Granjeiros por uma Gana desconhecida: histórias e descobertas pela África Oriental

Em mais um capítulo de Diário de Bordo, nossa colunista Débora Marcolin compartilha os detalhes de sua viagem por Gana, na África Oriental. Entrelaçando cultura, história e paisagens deslumbrantes, Débora nos leva a explorar cidades vibrantes, tradições marcantes e momentos únicos vividos ao longo do trajeto. “Foi nesta região que conhecemos o belíssimo artesanato de cestaria e outros itens”, descreve. Prepare-se para embarcar nessa jornada cheia de descobertas por uma Gana desconhecida!

Apesar de havermos desembarcado no aeroporto de Accra, Gana foi a última visita desta nossa viagem para alguns países da África Oriental.

Vale dizer que estes países (Gana, Togo e Benin) são muito pobres, numa sociedade estruturada ainda de forma tribal.

Gana possui um parque industrial mínimo, com a capital Accra minimamente estruturada, mas os outros dois países são bastante subdesenvolvidos, com muito lixo plástico em todos os lugares, o comercio feito de forma informal na beira das ruas e estradas.

Têm falta de planejamento familiar, com uma população de crianças enorme, mas um alto índice de mortalidade infantil.

Estes países sofreram muito durante a ocupação colonialista por países da Europa em função do tráfico escravagista.

Neste período, toda esta região da África Oriental foi dividida entre os europeus com uma linha reta. Ou mesmo, obedecendo acidentes geográficos, sem respeitar em nada os aspectos culturais e tribais. Logo, etnias diferentes acabam ocupando diferentes regiões dos três países.

Por isso, não se nota diferenças culturais marcantes entre estes países, a não ser alguns aspectos étnicos e linguisticos, próprios de cada tribo.

Estudei bastante sobre esta região da África para poder aproveitar a viagem, caso contrário, ficaria detida somente na pobreza, sujeira, corrupção e subdesenvolvimento sem enxergar todos aspectos histórico-culturais e a beleza do povo negro, que tanto influenciou a nossa cultura brasileira.

Dito isto, vou relatar a experiência…

A visita à capital Accra incluiu monumentos, museus locais, e o antigo bairro de Jamestown onde pudemos aprender um pouco sobre a história do país.

Outro passeio interessante foi a visita à uma fábrica de missangas de vidros, onde as peças são produzidas de forma bastante artesanal, a partir de vidros reciclados, e outros provenientes da China e que são exportados para o mundo todo.

Accra foi um dos poucos lugares onde cruzamos com pessoas brancas, porque de uma forma geral a população é absolutamente negra, sem nenhuma miscigenação.

Partimos em direção ao norte do país, mais precisamente Cape Coast.

É uma região litorânea bastante agradável e novamente, toda a história voltada à escravatura.

O castelo de Cape Coast, é o mais conhecido. Construído inicialmente pelos portugueses por volta de 1555, tendo posteriormente passado na mão de outros colonizadores que foram modificando sua arquitetura para se adaptar as necessidades individuais.

É um local de grande afluxo turístico, especialmente afro-americanos que vêm à esta região em busca de suas origens.

Mas não só afro-americanos visitam o castelo. Muitos grupos locais também vêm se informar a respeito da barbárie que foi o tráfico negreiro.

Outro castelo da região é o de Elmina que serviu para os mesmos fins.

O mercado de peixe de Elmina foi especialmente muito bonito, com o entra e sai de centenas de coloridos barcos pesqueiros, cada um carregando aleatoriamente bandeiras de vários países formando um conjunto bem interessante.

Visitamos o Parque Nacional de Kakum, onde percorremos passarelas ao alto de 60 metros de altura para observar uma floresta tropical. Não impressionou muito, uma vez que este tipo de paisagem nos é bastante familiar.

Desde a costa, no direcionamos ao norte do país, chegarmos até a fronteira com a Burkina Faso.

