O Roteiro do Vinho é cada vez mais protagonista no crescimento e na qualificação do turismo na região. Se hoje a cidade de São Roque tem uma reputação invejável entre os demais municípios que também são Estâncias Turísticas, muito se deve aos investimentos e ao trabalho realizado pelos associados do Roteiro do Vinho.
A Revista Circuito entrevista Leodir Ribeiro, o homem que preside e lidera a união de 57 estabelecimentos distribuídos em meio a charmosa serra são-roquense e que, juntos, recebem a média de 25 mil turistas por fim de semana. Nas próximas linhas, você vai descobrir como um sujeito simples, que se orgulha da origem caipira e conta com muita paixão sobre a sua relação com a agricultura, pretende alavancar o nome de São Roque.
Esse é o perfil de Leodir Ribeiro, que também é sócio da Vinícola Alma Galiza e diretor-executivo da AGEM (Agência Metropolitana de Sorocaba), e está conduzindo o reposicionamento da marca Roteiro do Vinho. “Historicamente a turma nos reconhecia pelos vinhos de mesa, os vinhos de garrafão que foram muito populares no passado. Hoje, nossa produção de vinhos está mudando, temos diversos vinhos finos premiados que estão se destacando no mercado”, pontuou o presidente do Roteiro do Vinho.

Muitos conhecem o presidente do Roteiro do Vinho, mas quem é e qual a origem de Leodir Ribeiro?
Eu nasci em Ibiúna, especificamente na região do sertão, onde hoje é o Parque Estadual do Jurupará. Meu avô tinha muitas terras ali que, em 1992, viraram Reserva ambiental e Parque Estadual. Com isso, 8 comunidades rurais foram extintas e a nossa era uma delas e uma das mais antigas. Tive uma infância muito boa e com a família sempre unida. Nosso sítio tinha todos os alimentos que a gente precisava. Meu pai costumava dizer que nós produzíamos tudo e só precisávamos comprar o sal. Me lembro das plantações de milho, de feijão, de café cana de açúcar. Tinha produção de café, de farinha, melaço… A gente criava porco, galinha entre outros animais.
Por que resolveu sair da roça?
Eu cresci no meio rural, trabalhando com o meu pai na agricultura. Ele dizia assim: “quer sair da roça? Vai estudar”. Também dizia que comida nunca ia faltar, mas que se eu quisesse seguir outro caminho teria de estudar. Meus pais eram analfabetos. Meus irmãos estudaram, mas o básico, até a quarta série. Tenho 7 irmãos, o oitavo faleceu no surto de meningite. E foi o que eu fiz, fui estudar.
Como foi essa jornada?
Eu queria fazer (estudar) agronomia, ou veterinária. Cheguei até a prestar vestibular. Para cursar agronomia precisaria morar longe e na época minha mãe tinha acabado de colocar 4 pontes de safena no coração e eu não quis ficar longe da família. Ai o interesse por outro caminho começou a aparecer.
Eu já praticava esportes. No bairro do Paruru, treinava a molecada e vivia entre Ibiúna e Piedade. Depois que terminei o colégio, comecei a trabalhar com esporte e fiquei um ano para decidir o que estudar. Então prestei vestibular para a Fefiso (Faculdade de Educação Física de Sorocaba), passei e fiz a faculdade em Sorocaba. Foi maravilhoso. Abriu muitos caminhos, abriu minha mente para uma série de coisas. Terminei o curso em 1998, precisamente no dia 11 de dezembro. Já no dia 13 de dezembro prestei o concurso para professor da rede municipal de São Roque, passei como um dos primeiros. E dia 2 de fevereiro de 1999 assumi o cargo e já sou servidor público de São Roque há 26 anos.
Foi aí que você se envolveu mais com São Roque?
Comecei a lecionar na EMF Euclides Oliveira, em Canguera. A convivência na região me aproximou do pessoal de Canguera (Região do Roteiro do Vinho). Para facilitar o meu percurso de trabalho, me mudei para o bairro e passei a frequentar mais o Centro de São Roque também. Me enturmei muito rápido.

