Suzana Alves

Após o exilio na mídia, a volta como uma nova mulher

Se você ainda acredita que a mulher é o sexo frágil, deveria passar uma manhã na agradável e intensa companhia de Suzana Alves, nossa personagem de capa, e assim desconstruir esse mito do mundo atual. Suzana começou tudo na sua vida muito cedo, precocemente. Iniciou o ballet clássico aos 3 anos. Fez seus primeiros testes para a TV e para o teatro aos 13 anos. E foi nos palcos de um programa de TV, que detonou uma bomba atômica de efeitos e proporções gigantescas para ela, para o seu íntimo, para sua carreira e família e para o seu futuro. Estamos falando da personagem Tiazinha, uma menina doce e ingênua que, combinando com os trajes eróticos que pedia o personagem, um olhar ultra sexy e um corpo moreno, natural e perfeito, revolucionou o conceito dos programas de auditório na telinha e se tornou uma das maiores sex symbols do Brasil no fim da década de 1990. Após a tempestade, e parece que ela não foi tão breve assim, veio a calmaria. Suzana se afastou dos palcos e dos holofotes e mergulhou dentro de si para poder se encontrar, entender-se como ser humano e como brilhante atriz que, de fato, é e sempre foi. Casou-se com o tenista Flávio Saretta, com que tem um filho de 6 meses chamado Benjamin, a quem credita grande parte desse recomeço, e define o amor por sua cria como algo inigualável, avassalador e verdadeiro. Em tempos de empoderamento feminino como uma das pautas mais atuais e importantes do século 21, e como ficou claro com a presença maciça de mais de 3 milhões de pessoas na Marcha das Mulheres ocorrida no fim de janeiro na capital americana Washington, além de outras cidades pelo mundo, definitivamente o papel da mulher na sociedade está em franca transformação. Como escreveu a intelectual, filósofa, feminista e ativista Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, assim, então, Suzana faz jus à frase da escritora francesa, e se torna, a cada segundo, mais mulher do que nunca.

Revista Circuito – A Suzana Alves está numa nova fase da vida, totalmente repaginada e revigorada, voltando aos holofotes e à mídia?

Suzana Alves – Eu precisei desse tempo reclusa. Foram alguns anos para eu me fortalecer como ser humano e me descobrir como pessoa e mulher.  Fiquei famosa muito cedo, quando ainda era adolescente.  No entanto, nessa idade você ainda não sabe o que quer ser, realmente, na vida. Então tive de mudar de lugar por um tempo, sair dos holofotes para poder me encontrar, me enxergar. E isso foi algo muito pessoal,  era uma necessidade minha.  Foi um período sabático, no qual tive de me renegar para me encontrar. Como eu poderia viver sendo uma personagem (a Tiazinha) para o resto da vida? Aquilo ia me enlouquecer, concorda?  Ou então eu ia morrer, me suicidar, me afundar nas drogas.  Quanto mais distante você está de você mesmo, mais louco fica. Então eu pensava só nisso, preciso me encontrar, me conhecer, viajar, estudar, quero e preciso ter minha vida. Então muitas pessoas me cobram e veem esse período de forma negativa, confudem as coisas, achando que eu quero apagar meu passado, e não é nada disso. Eu só precisava fechar um ciclo na minha vida e consegui. Hoje me sinto vitoriosa, livre e à vontade para voltar ao mercado, para a mídia. Sinto-me pronta para responder às perguntas, para voltar à TV e fechar um contrato, que é meu maior foco no momento, além de tocar meu estúdio de Pilates, continuar fazendo teatro e cinema e conciliando minha vida como mãe. Trabalhar e viver normalmente, sem ser escrava da TV e da Mídia, não quero perder tudo o que conquistei.

Sua família é do sertão da Paraíba, um dos lugares mais pobres do Brasil. Como foi a chegada da sua família para a grande metrópole São Paulo. Quais foram as impressões e desafios desta mudança?

