mesmo. Quando a gente se torna mãe, a primeira coisa que acontece, no bom sentido, é deixar de se pertencer. A vida passa a ter outro significado e você amplia sua estada neste planeta. Se tiver humildade, maturidade e estiver aberta a aprender com esta relação, ela será extremamente frutífera, porque a relação entre mãe e filho é a mais profunda que existe.

Sempre com a casa cheia, a saudosa Nicette Bruno resumia a união da família em uma palavra: “Fundamental”. Para vocês, qual o sentido da família?
VG: Significa porto seguro e amizade, onde nos sentimos acolhidos e temos a oportunidade de ser quem realmente somos. (para e pensa) Meu avô e minha avó sempre falaram muito sobre união. Amizade é fundamental em qualquer relação e ter esta confiança dentro da família é o que dá forças para seguir.
BB: A família é, sem dúvida, a base para toda a sociedade. Porque é esse núcleo que prepara para a vida, seja de maneira positiva ou não. É a partir dela que começa nossa formação. Por isso, ela é tão importante, principalmente quando essa base é sólida, forte e, principalmente, verdadeira.
Admirada por muitos brasileiros, a Família Bruno Goulart, formada pelos talentosos e saudosos Paulo Goulart e Nicette Bruno, foi homenageada em curso de teatro e você, Vanessa, neta do casal, esteve à frente de aulas que contaram a trajetória dos artistas nas artes. Como foi essa experiência?
VG: Foi um convite da SP Escola de Teatro que me surpreendeu e me deixou muito feliz. Montamos um curso sobre o teatro brasileiro através da história da minha família e foi um processo muito legal. Foram momentos de trocas profundas. Aprendi e descobri muitas coisas. A gente acha que sabe tudo, mas descobre que não é bem assim. Foi uma troca fundamental. Preparei um material gráfico que contava a história da minha família e, em paralelo, a história do teatro, já que meu avô e minha avó ajudaram a construí-lo. Além disso, tem as raízes da minha bisavó Rosa, que fazia saraus em casa. Foi uma viagem muito profunda nas minhas origens e o resultado ficou realmente muito legal.

