Adivinha quem escreveu essa carta?

“Estou bem velho, mas ainda consigo sentir as areias das praias do Rio de Janeiro. Ainda consigo sentir a brisa das manhãs e o cheiro delicioso de café que só minha antiga terra era capaz de gerar. Ao longo da minha vida, tive a oportunidade de viajar pelo mundo, conhecendo novas culturas e costumes. Precisei viajar pelos continentes para perceber que nenhum dos lugares que visitei era tão grandioso quanto o meu Brasil. Percebi que nenhum povo era tão guerreiro quanto o meu povo brasileiro. Percebi que nenhum outro reino, império ou nação tinha as riquezas que nós tínhamos. Sei que não consegui agradar a todos, mas lutei por quase 60 anos com as armas que eu tinha. Tentei ser o mais justo possível e tentei enfrentar os altos e baixos com muita sabedoria. Hoje, a única certeza que tenho é que, se dependesse somente da minha pessoa, muita coisa teria mudado no Brasil, bem mais rápido do que se esperava. Por que não resisti ao golpe de Estado? Você deve estar se perguntando. Bem, porque eu não queria ver mais sangue brasileiro sendo derramado por ambições políticas. Era preferível ter em minhas mãos a carta do meu exílio do que o sangue do meu povo. Confesso que perdi as contas de quantas vezes sonhei que estava retornando para a minha pátria. Hoje, sinto que minha jornada aqui neste plano está bem próxima do fim. Quando a minha hora chegar, irei me curvar perante Deus, o Rei de todos os Reis, e agradecê-lo do fundo do meu coração, pela honra de ter nascido brasileiro”.

Certamente, quem escreveu foi um patriota, que poucos de nós conhecemos a história e o legado. Trata-se da carta de despedida de Dom Pedro ll. Uma joia, uma declaração de amor ao Brasil. Publico esse texto para que façamos uma breve reflexão sobre como, nos dias de hoje, poucos dos nossos homens públicos levam o Brasil no coração e os poucos que tentam são bombardeados pelo sistema operante, que não permite mudanças para melhorar o bem geral da população.

Tenho pesquisado a respeito da vida e legado de Dom Pedro II. Aos 5 anos, foi deixado por seu pai, Dom Pedro I, que teve que partir para assumir o trono em Portugal. Nunca mais se viram. As cartas trocadas entre os dois são de comover qualquer cristão. Aos 14 anos, assumiu o trono do Brasil. Dá para imaginar? Falava fluentemente alemão, italiano, espanhol, francês, latim, hebraico e tupi guarani. Lia árabe, grego, sânscrito, inglês e provençal.

Como todo ser humano, teve lá seus defeitos, mas foi um estadista único. Jamais surgiu no cenário nacional um dirigente com o caráter, a visão e o amor pelo seu país, como ele. Desde aquela época, os deputados e os nobres – vulgo a burguesia – já não colaboravam com o dirigente. Ele lutou. Durante sua regência, finalmente foi abolida a escravidão no Brasil. Seu governo foi uma época de prosperidade e pujança na economia, com progresso e inovações tecnológicas. Com 1,90m de altura, seu porte físico impunha respeito. Admirado no Brasil e no exterior, foi um dos responsáveis pelo sucesso e popularização da invenção do escocês Alexander Graham Bell, o telefone.

Neste ano, em que comemoramos 200 anos da Independência do Brasil, devemos celebrar aqueles que contribuíram para nossa liberdade. Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon – esse era seu nome completo.


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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