Meus pais se casaram muito cedo, com pouco mais de 17 anos e, logo que tiveram meu irmão mais velho, mudaram-se para São Paulo, como muitas famílias do Nordeste que vêm tentar a vida na cidade grande. Nasci depois de dois anos, em 3 de agosto de 1978. Minha infância foi maravilhosa, brincávamos muito na rua, com toda aquela simplicidade e liberdade gostosa, podendo ficar até tarde da noite conversando com a família e os amigos sentados na calçada. Uma vida simples e muito feliz. Tinha aquela mágica de ganhar presentes, mas ter de esperar as datas certas como Natal, aniversário e Dia das Crianças. Nunca nos faltou nada. Meu pai trabalhava em dois períodos, fazia hora extra o tempo todo para dar tudo o de melhor para a gente. E são esses valores que eu, hoje, quero passar também para o meu filho. (Suzana foi mãe, pela primeira vez, do menino Benjamin, que está com 6 meses). Minha adolescência foi atípica, pois sempre trabalhei e, desde muito nova, ganhava meu próprio dinheiro, ajudando nas contas da casa. Já tinha contrato com o SBT e viajava para fazer meus primeiros comerciais para a TV. Atingi a minha independência muito rápido e, nessa sequência, estourei com o personagem Tiazinha, com apenas 18 anos. Sinto, às vezes, que minha adolescência foi roubada, e tive de resgatá-la para me resolver e descobrir minha verdadeira identidade, abandonando aquela personagem para seguir em frente com minha carreira de atriz.

Você tem formação em Jornalismo. Foi uma forma de se reinventar? Como vê o papel da comunicação nesse turbilhão de informações, notícias falsas, redes sociais e toda essa imensidão chamada internet?

Infelizmente, as notícias estão cada vez mais banalizadas. O jornalismo sério, mesmo, como era feito antigamente, perdeu espaço. Hoje você não precisa ser formado em Jornalismo para exercer a profissão de jornalista. A faculdade servia para aprimorar o dom da comunicação e para os estudantes aprenderem as técnicas de escrita. Acho um grande desafio, nos dias atuais, viver do jornalismo. Quando comecei a faculdade, mal existia a internet e os computadores eram muito fraquinhos ainda, restrito às pessoas de maior poder aquisitivo. Não existia esse acesso farto e rápido às informações como temos hoje, como o Google e as redes sociais, por exemplo. Acho que a grande diferença é que líamos (livros) muito mais do que hoje, eu li e ainda leio e guardo muitos bons livros daquela época de faculdade. Optei pelo Jornalismo (e não Rádio e TV, que era algo em que eu já estava inserida por conta dos meus trabalhos) porque queria algo que me desconstruísse, me abrisse um outro canal. E foi ótimo, pois me redirecionou para outras áreas, como a Moda, Política, Jornalismo Investigativo, além de ter acrescentado muito para a minha vida pessoal, como melhorou muito minha gramática da língua portuguesa, pois eu falava muitas palavras erradas na minha infância, e aquilo me incomodava. Como atriz, ainda, o Jornalismo agregou um repertório muito grande de conhecimento, pois sou muito estudiosa para criar meus personagens, montar e decorar meus textos. Adoro escrever, e pensei em fazer Letras também, e, se eu ainda tiver tempo e energia, vou fazer (aliás, energia eu tenho muita, o que falta é o tempo mesmo… risos). Na verdade, o Jornalismo abriu meu olhar para o mundo e para áreas desconhecidas que vivemos. Mas como eu tinha um desejo muito grande de ser atriz e de fazer sucesso na TV, e eu sentia que isso iria acontecer comigo, eu pensava em alguma área do Jornalismo ligada à TV mesmo, como a mulher da previsão do tempo ou apresentar um jornal talvez. Eu realmente tinha essa vontade e achava que isso combinava comigo, mas aí eu fui me encontrando e definindo que meu desejo, mesmo, era ser atriz. É sempre um momento difícil e confuso para o jovem essa etapa das tomadas de decisão sobre qual carreira seguir.