Você acaba de citar sua importância para o teatro brasileiro e, inclusive, a família foi homenageada, em 2006, na 18ª edição do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro, pela união e realizações teatrais ao longo de mais de duas décadas. Vir de uma família de artistas e nascer praticamente nos bastidores foram fatores decisivos para a escolha da carreira de vocês?
BB: Foi decisivo sim, mas não fundamental.
VG: Definitivo, talvez…
BB: Não, definitivo não! Porque, definitivamente, a vida não é definitiva. (risos) Aliás,
tem uma frase que eu gosto muito: “Penso, logo mudo de ideia”. Claro que o fato de nascer numa coxia de teatro faz parte da sua formação e do seu dia-a-dia, mas isso não significa que fará disso a sua profissão. (para e pensa) Mas o mais importante, em qualquer situação, é ter segurança naquilo que quer fazer. Porque, afinal de contas, ninguém consegue ser feliz fazendo aquilo que não gosta. Só atingimos a felicidade quando estamos satisfeitos com o que estamos produzindo.
E quando você percebeu que era a carreira de atriz que queria seguir?
BB: Quando eu mamava na coxia do teatro. (risos) Nunca tive dúvidas do que eu queria
seguir. Isso não significa que eu não tenha tido outras experiências. Sou formada em Publicidade e Propaganda e trabalhei em agência de publicidade por alguns anos, como redatora e diretora de comerciais. (para e pensa) Sabe, a nossa profissão é instável. Então, temos que exercer outras áreas em várias épocas da vida para poder coadunar todas as coisas. Mas meu objetivo e minha meta sempre foram o palco. Nunca fiquei longe dele.
Como seus pais reagiram, quando optou pela mesma carreira deles?
BB: A princípio, com bastante preocupação, exatamente para não correr o risco de cair nessa armadilha de seguir a carreira por influência deles ou qualquer outra coisa parecida. Mas eu, particularmente, nunca tive a menor dúvida. Eu sempre soube o que eu queria exatamente fazer da minha vida. Como eu sou a filha mais velha e o mais velho é sempre o primeiro a passar por essas experiências, tive que fazer até teste vocacional. Tanto comigo quanto com meus irmãos, o estudo sempre foi primordial e deveria estar em primeiro lugar. Era a condição sine qua non para seguir na carreira.
E quando a Vanessa decidiu seguir a carreira de atriz, como recebeu a notícia?
BB: Eu respeitei. (risos) Mesmo porque eu já tinha experiência como filha. Eu sempre procurei dar o apoio para ela, mas com muito pé no chão. Isso meus pais me ensinaram, e o que eu vou falar agora são palavras do meu pai: “Nunca deixe de sonhar, nunca deixe de voar, mas para você voar e sonhar, precisa ter os pés no chão”. Isso foi uma lição de vida para mim e foi o que eu procurei passar para meus filhos, mas principalmente para Vanessa, pela profissão que ela havia escolhido.
VG: Até porque temos as referências positivas e negativas também, sobre a profissão. Sabemos realmente como a coisa funciona.
Pelo fato de terem nascido em uma família tão talentosa, já sentiram o peso dessa responsabilidade?
BB: No começo, sim. Mas só até adquirir a própria autoconfiança. Não falo da gente para os outros, mas da gente para a gente mesmo. A dificuldade do começo é adquirir segurança.
VG: Principalmente pelo fato das pessoas acharem que você tem um facilitador. Na verdade, isso não existe. Você tem as mesmas dificuldades e, às vezes, até mais, justamente por isso. Eu até escrevi Ossos do Ofício, uma comédia-desabafo em que
eu falava sobre esse assunto. É paradoxal.
BB: O fato de ter nascido em uma família de atores e ter a “serragem” na veia te prepara para a profissão. Mas precisa ir além: ter disciplina e a noção de que está sempre aprendendo. Estamos sempre buscando elementos novos. E isso é uma coisa curiosa na nossa profissão: por mais tempo de janela ou mais experiência que se tenha, o novo trabalho será sempre uma coisa nunca antes feita. É um desafio e um frescor constante. Estamos sempre mergulhando sem rede protetora.
Para você, Barbara, que cresceu na coxia de teatro, tem alguma história de bastidor para compartilhar conosco?
BB: Ah, muitas… (para e pensa) Tem uma divertida. Mamãe estava grávida do Paulinho (o ator Paulo Goulart Filho), fazendo A Megera Domada. Meu pai também fazia a peça e tinha uma cena em que os dois personagens começavam a brigar: papai pegava, colocava mamãe na mesa e deitava sobre ela. Beth (Goulart) e eu estávamos na plateia, ela com 4 anos e eu, por volta de 9. Quando aquela cena passou a ser encenada, a Beth começou a gritar “vai matar meu irmão, vai matar meu irmão”. (risos) Eu falava: “pelo amor de Deus, Beth, isso é teatro”. Ou seja, nós duas protagonizamos outra cena na plateia. Fui tirando a Beth, aos prantos, rapidamente dali, enquanto o pai e minha mãe continuavam atuando como se nada estivesse acontecendo. (risos)
Atriz, diretora e produtora brasileira. Interpretou diversos personagens durante sua trajetória no teatro e na televisão. Também dirigiu e produziu espetáculos para o teatro. Barbara, fale-nos um pouco da sua carreira, que começou em 1972, não?
BB: Antes disso, eu tive outras experiências bem interessantes. Com uns oito anos, em Curitiba, fazia um programa ao vivo com os meus pais, Dona Jandira em Busca da Felicidade. Era uma espécie de A Grande Família, que fez muito sucesso. Mas meu primeiro contrato profissional foi com a TV Tupi, em 1972, fazendo a novela Camomila e Bem-Me-Quer, de Ivani Ribeiro. Devo o início da minha carreira ao Cláudio Roberto de Castro, que foi meu mestre. A TV Tupi estava querendo lançar atores novos e, aos 16 anos, fui indicada pelo Cláudio para fazer teste para a novela das seis. Passei. E não parei até hoje, graças a Deus. Nunca fiz as contas de quantos papéis interpretei, mas foram muitos. Eu já fiz até papel de dente. (risos) Era em um evento, o Paulinho vestido de Tridente e eu, de dente. (risos)
E o que falta fazer na sua carreira?
BB: Tudo! (risos) Estou sempre recomeçando, querendo novos desafios e novas propostas. Sou movida a estímulos. Então, eu não estou satisfeita. Mas não no sentido de não ser grata por tudo que eu já fiz. Ao contrário, sou extremamente grata. Tudo que já fiz me prepara para o tanto que eu ainda tenho a fazer. Estou sempre indo à frente, querendo dar dois passos adiante. Então, me falta fazer tudo. Minha cabeça está sempre ativa. Tenho muitos projetos, mas se vou realizar não sei. Mesmo assim, estou sempre ativando a minha possibilidade de feitura. No momento, estou com um espetáculo delicioso, As Meninas Velhas, com texto muito feliz de Cláudio Tovar. Somos quatro em cena: eu, Lucinha Lins, Nadia Nardini e Sônia de Paula.
Barbara, você se diz fascinada pelo teatro, mas não tem preferência entre atuar e dirigir. O importante é fazer arte?
BB: Com certeza! Importante para mim é estar sempre em atividade trabalhando. Eu gosto das três linguagens – televisão, cinema e teatro -, todas me fascinam. Mas eu tenho uma ligação maior com o teatro. É onde eu literalmente me sinto em casa.

