Esta foi nossa segunda viagem à Bósnia.
A primeira havia sido em 2014 à cidade de Mostar, juntamente com a visita à Croácia e Montenegro.
Desta vez foi um desvio de nossa estadia na Servia.
Posso dizer que dentre os países dos Bálcãs não é o mais bonito, mas com certeza o mais intenso emocionalmente.
Lógico que, em função de uma longa história de ocupações: pelo império romano, império turco-otomano e austro-húngaro.
Mas na história mais recente, sofrimentos nas I e II guerras mundiais; comunismo, fazendo parte da então Iugoslávia, até a dissolução da Iugoslávia e consequente guerra da Bósnia, trouxeram traumas e consequências econômicas até os dias de hoje.
Uma boa parte da Bósnia é montanhoso, com vales e cumes de tirar o fôlego.
O percurso da Servia até Sarajevo foi bastante lento em função das curvas das estradas e caminhões pesados que encontramos pelo caminho, mas que na verdade nos deu a oportunidade de apreciar mais a paisagem.
Sarajevo, a capital, foi importante centro comercial, e ao longo dos séculos e comunidades ortodoxas, muçulmanas, e judias conviveram pacificamente no local.
No mundo moderno, a população judaica foi dizimada na segunda guerra mundial e os bósnios de etnia servia ortodoxa e os bósnios de etnia muçulmana acabaram se confrontando na guerra da Bósnia em 1992.
A história dos Balcãs é extremamente confusa e difícil de entender. São brigas de etnias que convivem lado a lado e que persiste até os dias de hoje.
Quando se dirige pelo país passa-se por regiões com avisos fronteiriços de entrada ou saída da Republica Srpska (Ortodoxos) ou Bósnia-Herzegovina (muçulmanos). Na prática não se vê nenhuma diferença, a não ser a maior presença de mesquitas de um lado, ou de igrejas ortodoxas de outro.
Mas na administração do país as diferenças estão mantidas, pois o país é governado por 3 presidentes que representam diferentes etnias e que se alternam a cada 8 meses. Então, imagina o desmando que deve ser, com aberturas para corrupção e conflitos.
Sarajevo está incrustada num fundo de vale dentro da Republica Srpska, mas envolta numa região montanhosa pertencente a Republica Bosnia-Herzegovina.


Somente num gargalo montanhoso ela se comunica com o resto da Republica Srpska.
Isto definiu o cerco de 1400 dias que a cidade sofreu pelo exército da Republica Srpska onde snippers atiravam livremente da privilegiada posição nas montanhas contra os cidadãos da cidade numa tentativa de intimidação e limpeza étnica.
Foi nesta época que os cidadão construíram um túnel subterrâneo embaixo do aeroporto bem no gargalo do cerco para receber mantimentos e armamentos dos aliados.


Ainda hoje vemos marcas da guerra pela cidade com buracos de balas nos edifícios e no chão, atingidos por bombas. Alguns destes buracos no chão, chamados de “rose”, estão identificados e pintados de vermelho mostrando que ali no mínimo 3 pessoas foram mortas.


Mesmo em tempos de pandemia, a cidade estava bastante movimentada, mas, basicamente de população local. O que não nos deixou muito confortáveis, uma vez que ninguém usava máscara.
Os turistas estrangeiros estão devagar retomando a visitação.
Chegamos em Sarajevo no dia de aniversário do massacre de Srebrenica (localidade alguns quilômetros ao leste) onde a população masculina muçulmana foi dizimada e mulheres violentadas. Com a omissão da ONU, que cuidava do local e que não fez nada para impedir.
Ao longo do dia, alto-falantes pela cidade ficaram repetindo os nomes dos 9373 bósnios assassinados no evento.
A cidade velha é pequena e bem demarcada com construções de herança turca (ruelas com mesquitas bazares e restaurantes) e herança austro-húngara onde se tem impressão de caminharmos em Viena.




A comida na região turística é de pratos e doces típicos. Mas a melhor Bureka da minha vida comi num fast food chamado Forino já no fim da área de pedestres, por 1 euro a porção.


Ficamos nesta segunda passagem pela Bósnia tão bem impressionados quanto da primeira vez e penso que numa viagem aos Balcãs esta é uma visita que não deve faltar.
Debora Patlajan Marcolin, médica, 65 anos, muito curiosa com relação a diversidade cultural do nosso planeta. Viajo desde que me conheço por gente e tudo me atrai. Desde a minha vizinhança pobre de Carapicuiba até as cerimonias fúnebres de Tana Toraja na Indonésia, passando por paraísos naturais como o pantanal mato-grossense e deserto do Jalapão. Já conheci por volta de 75 países e não paro de projetar novos destinos. Entendo que para se viajar é preciso estar de peito aberto e abandonar todo tipo de preconcepção, que com certeza, a viagem vai te provocar profundas mudanças internas e gosto pela vida. Autora do blog A Minha Viagem.