4,2 bilhões – esse é o número de pessoas que vivem sem saneamento básico. A problemática é denunciada por uma condição enfrentada por milhões de brasileiras: a pobreza menstrual. Você já imaginou não ter acesso a água, papel higiênico, absorventes e informação? Ainda que em 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) tenha reconhecido o direito à higiene menstrual como uma questão de saúde pública e direitos humanos, a realidade existente no Brasil é gritante: uma em cada quatro meninas não conta com absorventes à sua disposição, recorrendo a métodos inseguros para a contenção do sangue, como pedaços de pano, jornais, folhas de árvores e até mesmo miolo de pão.
Frente a esse problema, em outubro de 2020, a granjeira Luana Escamilla, que na época tinha apenas 16 anos, criou o Fluxo Sem Tabu, um projeto sem fins lucrativos que vem democratizando o conhecimento a respeito da menstruação, promovendo importantes debates e contribuindo para o acesso à higiene íntima nas camadas mais vulneráveis da sociedade.
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A iniciativa, que está completando um ano de existência – ou ainda, de resistência – atende mais de 2000 pessoas e realiza diversas ações, fazendo campanha também nas redes sociais. Luana conta que pobreza menstrual é um tópico pouco discutido no país e, muitas vezes, silenciado. 66% das brasileiras ficam desconfortáveis ao falar sobre menstruação e 57% se sentem sujas, de acordo com levantamento realizado pela Sempre Livre em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria. A meta, além da expansão do projeto para atender mais pessoas, é que o assunto seja abordado livremente – sem tabu.
O Fluxo possui uma vaquinha virtual e um ponto de coleta na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), em São Paulo. Uma curiosidade é que todos os doadores recebem acesso a aulas gratuitas de yoga, oferecidas voluntariamente pelo projeto Segunda Onda.
Entre as pautas propostas pelo projeto, a relação entre menstruação e diversas esferas, como o universo do esporte e a vida escolar. No país, uma estudante perde até 45 dias de aula por não ter como conter o sangue e 1,24 milhões de brasileiras não têm à sua disposição papel higiênico nos banheiros dos colégios. Além disso, a forma como a pobreza menstrual afeta diversas pessoas, incluindo jovens atletas, deu origem à campanha Juntas Somos Campeãs, idealizada pelo Fluxo sem Tabu durante as Olimpíadas de Tóquio.
Em parceria com a Adidas, estão sendo distribuídos kits incluindo pacote de absorvente, calcinha, sabonete íntimo, lenço umedecido e um item esportivo. A ideia é baseada em como o esporte pode ser um instrumento de modificação social e está dando voz a inúmeras atletas em situação de vulnerabilidade.
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Um ano depois, o projeto criado por Luana, que agora está com 17 anos, já distribuiu 180 mil absorventes e quebrou o silêncio que rodeia a menstruação, trazendo informação e reflexão para milhares de pessoas. Apoie essa causa!
Por Giovana Lins Barbosa