Pessoas que fazem parte do mesmo círculo de amizade influenciam umas às outras em diversas situações, mas um estudo realizado por pesquisadores das Universidades de Harvard, Brown e San Diego comprovou que isso pode ir muito além de restaurantes e bons livros, por exemplo. De acordo com o levantamento, homens ou mulheres têm 75% mais chances de se divorciar quando algum amigo próximo toma essa decisão e, quando se tem vários amigos separados, essa chance sobe para 147%.
Quando este tipo de situação ocorre dentro da própria família, as chances de terminar um casamento são de 22% se o seu irmão é divorciado. Se um amigo de um amigo se separa, as chances de se divorciar aumentam 33% e, para colegas de trabalho, esse número cresce para 50%.
Intitulado “Romper é difícil, a menos que todos os outros também estejam fazendo isso”, o estudo foi feito com base nas relações de 12 mil pessoas que viviam na cidade de Framingham, na Nova Inglaterra. O efeito dominó é chamado, pelos pesquisadores, de “agrupamento de divórcios”.
“Quando um amigo próximo se divorcia, isso nos alerta para as possibilidades”, explica a advogada Debora Ghelman, especialista em Direito Humanizado nas áreas de Família e Sucessões. “Quando isso acontece, as pessoas começam a olhar para suas próprias vidas e passam a avaliar seus próprios problemas conjugais que muitas vezes incluem brigas, traições, ciúmes, monotonia, falta de interesse sexual, entre outras questões”, diz.
Outra possível razão é que ver outra pessoa se divorciar reduz o estigma de separação dentro desse círculo social. Em alguns casos, ver um amigo desfrutando de um novo relacionamento e feliz em recomeçar sua vida amorosa com outra pessoa gera reflexões sobre o próprio cônjuge.
“A maior vantagem de observar um amigo passando pelo divórcio é que isso lhe dá a oportunidade de ter mais comunicação em seu próprio casamento”, diz a advogada. “Assuntos que podem ser difíceis de abordar, agora podem ser discutidos destacando o desejo de evitar passar pelo o que amigo está passando”, afirma a especialista.
O estudo também analisou o efeito do divórcio entre pessoas próximas e até mesmo entre amigos nas redes sociais e constatou que divorciados influenciam outros a finalizarem seus relacionamentos quando demonstram que sua decisão foi pessoalmente benéfica (ou pelo menos tolerável) ou mesmo fornecem suporte que permite ao indivíduo suportar uma ruptura.
Divórcios aumentam durante pandemia
O isolamento social fez com que muitas pessoas ficassem mais instáveis emocionalmente e as relações familiares também acabaram sendo afetadas, resultando em divórcio para muitos casais. Não à toa, portanto, que, desde o início da pandemia e do isolamento, as buscas no Google Brasil pelo termo “divórcio online gratuito” aumentaram quase 10.000% entre 13 e 29 de abril.
Nos cartórios de notas do país, durante a quarentena decretada pela pandemia do novo coronavírus, entre os meses de maio e junho deste ano, o número de divórcios consensuais aumentou 18,7%. O aumento coincide justamente com a autorização nacional que desde maio – por meio do provimento número 100 – permite que divórcios, inventários, partilhas, compra e venda, doação e procurações possam ser feitos de forma remota, por videoconferência por meio da plataforma e-Notariado.
“Os casais interessados em fazer pedidos de divórcio ou separação podem solicitar o serviço pela internet. Hoje em dia, os processos são eletrônicos, então, é possível que o divórcio seja feito remotamente, havendo até a possibilidade de realização de audiência por videoconferência”, explica a advogada Debora Ghelman.
Em números absolutos, os divórcios consensuais passaram de 4.471 em maio para 5.306 em junho de 2020. Houve crescimento em 24 estados brasileiros, especialmente no Amazonas (133%), Piauí (122%), Pernambuco (80%), Maranhão (79%), Acre (71%) Rio de Janeiro (55%) e Bahia (50%). Segundo o levantamento, apenas três unidades federativas não viram crescimento neste período: Amapá, Mato Grosso e Rondônia.
Os dados são do Colégio Notarial do Brasil, que representa os tabeliães de notas que atuam em cartórios pelo país. De acordo com o levantamento, o mês de junho foi o que mais registrou divórcios neste ano.