Planeta em luto: morre o papa Francisco aos 88 anos

Primeiro papa jesuíta e latino-americano da história, ele conduziu a Igreja Católica em um período de grandes transformações, rompeu tradições e se tornou um símbolo de diálogo

Um dos papas mais carismáticos da história recente, Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, morreu nesta segunda-feira (21) aos 88 anos. Francisco havia ficado internado por 38 dias, desde o dia 14 de fevereiro, no hospital Gemelli, em Roma, em virtude de uma bronquite que evoluiu para uma pneumonia bilateral. Presidente Lula decretou Luto Oficial de 7 dias pela morte do pontífice.

Neste domingo, visivelmente debilitado, o Pontífice chegou a participar da missa de Páscoa e aparecer na sacada da Basílica de São Pedro para a mensagem de Páscoa Urbi et Orbi, deixando sua última mensagem para a Igreja e o mundo lida pelo Monsenhor Diego Ravelli já que ele não teria condições de ler:

“Não é possível haver paz sem um verdadeiro desarmamento! A necessidade que cada povo sente de garantir a sua própria defesa não pode transformar-se numa corrida generalizada ao armamento”, escreveu o pontífice. O papa Francisco também pediu que políticos e gestores busquem utilizar todos os recursos disponíveis para ajudar os necessitados e combater a fome. “Estas são as ‘armas” da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte! […] “Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Perante a crueldade dos conflitos que atingem civis indefesos, atacam escolas e hospitais e agentes humanitários, não podemos esquecer que não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade.”

O papa faleceu às 7h35 desta segunda, pelo horário de Roma (2h35 de Brasília).
“O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja”, disse o comunicado do Vaticano.

Um líder que rompeu tradições, aproximou a Igreja dos mais pobres e se tornou um símbolo de diálogo e inclusão, Francisco marcou sua trajetória por gestos de humildade e posicionamentos firmes sobre temas sociais e ambientais.

Primeiro papa jesuíta e latino-americano da história, ele conduziu a Igreja Católica em um período de grandes transformações, enfrentando desafios internos e externos com um olhar voltado para a misericórdia e a renovação.

Seu papado foi caracterizado pela defesa dos imigrantes, a luta contra a desigualdade e um chamado urgente para a preservação do meio ambiente, consolidando seu legado como um dos pontífices mais influentes do século XXI.

Jornada de fé

Nascido em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes italianos, Jorge Bergoglio entrou na Igreja Católica a partir do seminário diocesano de Villa Devoto. Aos 22 anos, iniciou o noviciado na Companhia de Jesus e, em 1963, obteve licenciatura em filosofia no Colégio de São José. Passou os três anos seguintes lecionando filosofia e psicologia em colégios católicos na Argentina, onde também estudou teologia. Foi ordenado padre em 1969.

Nos anos 1980, Bergoglio começou a assumir papéis de liderança dentro da Companhia de Jesus, tornando-se provincial da ordem na Argentina em 1973. Durante esse período, ele enfrentou desafios significativos, incluindo a repressão política durante a ditadura militar argentina. Embora tenha sido criticado por alguns por sua abordagem cautelosa em relação ao regime, ele sempre defendeu a dignidade humana e trabalhou em prol dos direitos humanos.

Em 1992, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires e, em 1998, tornou-se arcebispo da cidade. Como arcebispo, continuou a enfatizar a importância da justiça social, promovendo iniciativas para ajudar os pobres e fomentar a inclusão social. Sua abordagem pastoral centrada no povo e sua habilidade de diálogo o tornaram uma figura respeitada na Igreja e na sociedade argentina.

De Cardeal a Papa

Em 2001, Bergoglio foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II, o que o colocou em uma posição de maior influência dentro da Igreja Católica. Ele participou de vários sínodos e conclaves, onde suas opiniões e experiências foram valorizadas. Durante esses anos, destacou-se por sua ênfase na necessidade de uma Igreja mais aberta e acessível, preocupada genuinamente com os problemas do mundo contemporâneo.

A reputação de Bergoglio como líder pastoral e social cresceu, tornando-se conhecido por seu estilo simples e sua capacidade de se conectar com as pessoas. Ele frequentemente visitava as favelas de Buenos Aires, conversando com moradores e ouvindo suas preocupações.

Em 2013, após a renúncia do Papa Bento 16, Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa, tornando-se o 266º pontífice da Igreja Católica. Ao escolher o nome de Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, fez uma clara alusão ao santo da pobreza e da simplicidade, refletindo seu desejo de uma Igreja mais próxima dos pobres e marginalizados. Desde então, seu papado foi marcado por um enfoque renovado na misericórdia, no diálogo inter-religioso e na defesa dos direitos humanos.

Legado de humildade

O Papa Francisco se destacou por sua abordagem pastoral e acessível. Ele frequentemente visitava comunidades carentes, incentivando a Igreja a sair de suas paredes e a se engajar ativamente nas questões sociais. Sua encíclica Laudato Si’, publicada em 2015, abordou a crise ambiental e a necessidade urgente de cuidar da criação, ecoando um chamado à ação que ressoou em todo o mundo.

Além de seu ativismo social, o Papa Francisco foi um defensor do diálogo inter-religioso, promovendo a paz e a compreensão entre diferentes culturas e tradições. Sua visita histórica a países como o Iraque e o Egito simbolizou seu compromisso em construir pontes entre as religiões.

Nos últimos anos de seu pontificado, enfrentou desafios dentro da própria Igreja, incluindo debates sobre reformas internas e respostas a crises institucionais. Ainda assim, permaneceu como uma voz influente em temas como justiça social, imigração e mudanças climáticas.

O legado de Francisco será lembrado como o de um Papa que buscou tornar a Igreja mais inclusiva, próxima dos necessitados e alinhada com os desafios do século XXI. Seu impacto transcendeu as fronteiras do catolicismo, marcando a história como um líder global que pregou a compaixão, a humildade e a esperança até seus últimos dias.

Artigo anteriorDra. Marcela Buffon – Cardiologia e Clínica Médica
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