Família granjeira roda o mundo a bordo de um motorhome

Nesta entrevista, o casal compartilha os desafios, os medos e os imprevistos que surgem ao colocar a família na estrada, a flexibilidade de sua rotina familiar e os métodos adaptados de educação dos pequenos. Além disso, revela os critérios para escolher os destinos a visitar, destacando a importância das conexões culturais ao longo do caminho.

Em uma jornada repleta de coragem, determinação e amor pela descoberta, a família Palla Jacinto está desbravando o mundo. A bordo de um motorhome, Pablo, Karina e os filhos Alice e Daniel percorrem, neste momento, o Uruguai, vivenciando experiências únicas e compartilhando aprendizados inestimáveis. “Não temos roteiro fixo ou prazo, mas queremos viajar o mais longe possível (se possível, todos os continentes). O roteiro e prazo serão uma construção familiar. Enquanto for bom para todos, continuaremos na estrada”, comentam.

Mas como tudo começou? Pablo e Karina sempre foram apaixonados por viagens, mochilando pelo Brasil e outros países. Quando se conheceram, essa paixão em comum os levou a uma viagem de volta ao mundo: em 2013, visitaram 33 países em 500 dias. “Preparei um casamento surpresa no final da viagem no Havaí e, na noite de núpcias, concebemos nosso primeiro filho, Daniel. Retornamos maravilhados e com a certeza de que faríamos aquilo de novo para mostrar o mundo a eles. Quando tivemos a Alice, em 2017, acionamos nosso mantra pessoal: ‘marca a data que o dia chega’. Definimos que, em 2023, daríamos uma longa volta ao mundo de carro e, assim, começou este grandioso projeto”, revelam.

“Tudo que vivemos na primeira viagem, as experiências, o desapego, o contato com outras culturas, tudo isso serviu como combustível para essa grande decisão. Queremos mostrar aos nossos filhos como esse mundo é maravilhoso! Estamos cientes de todo desafio que temos pela frente, mas a felicidade é imensa em saber e sentir que este sonho está se concretizando”, completa o casal.

A aventura foi batizada de Expedição Curumim. “Queríamos um nome que fosse tipicamente brasileiro e que tivesse a ver com criança, porque estamos viajando com nossos dois filhos. Curumim, em Tupi-guarani, significa criança, menino, moleque. Nesta viagem, iremos explorar também o nosso lado criança, abrindo a mente para o novo, com curiosidade, simplicidade e alegria que só as crianças têm”, explica Karina.

Colocar a família na estrada envolve enfrentar medos e desafios. “O desconhecido e a saída da zona de conforto nos fazem criar diversas hipóteses assustadoras”, admitem. No entanto, eles aprenderam que o temor não pode ser maior que o sonho, e que no caminho encontram soluções para os desafios que surgem. “A vida é cheia de imprevistos para quem está na estrada ou para quem está fixo”, afirma Pablo, destacando a importância de abraçar o imprevisto como oportunidade de evolução pessoal.

Mas como se “jogar no mundão” com alguma segurança, isto é, lidar com imprevistos? “Muitos confundem segurança com controle. Achamos que, se conseguirmos controlar as coisas, estaremos seguros. Eu acho que controle é uma ilusão e, quanto mais cedo aceitarmos isso, seremos mais livres e felizes. É totalmente possível estar seguro em movimento, especialmente se nos afastarmos das grandes cidades”, respondem.

O roteiro ainda não está definido: “em linhas gerais, seria descer até o Ushuaia/Argentina e depois subir até o Alasca, colocar o motorhome no barco para cruzar o Atlântico para Europa, depois África e Ásia para, finalmente, seguir para Oceania, de onde o motorhome cruzaria o Pacífico, retornando para América do Sul. “Somos muito movidos por beleza naturais e encontro com pessoas. Portanto, acabamos pesquisando no caminho os destinos naturais e adoramos quando somos convidados para visitar alguém no destino. A troca cultural é sempre valiosa e marca a alma”.

Entre os lugares que já estiveram, destacam Foz do Iguaçu: “uma das grandes maravilhas naturais do Planeta que todos deveriam conhecer. Vem gente do mundo todo conhecer e muitos brasileiros viajados desconhecem. Há programas para toda família”.

Essa viagem se tornou especial também por outras duas razões. Primeiro, Marlene Palla (filha de um grangeiro pioneiro, que já foi capa da Circuito – Alexandre João dos Santos) foi visitar a filha, o genro e os netos “ela foi nossa primeira tripulante convidada. Foi mágico recebê-la no motorhome e compartilhar essa experiência”. Segundo, as crianças despertaram o interesse por aprender novos idiomas.

Enquanto estavam um camping na região, Daniel e Alice começaram a brincar com duas crianças, a argentina Olivia e a francesa Cloe. “Espontaneamente, os dois despertaram para aprender algumas palavras em espanhol. No final do dia, estavam se comunicando e brincando de jogos brasileiros e franceses. Depois que voltamos para estrada, eles pediram para baixar aplicativos de idiomas para aprender, primeiro, espanhol. E segundo Daniel, depois ele vai aprimorar inglês, aprender francês e japonês. Agora, durante as longas horas de estrada, ambos ficam estudando espanhol. Tudo isso vindo deles de forma natural”, contam.

A rotina da família é flexível, adaptando-se às necessidades dos estudos das crianças (responsabilidade da mãe), ao trabalho de Pablo – que é advogado – e às tarefas de manutenção do motorhome. As crianças estão matriculadas em uma escola americana, com uma metodologia que respeita o ritmo de aprendizagem de cada uma. Ao final, irão ter um diploma americano que poderá ser validado no Brasil, casos eles decidam retornar ao Brasil para futuros estudos. “É uma metodologia diferente daquilo que estamos acostumados, a qual se adapta ao caminho de aprendizagem da família. Nós, por exemplo, decidimos usar material formal para matemática e português. As demais matérias são livres, baseadas no interesse do Daniel e Alice, por meio de projetos personalizados”, explica Pablo. “Na minha opinião, as crianças têm uma curiosidade inata e inesgotável. O segredo é dar vasão a isso com uma metodologia maravilhosa que respeita a individualidade de cada criança, mantendo/tornando assim dentro dela a busca por conhecimento um movimento leve e interessante”.

Quando se está com o pé na estrada, qual a proporção certa entre trabalho, escola e diversão? “A vida é muito dinâmica para essa proporção matemática. Talvez a resposta seja buscar um equilíbrio saudável, o que pode mudar de tempos em tempos. Ainda estamos em fase de adaptação, pergunte-me de novo isso daqui a uns anos”, Pablo responde rindo.

A vida na estrada tem ensinado a família a viver com o essencial e valorizar experiências em detrimento do consumo: “a vida minimalista é libertadora em muitos sentidos”. A história da família inspira não apenas a explorar o mundo, mas também a repensar valores e estilos de vida, mostrando que é possível viver com intensidade, conexão e aprendizado constante em meio às estradas do mundo.

Quem quiser acompanhar a rotina da família, é só seguir as redes sociais: 

Por Juliana Martins Machado

 

Artigo anteriorCarapicuíba abre polo de testagem da dengue
Próximo artigo“Hebe – Uma Revista Musical” estreia em São Paulo