A transição das tradicionais rolhas de cortiça para as screw caps, ou tampas de rosca, está em pleno andamento no mundo dos vinhos. Apesar do preconceito e da desconfiança de muitos, a verdade é que essa inovação está ganhando força e substituindo gradualmente as antigas rolhas.
No Brasil, essa mudança ainda ocorre de forma lenta. Muitos vinhos são comercializados com rolha apenas para atender ao mercado local, enquanto em seus países de origem são vendidos com tampas de rosca. Os brasileiros estão entre os mais resistentes à mudança no universo do vinho.
A escassez de rolhas de cortiça é um fator crucial nessa transformação. Os principais produtores de cortiça estão concentrados na Europa Ibérica e no norte da África, regiões distantes de muitos países produtores de vinho. Além disso, a cortiça é retirada do sobreiro, uma árvore cuja casca demora cerca de 10 anos para se regenerar, limitando a oferta.
Diante da previsível escassez e do aumento dos custos, surgiram alternativas à cortiça, como rolhas de plástico, de pedaços de cortiça e sintéticas de borracha. No entanto, nenhuma dessas opções se mostrou tão eficiente quanto a screw cap, especialmente para a conservação e envelhecimento dos vinhos.
Uma vantagem significativa é a proteção contra o defeito do bouchonné ou “corky”. Esse defeito ocorre quando o vinho é contaminado por compostos químicos presentes na cortiça, resultando em um aroma e sabor desagradáveis. As screw caps eliminam esse risco, garantindo que o vinho mantenha suas características originais.
Na Austrália e Nova Zelândia, 100% da produção de vinhos já utiliza screw caps. Nos Estados Unidos, África do Sul e Chile, a adoção também é significativa, embora o Chile mantenha alguns vinhos com rolha para atender a demanda brasileira. Até mesmo a Europa, tradicionalmente adepta da rolha de cortiça, está se adaptando e adotando cada vez mais as roscas.
Estudos realizados por grandes universidades comprovaram a eficácia das screw caps, demonstrando que são tão boas, senão melhores, do que as rolhas de cortiça. Apesar disso, muitos amantes do vinho, incluindo esta colunista, sentirão falta do ritual nostálgico de abrir uma garrafa de vinho com uma rolha de cortiça, acompanhando o som característico ao desprender-se da garrafa.
PAULA PORCI
Consultora, palestrante e colunista de bebidas
Juíza de vinhos Sommelière de vinhos ABS-SP e AIS-FR
Fundadora da Confraria das Granjeiras