Aproveitando o tema internet e redes sociais, hoje em dia se fala muito sobre nudes e até vazamento de fotos íntimas de pessoas famosas. Você posou nua em 1999, incrivelmente, isso já faz 18 anos. Como foi aquela experiência e toda aquela repercussão? Como vê aquelas fotos hoje em dia? No geral, você acha que mais te ajudou ou atrapalhou, pensando na sua vida e carreira em longo prazo? Faria de novo?

Não faria de novo, não. Tem muito essa coisa da invasão de privacidade com esse boom da internet. Se as fotos ficassem apenas na revista impressa, acredito que teria um tom mais artístico. Tive dificuldade para fazer o nu, pensei e resisti muito antes de fazer. Mas, naquele momento, as pessoas com quem eu trabalhava me convenceram de que aquilo fazia parte do contexto em que eu estava inserida, e então eu aceitei. Contudo não me arrependo de ter feito, pois junto daquele trabalho veio um crescimento pessoal. Precisamos ser apenas racionais e entender nossas decisões, e está resolvido o problema. Ainda bem que foi no começo da internet e que eu não massifiquei aquela ideia de posar para outras revistas masculinas. Que bom que fui sensata e fiz aquele trabalho enquanto estava vivendo aquela personagem e que tinha aquele apelo, foi um momento propício e contextual que a personagem pedia. Ponto. Na verdade, o meu sucesso com a personagem Tiazinha veio antes de posar nua. Então não acho que a revista tenha me ajudado, a não ser pela questão financeira. Mas, hoje em dia, não sei se aquela quantia tem um real significado de valor, entende? Não foi e nem é o dinheiro que me move, eu sempre fui uma artista. Posso ter sido ingênua e acreditado em muita gente que não merecia minha confiança, mas sempre soube o que queria para a minha vida e para a minha carreira.

Você vem, nos últimos anos, dedicando-se ao teatro e a cursos de interpretação, além de ter feito filmes e participado de novelas e séries. Isso é o que realmente você ama fazer? Como você pensa, cria, estuda e compõe seus personagens?

Tem coisas na vida que temos de perceber desde criança. Quando falo sobre isso, eu volto a ser criança, pois eu amo teatro. Amo compor personagens e amo o fazer de conta. Isso, para mim, é vital. Posso ser empresária, jornalista, professora de pilates, mas nunca parar de interpretar. Enquanto Deus me der força e saúde, seguirei firme, pois adoro isso. Para mim, é uma grande brincadeira de criança sentar, ler e estudar os textos e criar o personagem. Acho até que foi por isso que eu criei a Tiazinha tão bem. Hoje, olhando para trás, como eu já fazia teatro desde os 13 anos (quando passei no meu primeiro teste), já estava inserida naquele contexto. Eu não curti muito a minha adolescência, pois eu já trabalhava e estava em cartaz aos 15 anos. Então, quando a Tiazinha apareceu, eu já tinha toda uma cabeça de composição teatral. Eu montei o figurino da personagem Tiazinha, a máscara, o chicote, a música de entrada dela no palco.

De onde vem sua inspiração?

O que me inspira é a vida. Do personagem mais fútil ao mais maligno, um vilão, por exemplo, eu preciso construir a verdade daquele personagem. Então eu penso num passado, numa história, estudo, leio, vejo vídeos de referências. Me formei com o Antunes Filho, que considero o maior diretor do mundo. Escolhi estar lá e ele me escolheu também, pois são muitos e muitos testes para você chegar lá, numa seleção com mais de 2 mil pessoas, e então aprendi com o mestre, que eu sabia que iria me desconstruir durante um momento de depressão, tentando me reencontrar, e eu queria e precisava ir além, para poder, de fato, fazer grandes personagens. É difícil, para mim, definir em palavras, mas o que me move e me inspira, realmente, é a vida. Adoro estar junto, conhecer novas pessoas. Ouvir histórias, esse é meu combustível intelectual e até espiritual. A minha grande escola é a vida, a minha e a das pessoas que cruzam nosso caminho. Saia na rua, vá conhecer pessoas, vá viajar, é a maior forma de crescimento como ser humano, o jeito que andam, o que falam, enfim, a beleza, a pureza e a simplicidade do ser humano.

