A Galeria de Arte e Fotografia Solange Viana apresenta MORADA, exposição de Kenechi Kaneko, artista que há anos faz parte do elenco da galeria de arte. A curadoria fica a cargo de Rachel Hoshino. A abertura acontece no próximo dia 17 de agosto, sábado, das 11h às 15h, e permanece até dia 30 de setembro, com entrada franca e visitas mediante agendamento prévio.
Kenichi Kaneko é um artista completo. Ator, artista visual, poeta, entre outras muitas ocupações, apresenta obras de mais de uma década, datadas de 2003 a 2010. São obras, em sua maioria, em grandes formatos, mas também apresentaremos seus desenhos, que ele faz diariamente. Kaneko não para.
Durante quase dois meses o visitante terá a oportunidade de conhecer um pouco do seu trabalho, alguns objetos pessoais do artista também estarão à disposição, fazendo com que o público possa sentir um pouco a atmosfera de seu ateliê.
Com apresentação da curadora Rachel Hoshino, 11 obras serão exibidas, além de inúmeros desenhos. Também será projetado o curta VIVA KANEKO, na terça, 20 de agosto, ao entardecer, 17h45. Veja abaixo o texto da curadoria.
MORADA – matéria e espírito na arte de Kenichi Kaneko (Granja Viana, 2024)
Marcos de pedra marcam o compasso de pausas pelo caminho. Nelas, a respiração concentrada conduz ao silêncio e o corpo todo se aquieta: abre-se o espaço para que o espírito se manifeste. Assim são os percursos pelos jardins que levam aos templos e as rotas de peregrinação mística do Japão. Esculturas, lanternas, pequenas torres ou simples seixos empilhados são sinais para a reverência espiritual.
Kenichi Kaneko, nascido no Japão em 1935, carrega essa tradição em sua história. À ancestralidade soma-se a bagagem acumulada em andanças, muitas feitas a pé, pelo Brasil e pela Europa. Nessas jornadas, entre as décadas de 1980 e 2000, a experiência de solitude e silêncio permitiu, segundo o artista, o encontro consigo mesmo.
As telas apresentadas nesta exposição, produzidas durante os anos de 2003 e 2010, trazem tanto a verticalidade de totens e imagens religiosas quanto a do corpo humano. A verticalidade também se aproxima da escrita nipônica, meio pelo qual o artista também se expressa através de poemas.
A cor escura e a composição dos elementos centrais marcam certo ensimesmamento exilado e meditativo. Para Kaneko eles representam marcos pessoais e coletivos de mudanças. Por vezes, podem ser interpretados como casulos: casas de metamorfose em processo, latência de um novo tempo. No tríptico com aplicação de terra e de elementos encontrados nas caminhadas do artista aponta para a integração e a atenção sobre o ambiente circundante, como ocorre na prática da plena atenção.
Sob a curadoria de Rachel Hoshino, nove grandes telas compõem um conjunto que convida à contemplação apreciativa dentro do espaço da Galeria de Solange Viana. Dentro do mesmo tema, fazem parte também da exposição desenhos e pinturas originais de papéis apresentados como se estivessem dentro do ateliê do artista, sobre superfícies com ferramentas de trabalho e objetos de referência visual.
Durante o período de exposição ocorrerão sessões de desenho ao vivo, nas quais o artista produzirá, sob demanda e em período pré-determinado, desenhos verticais em papel de visitantes pousados em silêncio.
O trabalho, ainda que de forma abstrata, figura a tríade corpo-totem-arte como a morada do espírito. Que possamos usar os olhos para alcançar o coração! Seishin-teki aisatsu!
SERVIÇO:
MORADA, DE KENICHI KANEKO
Abertura: 17 de agosto de 2024, das 11h às 15h
Visitação: de 19 de agosto a 30 de setembro de 2024
ENTRADA FRANCA | AGENDE SUA VISITA
CURTA “VIVA KANEKO”,
Documentário com direção de Letícia Lima e Solange Viana
Duração: 20’
Quando: 20 de agosto, às 17h45
Gratuito
Galeria de Arte e Fotografia Solange Viana
Rua São João, 246 – Centrinho da Granja Viana | Cotia [email protected]
@galeriadeartesolangeviana
tel. 11 4777.0234
Relembrando
Artista plástico, ator e escritor. O japonês naturalizado brasileiro, fugitivo da guerra, Kenichi Ken Kaneko é um multiartista granjeiro. Morador daqui há mais de 35 anos, é um personagem típico da região. Se você não o encontrou na feira de domingo, com certeza já viu ao menos um comercial de TV com ele. Participou de diversas novelas e minisséries, além de atuar em teatro e cinema. Um de seus papéis principais foi na novela Os Imigrantes, da TV Bandeirantes, e também um papel marcante no filme de Tizuka Yamasaki, Gaijin – Os Caminhos da Liberdade (1980). Já trabalhou diversas vezes nas “pegadinhas de domingo” do SBT, no programa de Silvio Santos. Ele é uma comédia. Adora contar histórias, como vê a sua obra e como gostaria que fosse o mercado de arte. É um artista nato. Pinta desde os 10 anos e sua primeira exposição ocorreu quando tinha apenas 14. Nascido em Yokohama, província de Kanagawa, no Japão, é formado pela Escola de Belas Artes “Chuô Bijutu Gakuem” de Tóquio. Chegou ao Brasil em 1960 e logo participou da Bienal Internacional de São Paulo. Pintor compulsivo, ele desenha todos os dias, tem obras em diversos acervos e não para nunca. Está sempre ativo. Consertando seus quadros antigos, pintando, desenhando, ou mesmo indo para São Paulo, dirigindo (sim, ele ainda dirige!), para participar de algum teste para comercial ou filme. Amigo pessoal de Tomie Ohtake e de Shoko Suzuki – esta, uma das ceramistas mais importantes do Brasil, e também moradora da Granja Viana, com quem convive quase que diariamente, é sua comadre. Já com Tomie, Kaneko foi um dos fundadores do grupo Seibe, que agitou a cultura paulista nos anos 1970, com Manabu Nabe. Ele acabou de completar 84 anos agora, no fim de março. E logo em seguida, inaugura uma exposição individual, com sua trajetória artística, no Centro Cultural dos Correios, em São Paulo. Kaneko é artista pleno. Fala com o corpo e com alma. Carismático, recebeu a revista Circuito, em uma tarde quentíssima de verão, em sua casa-ateliê, localizada no miolo da Granja. Lugar que ele mesmo construiu, com sua segunda esposa, a já falecida artista Mariko Kaneko. Em abril de 2019, fizemos uma entrevista de capa com o artista em que ele conversou com nossa equipe por quase três horas, com muito chá e risadas.