No momento em que a solidariedade se tornou uma das principais armas contra a pandemia, muitos voluntários espalhados por aí têm se mobilizado para ajudar pessoas em estado de vulnerabilidade social com distribuição de alimentos, doação de produtos de higiene e diversas outras ações solidárias. Entre estes muitos voluntários, está Marcos Silva Santos, de 38 anos.
Tendo herdado a profissão do pai, o também fotógrafo Vailton Silva Santos, Marcos Batata – como é conhecido – tem o costume de fazer retratos de moradores da comunidade em que vive. Criador do projeto #cinekordel, ele busca colocar o Morro do Macaco, em Cotia, no mapa. “Muita gente nasce no Morro, vive uma vida incrível aqui, realizando coisas incríveis, e depois que morre, ninguém se lembra mais delas”, diz.
Nascido e criado em uma das comunidades mais conhecidas do município, ele conhece como poucos a realidade da região. “A pandemia pegou em cheio uma coisa que já era ruim e elevou à décima potência”, comenta desapontado. Alguns de seus vizinhos são trabalhadores informais e estão sem renda durante este período de isolamento. Outros perderam seus empregos. Há mães solteiras que sustentam a casa sozinhas. Isso sem contar os que não são alfabetizados e aqueles que nem acesso à Internet tem.

Por isso, pensando nas dificuldades que poderiam surgir desde que o cadastro de auxílio emergencial foi aberto no início de abril, Batata vem ajudando quem precisa receber o benefício. “Eu queria ser um facilitador para elas, pessoas com maior vulnerabilidade, que não têm acesso à lei, que não consegue ler perfeitamente, que não tem inclusão digital… pensei: são essas pessoas que vão mais precisar e é para elas que eu fazer”, lembra.
Com a ajuda da amiga Julia Lillo, que é estagiária de Direito, ele estudou sobre a Lei 13.982/20, quem tem direito e como funciona o benefício. Assim, passou a tirar dúvidas sobre o auxílio emergencial e a ajudar quem precisasse no cadastro. Não sabe quantas pessoas ajudou com esta atitude, mas foram muitas e de locais além Morro do Macaco. Batata se tornou um tira-dúvidas de moradores de outras comunidades fora de Cotia. “Estou devendo no banco”, “não votei na última eleição”, “não tenho conta no banco” foram algumas das situações relatadas de pessoas que o procuraram de outros locais.
Durante este processo, se deparou com algumas dificuldades. “Quando cheguei nos mais vulneráveis, pessoas que não tem celular, não havia como cadastrá-las, porque é obrigatório ter um número de celular. Fui tentar descobrir se eu poderia cadastrar as pessoas através do meu, mas não deu certo. O código não vinha”, conta. Esta pauta ele sugeriu até para emissoras de televisão e a Rede Globo (vídeo abaixo) chegou a entrevista-lo. Antes, o Portal G1 e a TV Record também fizeram reportagens sobre sua ação solidária.
No site do governo federal, o Ministério da Cidadania explica que pessoas que não tenham celular ou acesso à internet podem fazer o cadastro presencialmente em alguma casa lotérica ou agência bancária da Caixa. Porém, não é uma medida tão simples. Na porta de lotéricas e agências da Caixa, as filas se estendem pelas calçadas, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde de evitar aglomeração para prevenir o contágio de coronavírus.
Sobre este assunto, Batata também se angustia. “A parte mais desafiadora, para mim, é lidar com a angústia que sinto pelas pessoas que não podem ficar em casa e tem que sair para trabalhar, correndo o risco de se contaminar e contaminar outras pessoas. É um desafio observar a situação que está acontecendo, ver pessoas morrendo e outras com dificuldade para ter acesso ao salário, sem poder alimentar suas famílias. Minha angústia tem sido mais nesse sentido: observar a dificuldade das pessoas”, revela.

Antes mesmo da pandemia, ele auxiliava quem precisasse a fazer currículos, tirar xerox e outras tarefas que envolvessem internet ou tecnologia. “Faço tudo que está ao meu alcance. Num ambiente de vulnerabilidade, tem muitas coisas básicas que fazem falta e são fáceis de resolver”, afirma. Há mais de 7 anos, atua em movimentos sociais e desenvolve trabalhos na área de educação, oferecendo cursos gratuitos de fotografia e aulas de alfabetização para jovens e adultos.
Recentemente, criou também uma campanha de arrecadação de cestas básicas para mulheres diaristas e domésticas que perderam suas fontes de renda por conta da pandemia da Covid-19, moradoras da região central da capital paulista. Veja no vídeo abaixo:
Como fotógrafo, Batata também está sem trabalhar e sobrevivendo com algumas economias. Sai de casa, apenas para o básico. Costuma ir ao mercado de 21 em 21 dias e sempre logo no primeiro horário. Como vive no mesmo terreno que seus pais, já idosos, tem seguido todas as recomendações para evitar contaminação.
Para ele, a pandemia foi um chacoalhão do tipo: será que a gente está fazendo a coisa certa? “Acho que, no mínimo, fez a gente pensar que o mundo obrigatoriamente vai ter que ser diferente do que era antes. Serviu para entendermos que todos somos seres humanos e que estamos sentindo a mesma dor e temos as mesmas fragilidades”, comenta. Ele aposta que o mundo pode ser melhor: “acredito que o mundo vai ser melhor de um jeito ou de outro, mas eu não sei se por conta da pandemia ou não. Mas, enfim, eu espero que a gente aprenda muitas coisas com isso”. Ele vem fazendo a sua parte, mostrando que, se o vírus é contagioso, a solidariedade é ainda muito mais.
Por Juliana Martins Machado