Diante desta multiplicidade de papéis, sua mãe é uma inspiração para você, Vanessa?
VG: Sem dúvidas! Essa vivacidade que ela tem, esse sangue nos olhos, essa vontade
de estar sempre se renovando… tudo isso é muito inspirador. Então, é impossível conviver com a minha mãe sem se inspirar.
E sua carreira, começou por acaso, não? Na escola. E é verdade que ninguém sabia de quem você era filha e neta, Vanessa?
VG: Marilu Alvarez estava montando A cegonha boa de bico, escalando crianças para os papéis. Como os filhos dela estudavam comigo, ela foi assistir a uma peça de final de ano da escola e me viu fazendo um palhacinho que conduzia a história. Gostou e, sem saber quem eu era, fez o convite e me deu um cartão. Fiquei empolgadíssima e minha mãe me levou até a agência. Foi ali, naquela hora, que ela ficou sabendo de quem eu era neta. (risos)
BB: Estava escrito nas estrelas.

Recebeu o prêmio APETESP como atriz revelação em 1985, por sua atuação nesta peça, e das mãos da sua bisavó Nonoca. Como foi este momento?
VG: Olha quanto tempo faz… era uma menininha de 9 anos. (sorri) Recebi o prêmio das mãos da minha avó Eleonor Bruno, conhecida carinhosamente como Nonoca – e esse é, inclusive, o nome de uma das minhas gatas. Foi uma noite inesquecível. Marcante. Memorável. Ficou registradíssimo na minha memória e no meu coração. Eu chorava muito e lembro que, quando subi no palco para receber o prêmio, a vovó me dizia “não chora, filhinha, não chora” e isso ficou guardado na minha cabeça. Mas não dava para segurar.
BB: Ficar ali assistindo de camarote minha filha e minha avó no palco em um momento de emoção tão grande… E de justiça também. Porque o trabalho da Vanessa realmente era muito bom. Me deu um orgulho e um prazer enormes.
VG: Era um prêmio que não existe mais. Quem votava eram os próprios atores, então tinha um significado bem bacana.

De lá para cá, o que pode destacar de sua carreira?
VG: A cegonha boa de bico foi a minha estreia, aos 9 anos. Fazia seis personagens, era uma delícia e eu, como criança, me divertia muito. Fizemos essa peça por uns três anos, passamos por vários teatros. Depois, aos 12, fiz Quai Ouest, outro trabalho bem marcante. Era uma peça do francês Bernard-Marie Koltès, uma pessoa ousada que me desafiou bastante. E foi a primeira vez que eu me encontrei no mesmo palco com a minha mãe. Depois, nos encontramos de novo, mas eu como atriz e ela, diretora. Já participei de mais de 15 peças teatrais, além de longas-metragens e novelas. De cinema, posso destacar Dois Córregos. Foi uma experiência maravilhosa, de imersão mesmo, bem interessante. Nós ficamos dois meses morando na cidade de Dois Córregos (SP) e vivenciando o filme totalmente. Tenho muito orgulho do resultado desse trabalho.

