“Quando as vidas das mulheres estão em estase, tédio, já está na hora de a mulher selvática aflorar. Chegou a hora de a função criadora da psique fertilizar a aridez.”
O livro Mulheres que correm com os lobos apresenta segredos do instinto feminino primordial, que a autora Clarissa Pinkola Estés – analista junguiana, poeta, artista e contadora de histórias – batiza como “Mulher Selvagem”.
Passagens do livro vão nos tocar em diferentes instâncias, memórias, projeções futuras e, sobretudo, nos convoca a um trabalho sobre nossa identidade. As histórias e os contos que Clarissa apresenta nos ensinam e nos revelam como identificar e se apropriar dessa experiência arquetípica e, também, de como fugir de armadilhas que nos afastam dela. Elas nos ligam novamente a qualidades naturais do arquétipo da Mulher Selvagem, ou seja, é um instrumento de apropriação do feminino, de conhecimento da alma e nossa porção selvagem – em seu sentido original, de viver uma vida natural, não em seu sentido pejorativo de algo fora de controle! Clarissa trabalha para encorajar quem não começou ou para dar força para quem já está a caminho de sua própria liberdade – seja ela natural ou conquistada, dentro da realidade de cada uma –, com carinho para consigo mesma.
Apesar de todo o aparato moderno que estamos inundados, continuamos sendo primordialmente natureza – ou seja, não estamos simplesmente “em contato” ou “conectados” a ela… Nós somos natureza! E qualquer que seja a cultura que uma mulher esteja influenciada, ela poderá compreender as palavras “mulher” e “selvagem” intuitivamente. Trata-se de uma lembrança, um modelo universal e atemporal, uma força viva e coletiva, portanto, compartilhada por toda a humanidade, por isso, arquetípico.
Quando nosso relacionamento com esta força é reafirmado, recebemos o dom de contar com uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora e, também, uma ouvinte que nos guia, sugere e estimula uma vida vibrante! Tendo a Mulher Selvagem como aliada, líder, modelo ou mestra, passamos a ver para além de dois olhos, mas com nossos muitos olhos: a intuição.
É preciso que as mulheres se voltem para suas vidas instintivas, sua sabedoria mais profunda, para encontrar a Mulher Selvagem. Podemos nos encontrar através de sons, música, imagens, palavras, frases, livros, histórias, sonhos, encontros, perdas, experiências desoladoras. Nosso encontro com a Mulher Selvagem pode ser provocado tanto pela beleza quanto pela angústia.
Existem alguns sinais que precisamos identificar quando nosso relacionamento com esta força selvagem é interrompido. Alguns dos mais importantes podem ser: sensação de aridez, de fragilidade, de incapacidade de realizações; sofrer por viver em desacordo com os próprios ciclos; preocupar-se demais com a opinião alheia; encolher-se; medo de revidar quando não resta outra coisa a fazer, medo de se expressar, medo de parar, medo de agir… Estas rupturas são atemporais, como uma epidemia de qualquer hora e qualquer lugar; mulheres se sentem aprisionadas quando sua natureza selvagem tenha caído em uma armadilha.
A mulher não precisa necessariamente revolucionar sua vida – mas pode também! Pode ser esta mulher uma executiva, costureira, florista, médica, dona de casa, artista, educadora, vendedora. Pode ter ou não ter filhos. Pode estar ou não estar casada. Pode seguir uma vida dentro de “padrões comuns” para sua referência coletiva, ou não. O importante é estar apropriada sobre você, sobre suas potências, força e vitalidade, sobre sua natureza, sua intuição, seus ciclos.
É preciso esforço para permitir que nossa alma cresça naturalmente até atingir sua profundidade natural, e este caminho costuma desviar do “politicamente correto” ou de velhos paradigmas obsoletos.
“Portanto, se você for introvertida ou extrovertida, uma mulher que ama mulheres, uma mulher que ama homens, uma mulher que ama a Deus ou todas as opções anteriores; se você possui um coração singelo ou as ambições de uma amazona; se você está querendo chegar ao topo ou apenas levar a vida um dia após o outro; se você é animada ou triste, majestosa ou vulgar – a Mulher Selvagem lhe pertence. Ela pertence a todas as mulheres.”
Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem
Clarissa Pinkola Estés
Editora Rocco, 1994
Através da interpretação de 19 lendas e histórias antigas, entre elas as de Barba-Azul, Patinho Feio, Sapatinhos Vermelhos e La Llorona, a autora procura identificar o arquétipo da Mulher Selvagem ou a essência da alma feminina, sua psique instintiva mais profunda. E propõe o resgate desse passado longínquo, como forma de atingir a verdadeira libertação.
Serviço
Ana Luiza Bortolato
Psicóloga formada pela PUC-SP e acupunturista
(11) 99375-8482
Instagram: @analuiza.psico