E a dengue continua preocupando…

Número de casos de dengue disparou nesse começo de ano. Conversamos com as prefeituras de Cotia e Carapicuíba que apontaram as ações que vem desenvolvendo para conter a doença.

Após um verão bastante úmido que ainda está sendo marcado por chuvas intensas e o famigerado surto do novo Corona Vírus (COVID-19), o número registrado de casos de Dengue dispara nesse começo de ano por todo o país. Esse agravamento está relacionado com a formação de pontos com água parada e as altas temperaturas de dezembro e janeiro, elementos que favorecem a reprodução do mosquito Aedes Aegypti.

De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, já foram notificados 94.149 casos prováveis (existe uma medição por taxa de incidência na qual são 44,80 casos por 100 mil habitantes) de Dengue só nas cinco primeiras semanas deste ano. A região com o número mais alarmante é a Centro-Oeste, com 105,75 casos/100 mil habitantes. Seguida pela região Sul, com 85,36/100 mil habitantes, e os estados do Norte, com 28,68 casos/100 mil habitantes. A região Nordeste aponta os menores números de incidentes, com 8,58 casos/100 mil habitantes.

Na pesquisa, foram constatados 59 casos de dengue na categoria grave (DG) e outros 623 casos com situações de alarme (DSA), porém ainda há 149 sendo investigados. Em todo o Brasil, foram 14 mortes, sendo destas, 2 no estado de São Paulo. Os especialistas acreditam que esses números sejam ainda mais alarmantes se somados aos números registrados nas secretarias de saúde de cada município.

Conforme relatos de alguns profissionais da área da saúde, aqui em Cotia também houve um aumento no número de pessoas com dengue nas últimas semanas. A prefeitura ainda não divulgou o número preciso dos casos confirmados pela secretaria da saúde, mas de acordo com a coordenadora da vigilância ambiental, Páscoa Bichiato, diante desse e outros surtos, é preciso que todo morador cumpra seu papel igualmente na luta contra o mosquito: “O período do verão é o mais propício à proliferação do mosquito Aedes Aegypti, por causa das chuvas, e consequentemente é a época de maior risco de infecção por doenças transmitidas por ele. No entanto, a recomendação é não descuidar nenhum dia do ano e manter as posturas possíveis em ação para prevenir focos em qualquer época do ano. A população deve ficar atenta e redobrar os cuidados para eliminar possíveis criadouros do mosquito. Essa é a única forma de prevenção, por isso, as autoridades em saúde pública reforçam o pedido para que todo o morador faça a sua parte nesta luta contra o Aedes”.

Algumas unidades de Pronto Atendimento da região confirmaram atender alguns pacientes com suspeita de dengue e oferecer tratamento no caso de confirmações da doença nesse começo de ano. No bairro Parque São George, a enfermeira da unidade de saúde local Deilde Correia conta que manter a população alerta com medidas dentro de seu lar é a mais eficiente forma de combate à dengue em frente a esse aumento. Para a especialista, também é importante que as pessoas fiquem atentas aos sintomas, que em alguns casos é confundido com gripe ou febre, e procure unidades de saúde como precaução. “A aengue tem como alguns dos sintomas, em sua forma mais comum, febre alta, dores pelo corpo, mal estar geral e manchas pela pele. É importante ficar atento para que haja tratamento imediato no caso dessas suspeitas serem confirmadas, pois muita gente confunde com outros casos clínicos”, explica.

Clima quente e úmido, foto tirada no centro da Granja Viana

Como acontece a reprodução e a transmissão?

A dengue é uma doença febril ocasionada por um vírus, que tem sua transmissão apenas pela fêmea do mosquito Aedes Aegypti. Esses mosquitos fazem sua reprodução em áreas tropicais e subtropicais, pois ambientes quentes e úmidos favorecem a procriação de suas larvas.

Mas as fêmeas do mosquito precisam de mais um item para que o vírus seja transmitido: o sangue humano. Na verdade, ela precisa do sangue humano para que seus ovos sejam “amadurecidos”, e então, apenas para a reprodução é que ela se dirige a ambientes com água parada para depositá-los. Então após a eclosão dos ovos, as larvas se desenvolvem chegando ao estágio da pupa e, por fim, o mosquito. A alta temperatura ajuda nesse processo de crescimento e reprodução das larvas. Quando estes mosquitos picam uma pessoa, que uma vez tenha sido contaminada pela fêmea, passam a carregar e transmitir o vírus da dengue também.

Quintal de uma casa na altura do km 24 da Raposo Tavares

Formas de combate

Quando se trata de medidas contra a dengue, o mais importante é a prevenção. Através de práticas simples como não deixar água acumulada em objetos (pneus, baldes, latas e etc.) no quintal de casa ou com o uso de repelente, pode-se fazer a diferença no combate à doença.

Em Cotia, os moradores contam com visitas domiciliares para auxiliar nessa prática. A prefeitura está disponibilizando agentes de saúde que, além de fazer os percursos pelas ruas, de casa em casa, está se intensificando com as visitas também aos finais de semana, tendo em vista famílias que trabalham de segunda a sexta-feira. Esses agentes atuam primeiramente em casos notificados que apresentam maior emergência, locais de denúncia ou pontos mais propícios de formação de água parada em meio às estações chuvosas.