O que gostaria de realizar e ainda não fez? Tem projetos futuros?
VG: Ah, tem tanta coisa… (para e pensa) Tenho paixão pela Aracy de Almeida (cantora) e um projeto sobre ela. Ela é uma mulher que me inspira em muitas coisas. É uma ideia ainda bem embrionária, que está no meu coração e na minha cabeça, mas que um dia colocarei em prática.

É formada em Jornalismo e comanda o programa “Dezpradronizada”, na Rádio Vibe Mundial. Aliás, você não esconde seu amor pela comunicação.
VG: Sou uma apaixonada pela comunicação e o programa Dezpadronizada é a minha maior expressão. Vim nesse mundo para me comunicar e disso eu não tenho dúvida.
BB: Ela é assim desde pequenininha. Com 4 ou 5 anos, Vanessa brincava de entrevistar,
de fazer personagens, criava comerciais. A comunicação nasceu com ela.
E também tem amor pelas letras. “Mantenha-se em estado de poesia e uma pedra jamais será só uma pedra”. “Em vez de desespero, diz espero”. Estas são frases publicadas no seu Instagram, que nos chamam a atenção. De onde vem este lado poetisa, Vanessa?
VG: Vem da alma, do coração, da sensibilidade… Esta é a minha maneira de ver a vida, traduzida em palavras. Tenho um projeto de transformar essas frases em um livro com o nome Frases Curtas Para Dias Longos. É para ser consultado naqueles dias em que precisamos dar uma parada, uma respirada. Assim, um dia longo pode se tornar um dia curto.
Você também é bem espiritualizada e acrescentou um T no nome artístico por conta da numerologia. Lê tarô e, durante a pandemia, lançou site de consultas esotéricas como forma de atenção espiritual durante o isolamento social.
VG: Sim, nossa família tem um lado espiritualizado bem aflorado. (sorri) Fiz um estudo numerológico há muito tempo, me aconselharam colocar 2 Ts e eu gostei da assinatura assim. Um dia, o vovô chegou para mim e perguntou: “Minha filha, você vai continuar com esses dois Ts?”. Pensei em qual resposta iria dar e, em uma fração de segundos, eu respondi: “Sim, vovô, com dois Ts. Eu estou homenageando o senhor e a vovó, Goulart e Nicette”. Aí ele abençoou. (risos) Comecei a estudar o tarô com nove anos de idade (para e pensa) e só para você ver: com 9 anos, aconteceu muita coisa na minha vida. Foi um divisor de águas. Eu passei em frente a uma banca e vi uma revista com o tarô. Fiquei fascinada por aquilo. Já em casa, pedi dinheiro para vovó Nonoca para poder comprar a revista que me fascinou com aquelas cartas. Comecei a estudar e não parei mais.

Será que foi esta espiritualidade que a trouxe para a Granja Viana?
VG: Eu vim para cá por uma série de coisas. Morava no centro de São Paulo e quase não saía, por causa da pandemia. Queria um lugar também por conta dos meus gatos. Como estava fazendo tudo de casa e não ia depender de carro… vim pela qualidade de vida. A Granja é um outro ambiente, onde me sinto muito em paz. É um lugar que me acolheu de maneira incrível, onde fiz vários amigos e tenho certeza que são para vida toda. Tenho uma história com o ipê amarelo que fica na frente da minha casa. Um amigo meu de Parati, o artista plástico Alan Richer, pintou um quadro de ipê amarelo, que eu era apaixonada. Na época, fui até buscar o significado e era renovação, nova fase… Por coincidência, enquanto estava procurando casas para mudar, vi uma reportagem na TV que falava sobre ipês amarelos. E à noite do mesmo dia, recebi uma opção de casa num condomínio chamado Valle dos Ipês. Fiquei encantada pela casa e, quando olho pela janela, vejo um ipê na garagem, simplesmente igual ao quadro. (sorri) Sim, acho que a espiritualidade aprontou nesse sentido.
BB: E a Granja é uma delícia. Sempre vou com a Vanessa tomar um café no Open Mall The Square, à missa dominical no Arautos do Evangelho, aos templos budistas… Tem muita opção bonita e de fortalecimento espiritual.