Você é casada com o tenista Flavio Saretta, campeão dos Jogos Pan-Americanos do Rio 2007. É, também, praticante e professora de Pilates. Qual é a importância do esporte e das atividades físicas na sua vida e na sua carreira?

Importância total. A dança, o esporte, o transpirar é uma necessidade vital. São hábitos que cultivei no decorrer da vida. Algumas vezes, quando preciso estudar para uma peça ou pela logística agitada da vida, passo alguns dias sem treinar, mas sempre mantenho uma corrida ou caminhada pelas ruas do bairro. Sou muito serelepe e ansiosa, preciso gastar um pouco de energia. Alguns colegas de trabalho até me chamam de Pimentinha (risos). A atividade física serve, também, para me acalmar.

Como é, para você, morar na Granja Viana? Hoje em dia, tornou-se um desafio para quem mantém parte dos compromissos em São Paulo, por conta da nossa congestionada Raposo Tavares e seus horários de pico caóticos. O que te trouxe e o que te mantém no bairro?

Tenho um Studio de Pilates que fica perto do Estádio do Morumbi, ou seja, antes da ponte, então consigo fazer horários alternativos e não pego os horários de pico da Raposo. Essa flexibilidade na minha rotina permite que eu me desloque com mais facilidade, então não existe melhor lugar para morar que a Granja. Quem me trouxe para a Granja foi minha melhor amiga, que mora no bairro há mais de 15 anos. Nesse período, passava os fins de semana com ela e sempre dizia: “Ah, quando eu casar vou vir morar aqui.” Quando conheci o Flavio, brinquei:  “Se quiser casar comigo, temos de morar na Granja”. E ele concordou, pois já conhecia o bairro pois frequentava o Tennis Hill para jogar as competições de tênis. Foi uma coincidência muito bacana também. Agora o que, de fato, me mantém aqui é a qualidade de vida que temos e que posso proporcionar para o meu filho. Um lugar onde você pode brincar na rua, andar de skate, jogar bola, todo esse contato com a natureza, poder ver tucanos no jardim, macaquinhos, inúmeras espécies de pássaros.

Como tem sido a experiência de ser mãe pela primeira vez?

Bom, eu defino minha vida a partir do nascimento do meu filho. Com ele nasceu uma nova mulher, imponderável, forte. A vida ficou diferente, as cores mudaram e as coisas pequenas e sem importância perderam seu espaço. A maternidade é algo tão maravilhoso que é difícil definir. Todo esse meu novo momento profissional, de voltar a atuar e interpretar, de voltar à mídia, tem tudo a ver com o nascimento do Benjamim. A palavra certa, mesmo, é plenitude.

O empoderamento feminino chegou para ficar ou as mulheres sempre foram o gênero forte, mas somente agora estão tomando alguns lugares importantes antes ocupados pelos homens?

Eu sempre fui uma mulher workaholic, que correu atrás dos sonhos, apenas não havia um rótulo para isso. Eu faço inverterem-se a meu favor as coisas difíceis que a vida me coloca. Aprendi isso com a vida. Na verdade, toda mulher já nasce com esse poder, agora ela se permite ou não ser empoderada ou submissa. Com o movimento mundial de hoje, de expansão, globalização, modernidade, não teria como ser diferente, e a mulher não se destacar. A mulher é muito rica em tudo, muito especial. Ela gera a vida, e já poderíamos encerrar aqui esse assunto. Mas, quando ela descobre seu real poder, vai muito além e domina mesmo. E isso não deveria ser ruim. Mas tem muita gente que se incomoda com isso, que é o machismo.

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