Virado pela Educação
Para Abidan Henrique da Silva, nascido e crescido nos Bairros da Ressaca e Caputera, na divisa entre Embu das Artes e Cotia, uma oportunidade virou o jogo da sua vida para sempre. A oportunidade do ensino de qualidade. Ele estudou até a 8ª série, equivalente ao 9º ano, na Escola Municipal do Caputera e até os 14 anos de idade, apesar de ser um bom aluno, com boas notas, só pensava em ser jogador de futebol. “O que mudou a minha vida foi que na oitava série, a professora Dalva Helena, de artes, me falou sobre uma ONG que dava bolsas de estudos para que alunos de escolas públicas fossem para escolas privadas de ponta e pudessem impulsionar seus estudos”, conta Abidan. “Em 2011, eu me inscrevi para o concurso de bolsas do Colégio Sidarta, pelo Instituto Ismart e, em 2012, eu participei do processo seletivo que tinha 5 fases”, lembra. E passou! “Em 2012, mesmo eu entrei no Ensino Médio do Colégio Sidarta e esse foi o grande divisor de águas na minha vida porque ampliou os meus horizontes e me mostrou novas oportunidades”, comenta.
Abidan explica que o Instituto Ismart tem parceria com várias escolas particulares do Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e que após a conclusão de seu curso no Sidarta, continuou lhe apoiando com mentoria, até na faculdade. Ao se formar no Ensino Médio, Abidan entrou em cinco universidades e escolheu Engenharia Civil da Poli-USP, onde está estudando hoje e já se preparando para um mestrado em planejamento urbano e gestão de cidades.
“Quando eu cheguei no Sidarta, o pessoal já tinha química e física desde a sétima série”, lembra-se. “Eu cheguei com uma grande defasagem na maioria das matérias e com disciplinas que eu nunca tinha visto na vida”, conta. O jeito foi estudar muito, em período integral, de manhã com as aulas normais e de tarde com aulas de reforço.
Foi no Sidarta que ele conheceu um projeto sobre Debates. “Eu sempre gostei muito de falar em público e me encantei com a possibilidade do grupo que ia para outras escolas debater sobre assuntos do momento com outros jovens estudantes”, lembra-se. “No segundo ano do Ensino Médio, eu soube de uma nova oportunidade oferecida pelo Sidarta que era um Summer em Harvard, nos Estados Unidos, oferecido por Robert Wong, um dos Conselheiros do Sidarta”, conta. Era uma bolsa única. “Na entrevista com o Robert Wong, tinham oito candidatos falando em inglês e um falando em português, que era eu”, diverte-se.
Abidan lembra que Robert Wong gostou muito da história dele, mas o aconselhou a estudar inglês pois ele precisaria de um mínimo para ir fazer o curso de férias em Harvard. E foi o que ele fez. Estudou muito e no terceiro ano do ensino médio, em 2014, foi aprovado para a bolsa no curso de inglês, sete semanas, nas férias de verão dos Estados Unidos. “Ou seja, em dois anos e meio eu fui do Caputera para Harvard”, brinca.
Além de mudar sua vida, as oportunidades oferecidas no Sidarta mudaram a vida de toda a família. A mãe que era empregada doméstica e havia estudado até a 4ª série, vendo o progresso do filho, voltou a estudar e hoje é pedagoga. O pai, marceneiro, também voltou a estudar. “Quando eu fui prestar o Enem, fomos eu, meu pai, minha mãe e minha irmã juntos, todos prestar o Enem e todos entramos na faculdade”, lembra.
Na FEI ele começou a participar de grupos que viajavam pelo Brasil fazendo trabalhos sociais que envolviam a engenharia. “Fomos por exemplo, para uma cidadezinha no interior do Alagoas, fazer fossas para comunidades que nem isso tinham”, conta. Na Faculdade também começou a se engajar no Grêmio estudantil e depois fez um estágio de dois anos na Fundação Lemann, com educação, trabalhando no PEP (Programa de Escolas Plugadas), que levava tecnologias educacionais para 8 mil alunos de escolas públicas da região metropolitana de São Paulo.
Foi a partir de todas estas experiências que aos 20 anos de idade Abidan também criou o Movimento Km 23 (referência ao km 23 da Régis, onde está a comunidade onde hoje ele atua voluntariamente). Com outros dois colegas da USP, que também eram moradores do Embu das Artes resolveram fazer a diferença na região onde moravam fazendo palestras e atividades nas escolas públicas da região para mostrar para outros meninos e meninas como era possível chegar onde eles chegaram por meio do estudo; mostrando caminhos para conseguir bolsas de estudos, bolsas em cursinhos, cursinhos gratuitos, entre outros. Além disso, também criaram um programa de mentoria onde conectam os alunos de escolas públicas com universitários da USP para que conversem mensalmente sobre temas para o vestibular. Nesse projeto já conseguiram aprovar quatro alunos na USP, três na Federal e outros com bolsas 100% em faculdades particulares. A ideia é que no futuro, estes alunos também sejam mentores e ampliem ainda mais esse trabalho.