E esse trabalho te trouxe algo especial?
Foi na escola de Canguera que conheci minha esposa, a Luciane. Ela fazia parte de um projeto da prefeitura como professora de informática, que ensinava professores a usar os computadores em suas aulas. E me trouxe minha linda filha Júlia, nascida em 2002, e que está cursando o último ano de Arquitetura.
Deu para continuar estudando?
Em 2002, entrei no mestrado de Educação na Uniso e fui orientando pelo Dr. Marcos Reigota, referência em Educação. Entrei com um trabalho focado na filosofia e sociologia da Educação. O Marcos me abriu muitas portas, sou eternamente grato por todo o conhecimento que ele me proporcionou. Em 2002, tive um trabalho aprovado para o Congresso Mundial de Educação Ambiental. Esse Congresso aconteceu na cidade de Espinho, em Portugal, próximo a cidade do Porto. Na época eu não tinha dinheiro para ir então vendi um cavalo que eu tinha e fui, uma experiência incrível. Conheci o professor Pablo Meira, da Universidade de Santiago de Compostela. Ele me convidou para conhecer a universidade, me apresentou o programa dele de doutorado. Um ano depois eu voltei para fazer o doutorado nessa Universidade de Santiago, Doutorado de Ciência da Educação.

Como foi estudar na Espanha?
No dia 31 de dezembro de 2003 eu desembarquei em Santiago, estava um baita frio. Fiquei três anos estudando na Espanha. Foi uma grande oportunidade. Fiquei entre idas e vindas Espanha e Brasil durante esses anos. No final de 2006, eu retornei para São Roque.
Quando retornou voltou a lecionar?
Eu fui lecionar na Faculdade de Educação Física de Sorocaba, a Fefiso. Dei aulas também na Universidade de Sorocaba no curso de Educação Ambiental. E também continuei lecionando na educação municipal de São Roque. Daí, em 2007, fui convidado pelo então prefeito de São Roque, Efaneu para trabalhar como chefe de divisão de Esporte e Lazer. Em 2008, o Efaneu fez uma reestruturação administrativa e criou o departamento de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Esporte e Lazer e ele me convidou para ser o diretor. Fique nesse cargo até dezembro de 2012. Em 2013, voltei a dar aulas, em Canguera.

Quando você começou no mundo dos vinhos?
Com a vivência do poder público de São Roque, a partir de 2014, comecei a aprofundar o conhecimento de toda a história dos vinhos de São Roque, da festa do vinho, toda essa rica história. Juntei com a experiência que tive na Espanha, que respira vinhos, faz parte da cultura. Aqui em São Roque, como diretor de Turismo vivenciei essa história do vinho. História das famílias. Muito legal que a família da minha esposa é uma família de vinhateiro. O avô dela tinha a Vinícola Vinhos Santiago, lá no Guaçu. Quando li o livro do terceiro centenário de São Roque com a história das vinícolas eu fiquei impressionado. Aí me deu o estalo e decidi ter o meu negócio de vinhos, quis plantar uvas e fazer vinhos.

Foi daí que nasceu a Alma Galiza?
Desde que saí da prefeitura, em 2013, comecei a pesquisar e me interessar pelo mundo dos vinhos. Eu já conhecia o Paulo Franzine, era um amigo, que tinha comprado o antigo Haras Vila Azurra. Começamos a conversar sobre uvas, mas na época ele criava carneiro aqui. A propriedade foi aumentando, compramos um terreno do lado. Numa das taças de vinho, decidimos plantar uvas e fazer vinhos. Apresentei o meu projeto para ele e ele comprou a ideia. Aí nasceu a vinícola Alma Galiza, dentro da Fazenda Bagadá. Abriu a Bagadá, e começamos a fazer testes de uva. Com o objetivo muito claro, produzir uvas de qualidade para vinhos de qualidade. Em 2019, abrimos as portas da Fazenda Bagadá e Alma Galiza para o varejo com uma linha de entrada. O primeiro objetivo era plantar uvas e daí fechamos uma parceria com o Alex, da Vinícola XV de Novembro. Ele criou um espaço para fazer vinhos para terceiros. Durante meus trabalhos na Prefeitura de São Roque lutei muito e consegui trazer o Instituto Federal para cá e incluir o curso de Enologia. O Alex tinha uma parceria com a Dra. Maritê Daldosio, professora no Instituto Federal. Ela nos ajudou a ter o padrão de qualidade que nós queríamos e alcançamos. Tivemos a primeira uva irrigada por gotejamento, agora estamos colhendo frutos com vinhos premiados, de excelente qualidade na Alma Galiza.

