Califórnia foi o primeiro Estado dos Estados Unidos da América a emitir uma ordem de confinamento para seus 40 milhões de habitantes, ainda no início de março. “Tudo fechado com exceção dos serviços indispensáveis como mercados, farmácias, pet shop entre outros, mesmo assim, com regras para frequentar estes locais. Redes de lojas como The Home Depot, semelhantes a Leroy Merlin, estão abertas, mas com uma série de restrições, como manter distanciamento, uso obrigatório de máscaras, limite de pessoas dentro dos estabelecimentos e blindagem dos funcionários dos caixas. Alguns locais oferecem álcool gel para higienização e até luvas descartáveis”, comenta Aristides Pinheiro Rodrigues, mais conhecido como Tide Pinheiro, que em setembro mudou-se de Cotia para Martinez, Condado de Contra Costa, California.
Martinez e cidades vizinhas fazem parte da San Francisco Bay Área. “O que mais eu gosto por aqui é o respeito pelas questões ambientais, como bom ambientalista que sou. (risos) Na Califórnia, as cidades são bem arborizadas, corpos hídricos preservados e grande número de parques naturais. Existem incentivos por parte do governo para você, por exemplo, instalar painéis solares em sua residência. É normal se deparar com painéis em coberturas de estacionamentos, residências etc. Outra forma de geração de energia muito utilizada são as usinas eólicas, sendo bem comum você se deparar com torres de geração”, descreve.
Ele informa que o custo de vida por lá é alto, principalmente os aluguéis. “Mas a vantagem é que se tem trabalho, o que acaba atraindo muitas pessoas para este estado. Aqui tudo funciona de verdade, principalmente as leis, o que nos dá uma certa tranquilidade, principalmente com relação a segurança”, completa.
Com relação às medidas de combate à covid-19, Tide acredita que a ação do governo local foi rápida. “Isso veio a evitar uma situação como a que pudemos presenciar em Nova York, onde a adoção de medidas de isolamento demorou um pouco mais”, explica. De fato, a cidade de Nova Iorque tem mais que o dobro de casos do Estado todo da Califórnia, que até este domingo (31/05) registrava 90.631 casos e 3.708 mortes. “Não tivemos muitos problemas por aqui, pois a população além da questão da consciência, sabe que as regras devem ser cumpridas, diferente do que tem acontecido aí no Brasil”, completa.
O isolamento permanece e, em junho, o governo começa a liberar algumas áreas como comércios, construções e outros setores, porém com o uso de máscaras e distanciamento sendo obrigatório. “Ficamos, até agora, 80 dias em isolamento, e nesse período o governo tem feito muitos testes. Fazemos o agendamento pela internet e nos deslocamos até o local e horário determinado”, relata. O teste de Tide foi realizado no dia 6 de maio e, dois dias depois, ele recebeu o resultado pelo celular mesmo: negativo.
A política de testar em massa a população é uma das mais eficazes estratégias para conter a propagação do vírus. Países como a Coreia do Sul, que agiram cedo tanto no isolamento e confinamento da população quanto nos exames, conseguiram frear a doença.
Nesse período de distanciamento, Tide ficou sem trabalhar e está se mantendo através de economias. “A construção civil está parada, mas tenho realizado trabalhos free, o que acaba ajudando no orçamento. Também tenho aproveitado para fazer alguns cursos on-line na minha área de atuação para ocupar a mente e agregar conhecimento”, revela.
Já os cidadãos americanos têm recebido ajuda financeira do governo, de US$ 1200 por quinzena. “O governo também liberou financiamentos para empresas com juros baixíssimos e longos prazos para pagamento. Se você tiver uma empresa aberta, não importa o porte da mesma, você consegue empréstimos a partir de US$ 20 mil”,. A dificuldade maior mesmo, de acordo com ele, é para o imigrante ilegal. Mas nestes casos, tem muitas ONG’s que “fazem distribuição de alimentos para essas pessoas”.
O brasileiro diz que se preocupa muito com familiares e amigos aqui no Brasil, tanto pela questão da Covid-19 quanto pela questão política. “O país não vive um bom momento e as incertezas me parecem ser a única coisa certa por aí. O governo não consegue se articular para combater a pandemia e isso será péssimo para todos. Esperamos que o bom senso fale mais alto e que este consiga adotar medidas concretas para garantir uma retomada da economia, após esse período conturbado”, afirma.
Tide não consegue ainda traçar como será o futuro. “Ainda é incerto, pois não sabemos como será o período pós pandemia, mas a expectativa é que tudo passe e que possamos voltar a vida normal”, aposta.
Por Juliana Martins Machado