Uma reflexão sobre Impunidade

Marcos Sá comenta o real absurdo do “curso“ de golpistas

Rio de janeiro, 2024. Alguns cidadãos se intitulam “professores” e divulgam um curso presencial. A chamada do anuncio e o objetivo do curso era ensinar “Como aplicar golpes pela internet”. Sucesso de vendas. Em poucos dias todas as vagas estavam ocupadas. O local era numa sala de um hotel razoavelmente conhecido no Rio. Obvio que as aparências foram disfarçadas e o evento camuflado ocorreu normalmente, assim como ocorrem centenas de reuniões, palestras e cursos na cidade maravilhosa.

Uma semana de aulas presencias com os mestres do golpismo digital. Sala lotada! Veio gente de todo Brasil e nos últimos três dias do curso os alunos iriam praticar com orientação dos mestres, golpes nos incautos. A grana obtida com os golpes seria distribuída entre todos participantes. Os alunos aprenderam bem as lições, e a experiência na pratica rendeu R$3 milhões que foram depositados em contas de “laranjas” designados pelos “professores”. Dado os golpes e recolhido o butim, os “mestres” deram um golpe de mestre nos alunos golpistas! Fugiram com a grana.

A maioria dos alunos se rendeu ao golpe do golpe e deixou pra lá. Mas, e sempre tem um mas, três alunas que vieram da Bahia, não se conformaram e foram atrás dos “educadores” golpistas. Subiram a favela e contrataram uns capangas que conseguiram localizar os “professores” dos golpistas que deram golpe nos aprendizes de golpistas. Gentilmente, todos foram levados a uma residência num condomínio bacana na zona sul para o acerto de contas, mas não deu acordo e o pau comeu solto.

A gritaria chamou a atenção da vizinhança que assustada chamou a policia, e aí o caldo entornou de vez. Porradaria geral e a jiripoca cantou pra valer! Todos foram levados para a delegacia e algumas horas depois de muita discussão e nada esclarecido, como é de praxe no Brasil, todos foram soltos. Esse episódio é verdadeiro e ilustra o grau de impunidade ao qual estamos submetidos.

Do roubo de celular para o bandido tomar uma cervejinha, defendido pela mais alta autoridade do país, a proibição da policia de subir os morros no Rio de Janeiro pelo nosso mais alto tribunal a implicância da mídia com os policiais e a benevolência com os criminosos, passando pelas facilidades com que traficantes são postos em liberdade, vidas vão sendo ceifadas e nada acontece.

Sempre a vitima é a ultima a ser acolhida e o foco das criticas é a maneira como a polícia prende. O crime esta cada vez mais próximo da população, a ousadia das gangs, turbinada com a certeza da impunidade pela bandidagem e as tentativas gerais de enfraquecer nossas policias, criam um caldo perfeito para ação das quadrilhas.

Pagamos altos impostos não recebemos a contra partida dos governos e temos que pagar segurança dobrada para um mínimo de proteção. Nossa Granja Viana outrora tranquila hoje vive assustada com os assaltos. São inúmeros e cada vez mais violentos. Nossa Guarda Municipal tem que ser reforçada, os convênios com a Policia militar tem que dar resultados e a justiça tem que funcionar. Por aqui não temos uma política nacional de combate ao crime organizado. O crime é organizado e o governo desorganizado.

A média mundial é de 5,8 homicídios por 100k habitantes. Somos campeões mundiais, temos 22,8 homicídios por 100k habitantes. Nem os países em situação de guerra têm esses números. São Paulo tem o melhor índice do país 5,11 e a Bahia o pior 45,1. Mas vamos nos acostumando a barbárie e a conviver com mais esse absurdo. Uma tragédia a qual a sociedade tem que exigir providencias. Façamos a nossa parte.

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Por Marcos Sá, consultor de mídia impressa, com especialização em jornais, na Universidade de Stanford, Califórnia, EUA. Atualmente é diretor de Novos Negócios do Grupo RAC de Campinas

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