Como surgiu essa referência à Espanha na Alma Galiza?
Eu vivi o mundo dos vinhos na Espanha, quando estudei em Santiago de Compostela. Lá a cultura dos vinhos é muito intensa, faz parte da rotina, da tradição das pessoas. E na minha pesquisa São Roque tinha três vinícolas espanholas e pensei que cabia mais uma. As primeiras uvas que plantamos foi a Albarinho Tempranilho, que são as grandes referências na Espanha.
Quais os planos para a Alma Galiza?
Continuar em expansão e com vinhos cada vez mais premiados. A Alma Galiza é a vinícola caçula de São Roque e já tem uma linha de vinhos premium e premiados. Queremos ampliar o restaurante com as famosas Paellas. Vamos ter mais ofertas de hospedagem, com uma nova pousada e hoje temos o charmoso bangalô do lago.

Como você chegou à presidência do Roteiro do Vinho?
Eu vi o Roteiro do Vinho nascer com sete empresas. Nos filiamos em 2019 e me lembro bem, que nossa empresa foi a de número 44, hoje estamos com 57 empresas. Final de 2021 ia ter eleição para a diretoria do Roteiro do Vinho e eu recebi o convite de várias pessoas para fazer parte da diretoria, assumi para o triênio 22-24 e fui reeleito para o próximo triênio 25-27.
E como tem sido tocar essa grande potência?
Estar presidente do Roteiro do Vinho é uma grande responsabilidade e uma grande honra. São 57 empresas que empregam mais de 2.200 trabalhadores. Fechamos o ano de 2024 com mais de 1,2 milhões de visitantes. Nossa média é de 25 mil turistas por fim de semana. É um dos roteiros mais visitados do Brasil. E nós estamos fazendo mudanças e apresentando os novos vinhos. São Roque sempre foi conhecida por vinhos de mesa, de garrafão. Hoje podemos dizer que somos a terra do vinho e dos vinhos finos. Já somamos 19 medalhas para os nossos vinhos em um concurso em Bruxelas. Isso mostra o esforço das nossas vinícolas em melhorar a qualidade. Outro ponto importante é a qualidade dos nossos restaurantes, hotéis e pousadas que tem atraído cada vez mais pessoas. São ofertas que se completam, tem onde viver experiências, onde comer, onde se hospedar e tudo mais. Estamos muito bem servidos.
Em nível administrativo, quais são as metas do Roteiro do Vinho?
Estamos trazendo benefícios para as empresas, colaboradores, moradores de São Roque e visitantes. Lançamos em junho o sistema de monitoramento de segurança por câmeras. Serão 58 câmeras, com inteligência artificial, leitura de placas, certificação, com objetivo de dar segurança para todos em toda a extensão do Roteiro do Vinho. É segurança para os trabalhadores, para os visitantes e para os são-roquenses. Buscamos, junto à prefeitura, a concessão de uma escolinha para criar uma sede para a associação e oferecer cursos de formação para colaboradores e para a comunidade como um todo. Assim podemos oferecer qualificação que gera emprego direto no Roteiro do Vinho. Estamos com uma agência criando um reposicionamento de marca. Fizemos muitas pesquisas, entendendo o público, repensando com objetivo de desenvolver um novo plano para Roteiro do Vinho, que será iniciado nos próximos meses.
Você também é diretor executivo da Agência Metropolitana de Sorocaba. Como estão os projetos para a região?
Recebi o convite do Marcelo Branco, secretário estadual de Desenvolvimento Urbano e Habitação, um cara muito inteligente com quem eu já havia trabalhado antes. O papel da AGEM é dar assessoria ao conselho de desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba, formada pelos 27 municípios com seus respectivos prefeitos, além de propor políticas públicas para a região metropolitana nas mais diferentes áreas.
E você tem conseguido conciliar tantas responsabilidades?
Valorizo muito minhas equipes. Tenho uma equipe muito boa na Alma Galiza, na diretoria do Roteiro do Vinho, muito atuante, além dos funcionários, Regina e Charbel. Fazemos reuniões toda a semana. A AGEM tem uma equipe muito focada e qualificada. Ter profissionais comprometidos me traz muita segurança. O fato também da AGEM ser em Sorocaba abriu muitas possibilidades, passo por aqui (Alma Galiza) e vou a Sorocaba. A minha esposa Luciane de vez em quando reclama que eu trabalho demais, mas hoje estou conseguindo conciliar a vida profissional e familiar. Graças a estas equipes competentes.