Paramos ao longo do caminho em vários lugares que de alguma forma se relacionavam ao comercio dos escravos, como pontos de trocas, vendas etc.

A próxima parada foi a cidade de Kumasi que é o centro da importante etnia Ashanti.

O mercado Kejetia é um dos maiores da África oriental, com 45000 barracas, vendendo de tudo.

Visitamos o palácio do rei Ashanti e vários workshops entre eles o da manufatura do Kente (tecido confeccionado em tear manual como vem sendo feito a muitos séculos).

Nos arredores da cidade paramos na beira do rio Assan, que era a última parada dos escravos, onde tomavam seu último banho antes de serem encarcerados nos castelos do litoral, aguardando o embarque nos navios negreiros.

É um lugar de muito respeito. Cruzamos com grupos de afro-americanos que visitavam o lugar e que estavam bastante emocionados.

Foi muito divertida a parada na cachoeira de Kintampo. Estava lotada de estudantes que brincavam nas aguas, e que ficaram muito curiosos com a nossa presença.

Daí para frente a paisagem se torna bastante rural, passando por lavouras familiares que cultivam amendoim, milho, sorgo, inhame, mandioca tomate etc., e pequenas vilas com seus mercados à beira da estrada.

O caminho é lento e cansativo, devido as, más condições das estradas.

Chegamos finalmente à Larabanga, ao lado do Parque Nacional Mole onde visitamos uma mesquita datada de 1421. Diz a lenda que foi construída por um comerciante mulçumano que costumava trafegar pela região e que teve uma premonição que deveria construir uma mesquita naquele local.

Ela é feita toda em galhos de arvore e lama, ao estilo sudanês.

Outra construção interessante é o santuário de Zayaa. Construído a 70 anos por imigrantes muçulmanos de Burkina Faso. Tem uma inspiração egípcia e pertence até os dias de hoje à família, que é quem nos acompanha na visita ao local.

Numa de nossas visitas acabamos chegando a um pequeno agrupamento de cabanas onde recém havia nascido um bebe.

Este pequeno agrupamento era composto de três cabanas, sendo que em cada uma morava uma das esposas do marido.

A poligamia nestes países tem uma explicação. Primeiro porque a mortalidade de meninos e jovens do sexo masculino é maior do que a do sexo feminino, levando a um excesso de mulheres na vida adulta.

Outro motivo é a necessidade de mão de obra para a lavoura, onde as crianças começam a ajudar desde muito pequenas.

Neste dia especial de nossa visita era o dia da cerimônia de nomeação do recém-nascido. Como fomos os primeiros a chegar ao local, nos foi dada a honra de nomear o bebe, que recebeu o nome de Marco.

Chegamos finalmente próximo à fronteira de Burkina Faso, onde não nos sentimos muito confortáveis, uma vez que no momento estava tendo alguns conflitos com mulçumanos terroristas deste país querendo adentrar nos países fronteiriços.

Visitamos rapidamente um santuário de crocodilos, um centro de produção de artesanato e nos acomodamos num belo resort na cidade próxima de Bolgatanga.

Mas foi nesta região que conhecemos o belíssimo artesanato de cestaria e outros itens que é logico, já foram para dentro da mala!


Debora Patlajan Marcolin, médica, muito curiosa com relação a diversidade cultural do nosso planeta: “viajo desde que me conheço por gente e tudo me atrai. Desde a minha vizinhança pobre de Carapicuiba até as cerimonias fúnebres de Tana Toraja na Indonésia, passando por paraísos naturais como o pantanal mato-grossense e deserto do Jalapão. Já conheci por volta de 75 países e não paro de projetar novos destinos. Entendo que para se viajar é preciso estar de peito aberto e abandonar todo tipo de preconcepção, que com certeza, a viagem vai te provocar profundas mudanças internas e gosto pela vida”. Autora do blog A Minha Viagem.

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