Parte da família na nova casa.

Aos 43 anos, a pedagoga Adriana Raguza Engelberg passou por um experiência traumática que quase a derrubou, mas a vida lhe deu asas que a reergueram. Já com dois filhos criados, um rapaz de 17 anos e uma moça de 24, ela engravidou pela terceira vez.

No início, segundo conta, foi um susto, mas logo se animou com a ideia de ser mãe novamente. Já estava pronta para receber o filho temporão, quando descobriu que o seu Rafael, ainda em seu ventre, tinha uma síndrome severa, a síndrome de Edwards, que causou sua morte ao nascer.

“Foi uma dor indescritível, dor que dilacera o coração e a alma. Dor que faz perder a vontade de acordar e levantar da cama”, conta. Tentou terapia, mas a dor não passava. Chegou a tomar medicamentos fortes, mas nada a reanimava.

Zé Pedro, o primeiro de seus bebês de asas.

Então, o marido dedicado lembrou de um comentário que ela fez em uma viagem. Seu sonho era ter um papagaio! “Depois de um ano de depressão, ganhei o Zé Pedro, um filhote de papagaio. Ficamos com peninha dele sozinho e, logo, o meu marido trouxe o Paco, outro papagaio”, conta. “E assim comecei a cuidar dos meus bebês, com papinha, cobertorzinhos, brinquedinhos… Vivi com eles a fase das papinhas, das primeiras palavras, das brincadeiras, de ver aprender a pegar a comida e levar no bico, das artes… Deus me levou um filho, meu Rafa, meu amor, mas me deu vários filhos de asas, e multiplicou amor. A vontade de sorrir começou a voltar. É como ter um filho, só que não sai do ventre, meus filhos de penas foram gerados e cresceram no coração. ”, descreve.

Com Gaspar, o Cacatua Corella que trouxe as gargalhadas de volta para o seu lar.

“Um dia, fomos comprar ração quando vimos uma Cacatua Corella, me apaixonei na hora pelo Gaspar, ele é terrível, ligado no 220 e as gargalhadas voltaram a minha casa”, conta. Depois deste depoimento, não é preciso dizer mais nada. As aves animam a sua casa durante o dia todo. De noite, todas se recolhem cedo e seus “pais” também. A casa fica em silêncio pra recomeçar a folia no dia seguinte.
A quarta ave adquirida pelo casal, uma arara vermelha, veio doente, com um vírus adquirido de aves estrangeiras na loja onde foi comprada. Foi aí que Adriana conheceu o Dr. André Grespan, um especialista em animais silvestres e pesquisador da doença de sua arara. “Ele cuidou dela por sete meses, mas ela só comia com a minha presença e, por isso, eu passei praticamente internada na clínica dele durante esse tempo”, conta. Segundo Adriana, foi lá que ela aprendeu muito mais sobre o cuidado com as aves.

Aprendeu sobre a sua delicadeza, sobre as coisas que as deixam doentes. Em tempos de redes sociais, acabou ficando famosa por seu amor e cuidado com as aves e começou a ganhar algumas também. A primeira ave que ela ganhou foi uma arara canindé, irmã do Deco, uma arara que já estava em sua casa. Quem era o antigo dono? O jornalista Otávio Mesquita.

Deco e Otávio, a dupla dinâmica.

A arara dele ficou doente e ele soube que a “mãe” do irmão de sua arara sabia cuidar muito bem de aves. Adriana foi chamada para cuidar dela, até ficar boa e quando se recuperou, surpresa, o apresentador deu a arara para Adriana. Hoje, Deco e Otávio (nome da arara que ela ganhou) são inseparáveis! A sua “dupla dinâmica”.

De acordo com Adriana, algumas pessoas pensam que cuidar de uma ave é fácil como cuidar de um cão ou um gato, mas elas são muito mais delicadas e temperamentais. “Elas são monogâmicas, se apaixonam por nós e sofrem com a nossa ausência”, conta. “Depois que comecei a criá-las, nunca mais viajei”, afirma. Mas segundo ela, muita gente abandona as aves em época de férias.

“As aves são responsáveis por eu pular da cama todas as manhãs e descer as escadas sorrindo ansiosa para abrir o viveiro e soltar meus bebês e dizer com entusiasmo: Bom dia Galera!”, ressalta. “São eles que fazem os meus olhos voltarem a brilhar quando os vejo gritando e se desesperando para subir nos meus braços. Claro que tem dias que me sinto uma árvore, e adubada”, brinca. Segundo Adriana, eles a fazem gargalhar e a distraem quando um pensamento triste vem me abater.

Gaspar, ligado no 220, não para um minutinho!

Hoje, Adriana tem 18 aves e, por causa delas, até comprou uma casa maior aqui na região. Antes, ela morava no Jaguaré, onde está a empresa do marido. A casa no Condomínio Vila Verde, na divisa de Itapevi com Cotia, está sendo toda telada e reformada para recebê-las. O Condomínio está dentro de uma área de preservação ambiental.

Por causa delas, Adriana também descobriu uma nova atividade laboral. Faz brinquedos atóxicos para aves. “Quando acompanhei o tratamento da minha Arara Bela, eu aprendi que as aves podem ter intoxicações seríssimas por causa de contato com metais pesados que ela bica em correntes, que penduram troncos, suas gaiolas, brinquedos e até de bicar paredes pintadas com tintas que contém metais pesados. Foi assim que comecei a fazer brinquedos com cordas de papel craft, madeirinhas higienizadas com desinfetante de centro cirúrgico, entre outros materiais bastante pesquisados”, explica. Começou fazendo só para as aves delas e, depois, para os amigos.

Por meio das aves, também, fez muitos novos amigos. Todos criadores de aves! “Hoje, 99% dos meus amigos são tutores de aves”, conta. Alguns que praticam voo livre com suas aves, ou seja, as treinam para voar e voltar pra casa. As dela, por enquanto voam só dentro de casa, mas ela pretende aprender a treinar para alçar voos maiores.

E os vizinhos, não reclamam do barulho? Adriana explica que as aves fazem mais barulho durante o dia quando a maioria das pessoas está fora de casa. De noite, vão todas para seus viveiros e dormem quietinhas. “A ave para ter saúde precisa dormir de 10 a 12 horas no escuro e no silêncio”, explica Adriana. Ela mesma e o marido dormem cedo para não incomodar as aves! E, de toda forma, antes de se mudar, Adriana fez questão de consultar os vizinhos mais próximos e todos disseram que curtem o barulho das aves, tanto que vieram morar em um condomínio dentro de uma área de preservação.

Com guardas ambientais que conferiram toda a documentação de suas aves.

Todas as aves de Adriana são legalizadas, nasceram em cativeiro e, por isso, não podem ser reintroduzidas na natureza, pois não saberiam se defender de predadores. Ela já recebeu, inclusive, a visita da guarda ambiental que verificou toda a papelada de seus “filhotes” e constatou que estava tudo certinho. Suas aves são totalmente dependentes de seus tutores, mas criadas com um profundo amor de pai e mãe. Sim! Seu marido, Claudio, que não se interessava por animais também se apaixonou por elas e, hoje, é um paizão de aves.

Por Mônica Krausz

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