E para fechar esta história toda com uma baita chave de ouro, este ano Abidan foi convidado a participar da Brazil Conference, em Harvard pela segunda vez. O ingresso para participar ele já tem, agora está buscando recursos para viagem e estadia, com mais quatro colegas do Ismart que também vão participar por isso abriram uma Vakinha online para arrecadar recursos.
O Brazil Conference é um evento organizado por estudantes brasileiros que estão na região metropolitana de Boston, como os Universidade de Harvard e do M.I.T, para debater os rumos e perspectivas do Brasil. Para esse evento eles convidam algumas das maiores autoridades do Brasil, sejam do setor público, privado e acadêmico. Os cinco bolsistas do Ismart vão justamente para mostrar essa vivência de jovens negros, da periferia, baixo poder aquisitivo, oriundos de escolas públicas que conseguiram superar as dificuldades e progredir.
Saiba mais em https://www.facebook.com/abidan.henrique
Vianna na Literatura
Ao saber que Ricardo Vianna cresceu na Granja Viana e estudou a vida inteira no Colégio Rio Branco até terminar o ensino médio, é comum que lhe perguntem: o seu Vianna tem alguma relação com a família Vianna da Granja? “Não, pura coincidência”, diz ele. Mas o importante é que Ricardo é um autêntico granjeiro, que aos 20 anos lança o seu primeiro livro de contos: Sentimentos Vãos, pela editora Viseu. O lançamento oficial acontecerá no dia 07/03, na Livraria Cultura da Avenida Paulista, às 19 hs, mas você já consegue ler alguns contos online e até comprar um exemplar pela web.
O livro reúne 16 contos, que segundo o autor, não falam de pessoas, mas falam dos sentimentos que as movem. “Na verdade, todos os textos expressam sensações que eu vivi em algum momento da minha vida, ou que percebi que alguém viveu”, explica.
Ricardo conta que começou a se interessar mais pelos livros no Ensino Médio, quando se viu em meio a uma lista de leituras obrigatórias para o vestibular que se aproximava. O primeiro livro que lhe despertou maior interesse pela literatura, segundo ele foi Revolução dos Bichos, de George Orwell, em seguida leu 1964, do mesmo autor e não parou mais, passando a ler outros livros. Nesse período, também fazia alguns textos que chamaram a atenção da professora de redação Débora Menezes, do Colégio Rio Branco. “Ela me dava um feedback muito positivo e isso foi me incentivando cada vez mais a escrever poesia e contos”, conta Ricardo.
Sobre o futuro? Ricardo pretende continuar escrevendo. O segundo livro, na verdade, já está quase pronto. Também pretende trabalhar com fotografia, sua segunda paixão.
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Que venham muitos livros!
Muito mais que 20 medalhas
Ele já perdeu a conta das medalhas que conquistou como o Taekwondo. Aos 20 anos de idade Leandro Abner Ferreira de Souza já levou e levantou as bandeiras do Brasil e de Cotia para países como Argentina, Chile, México, Canadá, Itália e até para China! Ganhou títulos importantíssimos no Taekwondo como o ouro no Panamericano Juvenil em 2013, bronze no Campeonato Mundial Junior do Canadá em 2016, ouro no Sul-americano da Argentina em 2017, além de ser exa campeão paulista e penta campeão brasileiro. Na última semana de fevereiro, vai para o US Open, de Orlando, na Flórida, competição importante para pontuar no ranking mundial.
Morador de Caucaia do Alto, começou a praticar Taekwondo aos 6 anos de idade, em uma academia no Mirante com os professores Ricardo e Jeferson, que eram alunos do Mestre Geraldo Siqueira e logo perceberam o potencial do garoto. “Eu sempre fui baixinho, mas fortinho”, comenta Leandro. Segundo ele a força o ajudava a vencer muitas lutas por nocaute.
Durante sua trajetória no esporte, Leandro recebeu bolsa atleta em Cotia para poder se dedicar aos treinos. Hoje é atleta da Marinha Brasileira, o que já o ajuda em relação a verbas para viagem e estadias. “Eu não vivo mais sem o Taekwondo”, diz. “Se eu comparar o que eu consigo ganhar com o esporte ao que os meus amigos do bairro estão fazendo, eu vejo que conquistei muito mais”, diz. “Se eu pudesse escolher uma profissão, não sei se seria esta de atleta porque treinar todos os dias, fazer dieta para se manter no peso certo (hoje até 80 quilos), não é fácil, mas é um talento que eu tenho e não posso desperdiçar”, afirma. No auge de sua carreira, Leandro hoje também cursa faculdade de Educação Física na UNIP e diz que pretende lutar e ganhar tudo o que puder até os 35 anos de idade para depois partir para outros sonhos.
Por Mônica Krausz