Alguns dos moradores da região que já receberam a visita destes agentes contam que tiveram várias orientações sobre medidas que poderiam tomar em suas residências para não facilitar a reprodução do mosquito mesmo em estações chuvosas, como é o caso da família do Sr°. Benedito Lopes, aposentado, de 71 anos. “Sim, aqui no bairro eles sempre passam. E aqui em casa procuramos não deixar nada que acumule água, fechando caixas d’água, etc”, comenta.

Por outro lado, há também aqueles moradores que mesmo não tendo essas visitas até o momento, tomaram eles mesmos iniciativas para resolver o problema. A Sra. Eliana Cordeiro de Souza, 36 anos, encontrou uma alternativa, que como ela brinca junta o “útil e o agradável”. “Na minha casa, eu e minhas filhas gostamos de reciclar para não deixar aquele monte de coisas juntando água no quintal. A gente costuma separar vários tipos de lixo para reaproveitar. Por exemplo, juntamos tampinhas de garrafas em sacos e então levamos para um hospital em Cotia que recicla o plástico e transforma em cadeiras de rodas”, conta.

Em casa próxima à Rodovia Raposo Tavares, vemos vários recipientes com água parada.

Mas não são todos os moradores que abrem suas portas para ter esse suporte e serem orientados quanto à disposição dos objetos de seu quintal. De acordo com a Secretaria da Saúde programa de Controle do Mosquito encontra-se embasado pelo Plano Nacional / Ministério da Saúdeno ano de 2019 foram vistoriados 62.675 imóveis, dos quais 49,46% estavam fechados ou se recusaram a ter a inspeção. Nas residências observadas, foram constatados criadouros com larvas de Aedes Aegypti em caixas de água, baldes/regador, garrafas retornáveis, latas, frascos, material de construção, piscina desmontável, prato, pingadeira, vaso de planta, pneus, ralos, piscinas, bromélias, calhas, lonas, encerados etc. A coordenadora Páscoa Bichiato declara que, além disso, existem criadouros, que em alguns casos necessitam de um cuidado especial. Por isso seria importante que essas vistorias fossem feitas em todas as casas adequadamente. “Quando os criadouros permitem a remoção (controle mecânico), estes são retirados e lançados no lixo. No entanto, nem todo criadouro permite este tipo de controle, tornando-se necessário o uso de larvicida específico e recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Todas as ações realizadas possuem caráter preventivo, onde são distribuídas telas para vedamento de caixas de água sem tampa e folder ilustrativo dos controles diários para os moradores”, explica.

Áreas com descarte de lixo e água parada no Jardim da Glória

Em quadros similares, quando houve aumento alarmante de dengue aqui no estado de São Paulo, as prefeituras já chegaram a criar métodos e projetos alternativos para reduzir esses números também.  Há alguns anos, na cidade de Castilho, no interior de São Paulo, foi criado um programa de recompensas para incentivar todos os moradores a se mobilizar contra o mosquito. As casas eram visitadas e classificadas com base na disposição de objetos com água acumulada, e então, os donos das residências “regulares” podiam receber uma quantia de até R$ 300,00 como prêmio.

Em Piracicaba, também houve um projeto alternativo, mas desta vez usando mosquitos transgênicos. O resultado foi tão efetivo, chegando a diminuir em 82% os casos naquele ano, que o município tem procurado estender esse método para outros locais ali na região.

Outras cidades tem usado a tecnologia como forma de combater o mosquito, através de aplicativos em que os moradores podem tirar fotos, registrar pontos comuns de acúmulo de água e até mesmo casos de pessoas diretamente afetadas pela doença.

Aqui na região, algumas alternativas já foram previamente exploradas. Em abril de 2019, a Câmara Municipal de Carapicuíba aprovou o plantio da Citronela como forma de combate. A planta é fácil de cultivar e pode ser um forte aliado contra diversas espécies de mosquitos, não apenas o Aedes Aegypti, uma vez que funciona como repelente natural devido ao cheiro que produz.

Poças formadas próximo à rodovia raposo tavares

A enfermeira Deilde Correia conclui que o uso da erva traz resultados, mas continuar informando aos cidadãos sobre a dengue pode ser o mais importante nesse momento. “A precaução se faz necessária para evitar a proliferação do mosquito em águas paradas. Existe também a vacina, mas o cuidado dentro das residências é que é essencial para evitar a doença. O uso da Citronela é eficaz, mas é preciso atenção de toda a população informando o que a Dengue traz”, ressalta.

Em 2020, o município de Carapicuíba adotou uma outra iniciativa para divulgar e incentivar a luta contra a Dengue dentro das escolas. Tudo começou com um projeto da Secretaria da Educação de orientar os alunos das escolas municipais de forma lúdica e divertida com apresentações de teatro. A peça chama-se “O fim da picada” e, de acordo com a prefeitura, é uma forma de tornar os jovens, agentes ativos da prevenção.

“A ação, dentro das escolas, faz parte do “Projeto Dengue”, organizado por professores de artes e educação física, e age tornando os alunos, jovens agentes multiplicadores na prevenção contra os focos de proliferação do inseto. A Prefeitura já realiza, em toda a cidade, outras ações de prevenção ao mosquito, como por meio de mutirões da Patrulha da Dengue (com panfletagem e orientação) e também com o acompanhamento diário, em todos os bairros, dos agentes da vigilância em zoonoses”, explicou em nota à nossa redação.

Texto, fotos e infográfico: Eric Ribeiro

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