“Cada vez mais, vejo que a música independente cresce no Brasil”, revela o produtor Solano Ribeiro

A denominação Música Popular Brasileira foi criada por ele. Responsável pelos festivais de música das tevês Excelsior e Record, que agitaram o Brasil nos anos 60, ele foi, ainda por cima, o primeiro namorado de Elis Regina. Como se vê, o produtor Solano Ribeiro tem muita história para contar e, na recente edição do Circuito Almanaque, ele revelou alguns trechos de sua carreira e bastidores da música brasileira.

Contou que seu sonho era ser ator e, depois, como ele mesmo diz, foi chamado pelo seu instinto a fazer música. “São muitos anos de estrada, muita poeira, muito buraco, muito obstáculo. Mas estamos aí prosseguindo”, comentou.

Solano foi o grande mestre dos festivais de MPB que sacudiu a década de 1960, dando voz a consagrados artistas, como Chico Buarque, Jair Rodrigues, Nara Leão e Elis Regina. “O grande sucesso dos festivas foi que ele abriu espaço para uma nova geração de cantores, músicos e compositores. Foi o que criou a MPB. Aliás, este termo vem do nome do festival, que era Festival Nacional da Música Popular Brasileira. Como era comprido, foram eliminando palavras e virou festival da MPB e MPB serviu para rotular toda uma geração nova de artistas”, revelou.

Autor do livro Prepare Seu Coração, revelou as peripécias dos bastidores neste glorioso período e de que forma toda uma geração de grandes intérpretes se impôs pelo talento e colocou o debate cultural no centro de um momento político dos mais terríveis da história brasileira: a ditadura militar.

Além do passado, falou do presente e também do futuro. Apresenta o programa “Nova Música do Brasil”, que já ganhou dois prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA ), um como Melhor Musical do Rádio e outro como incentivo cultural, porque criou o Troféu Catavento. “Em agosto, completamos 14 anos de programa, realizado com artistas praticamente desconhecidos. Filtro, ouço e seleciono o tempo todo”, descreve. Em andamento, está o projeto “Lista de Solano Ribeiro” para abrir espaço para música nova. “Cada vez mais, vejo que a música independente cresce no Brasil. Se alguma emissora perceber isso, poderemos reviver um movimento musical ainda mais forte que a bossa nova e os festivais”, acredita.

Citou alguns nomes de novos artistas, comparou os anos 60 com o momento atual, falou das novas relações no mercado musical, contou porquê escolheu a Granja Viana nos anos 80 para morar e, claro, fez suas apostas para o futuro da música. Quando questionado sobre a dica de ouro para quem quer se enveredar pelo mercado fonográfico, cita o escritor russo Leon Tolstói: “se você quiser falar para o mundo, fale para o seu quintal”.


Relembrando
Solano Ribeiro foi capa da Revista Circuito em janeiro de 2016. Na época, nossa equipe foi até a TV Cultura para entrevista-lo. Bater um papo gostoso com ele pelos estúdios de rádio da emissora foi uma verdadeira viagem ao passado, à história, ao romantismo e à politização que a música popular brasileira, um dia, proporcionou com força e solidez.

 

Por Juliana Martins Machado

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