
Eram 16 garotos, com idades entre 16 e 17 anos, alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Objetivo Granja Viana, reunidos, em pleno carnaval 2020, na casa dos pais do granjeiro, Gustavo Guedes Von Glehn, que hoje mora em Maringá, mas mantém a casa na Granja e vem sempre que possível visitar os amigos. Foram para o bloquinho? Que nada. Ficaram jogando games on line, cada qual no seu computador, ou seja, montaram um Gaming House na casa do Gustavo.


O que é isso? Na linguagem dos players (jogadores) uma Gaming House é uma habitação na qual os jogadores de games eletrônicos moram, treinam e convivem juntos. Eles viveram isso no carnaval por 4 dias, com a única condição de manter a casa arrumada e entregá-la inteira na quarta-feira de cinzas. Como os pais de Gustavo ficaram em Maringá, os meninos também precisaram fazer compras e cozinhar para eles mesmos.
Claro, também curtiram uma piscina, jogaram basquete, futebol, entre outras diversões em grupo, mas o que prevalecia eram os jogos eletrônicos no computador, principalmente de noite. Ou melhor, o jogo. Sim, eles têm um preferido: Rainbow Six.
Em fevereiro de 2020, o jogo Rainbow Six, da Ubisoft, que já é sucesso há mais de 20 anos, foi o quinto mais jogado no mundo dentro da plataforma Steam (PC) com mais de 180 mil jogadores ativos.


Segundo Pedro Henrique Quintana, de 17 anos, o mestre da turma neste game, jogador muito bem ranqueado para a sua idade, que já esteve entre os 500 melhores da América Latina, para este jogo é preciso formar dois times de até cinco jogadores. Como eles estavam em 16, iam se revezando e jogavam, jogavam até cansar porque não havia ninguém para desligar a Internet e dizer, “já chega, é tarde, hora de dormir”. Foram dormir mesmo na quarta-feira de cinzas. E além de jogar até a hora que quisessem podiam comemorar suas vitórias com gritos muito altos sem ninguém reclamar também.
Pedro ainda conta que os jogadores profissionais fazem isso. Se reúnem para jogar presencialmente os jogos on line que também jogam a distância. No dia a dia, essa galera joga todo dia, vão à escola de manhã, chegam em casa, almoçam, estudam um pouco e depois jogam até por volta das 22hs. Nos finais de semana jogam até duas ou três horas da madrugada. Também curtem Playstation e jogos no celular, mas os jogos no computador e, principalmente, o Rainbow Six é a principal diversão. Alguns deles jogam Playstation desde os 2, 3, 4 anos de idade.
Conhecido entre os players como Nuu2k, Pedro Henrique já chegou ao ranking máximo do jogo e só não se tornou profissional por ser menor de idade. De toda forma já tem contato com os chamados pró-players, que são os competidores em nível profissional. Segundo ele os profissionais são patrocinados por organizações muito grandes que promovem campeonatos até fora do país com prêmios milionários. Claro que ele pensa seriamente em se tornar um profissional assim que completar 18 anos já que se destaca tanto no game. “Só vou precisar dar uma atualizada nos meus equipamentos”, explica. Segundo ele, um jogador ruim em um equipamento bom, não tem muito progresso, mas um jogador bom em um equipamento bom pode fazer muita diferença. É por isso que para essa turma, presentes de aniversário e Natal costumam ser peças para melhorar o desempenho dos seus computadores. Também em viagens internacionais, a listinha de compras privilegia a compra destes componentes.


Nesta turma granjeira, como nem todos jogam com o mesmo nível de desempenho, geralmente quem monta os times é o Pedro, para tentar equilibrar a competição.Luigi Bianchi Vaz de Souza, feliz proprietário de um dos melhores computadores da turma, também conta que nem todos os colegas tem o ranking que registram porque algumas vezes o Pedro joga na conta deles também para levantá-los no Ranking.
Pedro Henrique afirma que a mãe lhe dá muito apoio para jogar, apesar de achar que ele exagera bastante. “Ela entende que o jogo desenvolve habilidades como agilidade mental, melhor domínio do idioma inglês, entre outras”, explica.


João Victor Fernandes Silva, de 16 anos, já pensou em se tornar um desenvolvedor de jogos, fez um curso, mas viu que prefere mesmo é jogar. Aliás, para a maioria deles o jogo é diversão, apesar que eles levam essa diversão tão a sério que chegam a brigar por causa de um erro em jogo. Mas, logo, tudo volta às boas, claro.


Para Christopher Monteiro, de 16 anos, se o jogo algumas vezes afasta por causa das brigas, também aproxima. Ele veio de outro colégio no 9º ano e se aproximou dos colegas na nova escola em função do game, que ele também jogava.
Outra questão, que eles destacam como argumento final para manter a rotina de jogadores, é o laço criado. “No final deste ano, após nossa formatura, certamente vamos nos separar mais fisicamente, com o fim do ensino médio, mas vamos continuar juntos por meio do game”, diz Luigi. Durante as partidas de videogame, eles conversão bastante em espaços de bate-papo virtual. “E nessas oportunidades falamos de tudo, na verdade o que a gente menos fala e de videogame”, explica João Victor Fernandes Silva.
Sobra tempo para namorar? Eles garantem que sim, mas afirmam: as namoradas têm um pouquinho de ciúmes dos games.
Confira aqui uma amostrinha de como é organizado um Gaming House:
Por Mônica Krausz