Com a pandemia da Covid-19, a recomendação é que as pessoas fiquem em casa, evitando o contágio pelo novo coronavírus. Mediante a essa questão, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou a telemedicina, que está sendo uma ferramenta eficaz diante do isolamento social. Por meio da consulta online é possível diagnosticar os primeiros sintomas de determinadas doenças e solucionar casos que não tenham tanta complexidade. Dessa forma, se evita ir a hospital.
Na prática, funciona assim: médico e paciente fazem a consulta por meio de vídeo. Processo rápido e prático. Mas para sua eficácia, é preciso, sobretudo, da ajuda do paciente. “Ele precisa descrever tudo o que sente em detalhes para que o médico, que não tem como realizar o exame físico, consiga ter um diagnóstico mais preciso”, explica a oftalmologista Dra Katya Gurtovenco, responsável pela Clínica MedViana.
A clínica foi uma das primeiras da região a oferecer o suporte remoto. “Por ser um assunto que já estávamos estudando há muito tempo, assim que foi liberado já iniciamos a nova plataforma na clínica, através do nosso sistema on-line para que os médicos consigam atender com acesso ao prontuário do paciente. Além de ajudar nossos pacientes, fez com que médicos que são grupo de risco também possam continuar atendendo”, completa a médica.
Outra clínica, também na Granja Viana, que passou a adotar a telemedicina foi a Doutores da Granja. “Algumas especialidades, mais do que outras, puderam transferir mais facilmente parte de seus atendimentos para a modalidade remota. Em nosso consultório, estamos utilizando teleorientação tanto para segmento de pacientes com outras doenças quanto daqueles que têm dúvidas sobre se estão ou não com o novo coronavirus”, comenta o Dr. João Paulo Lian Branco Martins. Para ele, independente da modalidade de atenção — presencial ou remota —, a preocupação deve ser, acima de tudo, garantir conforto, segurança e acurácia aos pacientes.
Ele, que é psiquiatra, já vinha utilizando a telemedicina “sem muita dificuldade”, como faz questão de frisar, principalmente com pacientes que já foram atendidos presencialmente. “Consegui alterar meus atendimentos presenciais de psicanálise para remotos sem muita dificuldade. Os analisandos aceitaram muito bem. Quase todos os elementos que eu avalio no exame psíquico podem ser avaliados à distância”, explica. Mas, claro, como toda mudança, a chegada da telemedicina assustou um pouco. “Sabemos que telesaúde envolve diferentes tipos de atendimento por via remota e que, mesmo sendo um assunto em voga nos últimos anos, todos os profissionais de saúde foram pegos de surpresa pela rapidez com que a epidemia fez surgir novas demandas. Várias startups dedicadas à telesaúde intensificaram a oferta de ferramentas de comunicação que permitam uma boa avaliação do paciente enquanto respeitam o sigilo dos dados coletados. Nosso grupo tem avaliado as muitas alternativas”, completa o médico.
Tênue questão
Mediados por uma máquina, como fica a relação médico paciente neste caso? Esta, realmente, é uma questão delicada. “Os pontos positivos da telemedicina são a facilidade do paciente ser atendido a qualquer momento e em qualquer lugar sem precisar se locomover, o atendimento é mais rápido e o paciente não se expõe. Por outro lado, os pontos negativos são a falta do exame físico, que tem grande importância, e a falta do contato físico que torna o atendimento mais humanizado. Nós temos um relacionamento maravilhoso com nossos pacientes e nossos médicos tentam seguir isso no atendimento à distância, mas o atendimento por vídeo não é tão humano quanto o presencial, principalmente quando o paciente ainda não conhece o médico”, pontua Dra. Katya.
É o futuro?
Se a telemedicina veio para ficar, ainda não se sabe. “A necessidade de isolamento pressiona a sociedade para novas modalidades de interação, e a medicina não fugiu à regra. Estamos atentos para o fato de que, mesmo após a fase mais preocupante da pandemia, uma ampla categoria de serviços de saúde tenderá a deixar o ambiente hospitalar ou ambulatorial para se transferir para o atendimento domiciliar. Isto certamente iniciará, se já não iniciou, um forte investimento em tecnologia e equipamento para capacitar tais serviços”, aposta o psiquiatra.
Por enquanto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) propõe que a telemedicina esteja em vigor enquanto durar a situação de emergência vivida pela pandemia de Covid-19 no país. Para a modalidade, o conselho estabelece alguns formatos autorizados, sendo eles: orientação médica, monitoramento de pacientes em tratamento e conferências entre médicos para troca de informações, opiniões ou avaliações clínicas.
“O principal papel da telemedicina é escalar a medicina, levando o atendimento à todos. Pessoas isoladas, com dificuldades de locomoção, baixa imunidade, baixa renda… Se o CFM mantiver a liberação desse tipo de atendimento, pretendemos continuar para quem assim desejar, pois entendemos que complementa o atendimento ao paciente. Mas claro, temos que ter o cuidado para saber quais os atendimentos e retornos que podem ser feitos pela telemedicina e quais casos tem que ser presencial. É um assunto a ser muito discutido, mas que no final quem irá decidir será o paciente”, finaliza a oftalmologista.
Por Juliana Martins Machado