Maio é um mês especial. Além de Dia das Mães, há outra data importante: o seu “renascimento”, como você mesma descreveu, Barbara, depois de passar 22 dias internada, inclusive intubada, por complicações da Covid-19. Que lições tirou dessa experiência?
BB: Verdade, eu sou uma sobrevivente. Em primeiro lugar, o que eu aprendi… Na verdade, eu já sabia, mas se confirmou: é que a vida não começa no berço e nem termina no túmulo. A vida é muito maior do que isso. A gente passa a ter uma outra visão e a dar importância ao nosso dia-a-dia, a olhar mais para dentro, a se enxergar melhor e, consequentemente, a enxergar o próximo também de uma forma mais ampla. Eu acho que esse é o maior aprendizado do renascimento.

VG: Sabe, não foi nada fácil, não, esse momento. Mas eu me apeguei bastante à fé. Ela se multiplicou e foi o que me segurou, ainda mais depois de ter perdido a minha avó meses antes pela mesma doença. (respira) O retorno da minha mãe… eu não tenho palavras para descrever e toda gratidão do mundo não vai ser capaz de agradecer a bênção que foi. Eu até brinco que não posso pedir mais nada. (risos) O estado de gratidão permeia ainda mais os meus dias.
BB: Lembro que, quando eu estava lá naquele momento, eu pensava: “Mamãe, papai, vovó, me deem colo, mas não me levem (risos), ainda não é a hora. Eu só quero colo”.


Você acaba de citar sua avó, Vanessa, e no seu Instagram, inclusive, rende homenagens frequentes a ela. Em uma linda, diga-se de passagem, você escreveu: “A luz que emana dessa flor e de nossos sorrisos me alimenta de amor. Te amo, vó, meu girassol!”. O que a sua avó representou para você e como foi lidar com a morte dela?
VG: Ela é um girassol, uma força da natureza, uma luz brilhante que passou por essa terra e que eu tive o privilégio de chamar de avó. Ela foi a base de muita coisa na minha vida e ainda é, porque ela é eterna para todos que a amam – e ela é muito amada. Foi difícil, claro que foi, porque a saudade é gigantesca. Mas, como sempre, a espiritualidade e a fé nos seguram e nos fazem crer que nada acaba. O amor é eterno e está presente o tempo inteiro.
BB: Uma frase que eu gosto de dizer sempre, e que é muito verdadeira, é: “A saudade é grande, mas, sem dúvida nenhuma, o amor é muito maior”. Foram os maiores legados que o meu pai e a minha mãe me deixaram. Claro que é difícil passar pela perda, isso não tem jeito. É preciso enfrentar a dor, porque faz parte da vida, mas a certeza de que essa ligação continua e é eterna fortalece para seguir caminhando. Outro grande legado que papai e mamãe deixaram foi da ação. Eles eram dois seres humanos em que a ação esteve à frente do discurso, e não o contrário.
E qual legado vocês esperam deixar?
BB: Ah, isso não posso responder… (risos) Deixa para os que vierem depois falar.
VG: Acho que é isso que a mamãe falou quando citou o vovô e a vovó. É, ser quem você é, lidar com a sua essência e falar através de atitudes e exemplos. Quero deixar o mesmo legado que eles, porque muitas pessoas têm discurso, mas não têm ação. (para e pensa) E que eu, acima de tudo, seja exatamente verdadeira com a minha essência.
BB: E que sempre estejamos prontos para o progresso.
VG: Isso, sempre para frente. Porque é para frente que se anda.
Por Juliana Martins Machado
FOTO: Wanzza Vieira @wanzzavieirafotógrafa
ESTILO: Barbara Bruno usa @amosavannahbrand e @anacasteliloja / Vanessa Goulartt usa
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