Marcos Sá escreve sobre a transformação das brincadeiras infantis

Do futebol de rua às escolinhas franqueadas, como atividades lúdicas evoluíram e se tornaram negócios estruturados, refletindo mudanças nos costumes e na sociedade

OS TRINTÕES, QUARENTÕES e todos os demais ões que lerem esse texto, sem dúvidas, irão relembrar o que se passou nas respectivas infâncias e comparar com o que ocorre hoje. Sem saudosismos, apenas constatações das mudanças e evoluções que ocorrem na sociedade, nos costumes e nas gerações. Quase todas as atividades praticadas no passado pelas crianças, hoje, ganharam um novo modelo. Empresas surgiram e se apoderaram dessas tradicionais atividades, criaram um marketing, um desejo de pertencimento, deram grife, nome, variações e atualizações para as brincadeiras infantis, atividades físicas e desportivas, jogos, recreações, música e para tudo aquilo que era lúdico, natural e que despertava o talento nos pequenos. Começando pelo futebol que era e ainda é a primeira manifestação de lazer dos meninos e que atrai também as meninas. A bola tem magia, encanta as crianças e as atrai como ímã. Do antigo futebol de rua (olha o carro!), dos campinhos de terra das várzeas, do futebol de salão, do society até os campos gramados ou com grama sintética, temos agora as escolinhas de futebol. Com professores disciplinadores, regras rígidas e treinos físicos puxados, administrados por empresas franqueadas pelos maiores times nacionais e internacionais e com direito a ingressar em times profissionais, dependendo do talento. Tornaram-se obrigatórias para as crianças que queiram praticar o esporte bretão ou aspiram seguir carreira. Brincadeiras de rua, como pega-pega, amarelinha, dança das cadeiras, queimada, cabo de guerra, esconde-esconde, cabra-cega, bola de gude, pula corda, empinar pipas e outras atividades lúdicas, são hoje administradas por recreadores profissionais que organizam a bagunça, oferecem espaços alternativos e orientam as crianças. Jogos de salão, de mesa, de dados, de cartas, Jokenpô, palitinho, ludo, dama, dominó, xadrez, mico e outros mais que ativam os cérebros infantis são, hoje, o business (negócio) de empresas que foram criadas com objetivo de atrair os pequenos para essas atividades, exercitando o cérebro e ajudando as crianças a se desenvolverem. Temos disponíveis métodos de ensino que evoluíram em várias direções. Cursos de línguas interativos, matemática, ginástica cerebral, oratória e escolas de música que se multiplicaram e aprimoraram as técnicas de ensino. Tive uma banda na adolescência e as músicas que tocávamos eram tiradas de ouvido, sem muita conexão com a original. O rádio era nosso app e repetíamos como papagaios em um incompreensível inglês, o que achávamos que ouvíamos, já que o cantor que aqui vos escreve não falava o idioma. Hoje, o inglês é aprendido pelos guris na ponta dos dedinhos, ainda de fralda e mamadeira, por intermédio dos games, youtubers, celulares, filmes e apps específicos para o ensinamento da língua. Gênios criaram apps específicos que nos dão da afinação dos instrumentos a letras, acordes, posições e solos na tela do celular, facilitando enormemente a empreitada. Uma delícia. Tem até IA vendendo criações musicais para compositores que não querem se dar o trabalho de ter uma “inspiração” com letra e tudo! E temos acesso irrestrito a todo o repertório musical nacional e internacional, através de streamings nas teclas dos celulares. Um show! Minha geração teve o privilégio de acompanhar todas essas evoluções e eu, particularmente, valorizo enormemente tais conquistas. O difícil é explicar e os mais jovens entenderem que o que se têm hoje à mão é fruto de muita dedicação e esforços, uma conquista e que nem sempre foi assim…


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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