Paris em festa

A festa com a seleção campeã da Copa do Mundo de Futebol e a beleza da capital francesa. Este foi o tema da coluna de agosto de Marcos Sá.

Dei sorte! Não foi nada planejado, mas cheguei a Paris junto com a seleção francesa, que acabara de conquistar a Copa do Mundo de 2018. A cidade estava em festa. Uma comoção nunca vista tomou conta das ruas de Paris, com os franceses enlouquecidos para recepcionar seus ídolos. Um momento único! Uma multidão tomou conta da Av. Champs-Elysées. Se fosse manifestação do PT, o Data-Falha diria que havia 3 milhões de pessoas, ou seja, toda a população da cidade. Era quase isso. Tinha gente que não acabava mais. Quase fui esmagado no meio da euforia que assolou os parisienses. Franceses, senegaleses, nigerianos, marroquinos, tunisianos, malineses, argelinos, árabes e até mulheres com burca, alucinadas em catarse esperando por horas o desfile em carro aberto dos seus heróis para lhes dar um aceno. Além da calorosa recepção por terra, pelo ar Mirages supersônicos faziam acrobacias e davam rasantes sobre o Arco do Triunfo, soltando fumaça colorida nas cores da bandeira francesa: azul, branco e vermelho. Um delírio. Numa Europa dividida com relação à entrada em massa de imigrantes oriundos de países mais pobres, os franceses viram sua seleção chegar ao topo do mundo com a metade do seu elenco vindo das antigas colônias ou sendo filhos de imigrantes nacionalizados franceses. Liberté, Egalité, Mbappé era o lema do povo nas ruas. Só o futebol para unir o mundo numa audiência recorde com emoção e alegria e Les Bleus deram uma demonstração de harmonia entre seus jogadores. Essa força da união multirracial reforçou aos franceses o orgulho nacional e o sentimento da conquista, tão caro a eles. Não faltaram os vândalos de sempre, vitrines quebradas, lojas depredadas, roubos e brigas marcaram a cidade, mas não mancharam os festejos. E pensar que toda essa festa sensacional poderia ter sido no Brasil. Recuperaríamos um pouco do orgulho perdido e da nossa autoestima, nesse momento difícil que atravessamos, tendo de engolir um sapo por dia. Ora um sapo do STF, ora um do Congresso e agora um sapão da CBF e da seleção brasileira. Infelizmente o que nos restou foram alguns memes, muita conversa afiada e a ridicularização do nosso craque Neymar, que injustamente virou piada mundial, do exagero, da encenação da dor e do cai-cai. Injustamente porque o cara foi caçado como ninguém em campo e a encenação faz parte do repertorio dos atletas, principalmente dos jogadores brasileiros. Quem sabe essa prática diminua por aqui depois desse vexame. Mas senti uma ponta de inveja dos torcedores de outros países que pegaram o Neymar para Cristo, sem contar a nossa mania de perseguir nossos conterrâneos de sucesso. E a presidente da Croácia? A Kolinda Grabar mandou bem! Pagou sua viagem, mandou descontar do seu salário os dias em que ficou na Rússia e deu um show de fair play, alegria e apoio a sua seleção. Que inspire nossos políticos. Futebol à parte, a Cidade Luz continua linda. Constatei um dos segredos da sua beleza arquitetônica. Todas as fachadas de Paris têm a cor champagne, mantendo uma unidade visual espetacular. As construções não ultrapassam quatro andares e não existem pichações. Os parques e os monumentos são cuidadosamente mantidos e as estátuas e símbolos brilham como ouro! Existe uma grande preocupação com a beleza e a estética, entre os habitantes e o Governo, para tornar a cidade mais bonita. Flores nas sacadas, paredes limpas, jardins bem cuidados, enfim, uma cultura a favor do bem-estar. As mulheres francesas misteriosamente continuam magras, desafiando a lógica de que comer bem engorda. Seria o DNA ou o vinho? Pois comer e beber ainda são os esportes prediletos na França. Deixo a França e sigo em direção ao Reino Unido. Londres e Escócia, mas isso é assunto para o próximo mês. Au revoir!


Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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