Abril Azul: vamos falar sobre o autismo?

Quer entender melhor sobre o transtorno, os objetivos do Abril Azul e a importância de dar destaque ao tema? Acompanhe na entrevista que fizemos com uma especialista sobre o assunto. E veja também: Cotia supera a marca de 100 Carteiras de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA’s) solicitadas e emitidas

O autismo é um transtorno de desenvolvimento que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), atinge 1 em cada 160 crianças no mundo. No Brasil, estima-se que existam cerca de 2 milhões de autistas. Para dar visibilidade ao tema, a Organização das Nações Unidas (ONU) escolheu o dia 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo e, para que as ações ocorram no mês todo, foi criada a campanha Abril Azul. “É fundamental discutir sobre o tema e mostrar para as famílias a importância do diagnóstico precoce e do tratamento correto”, ressalta psicóloga e pedagoga Solange R. Aroeira.

Ela percebeu, ainda bebê, que o neto tinha traços de autismo e passou, desde então, a se dedicar a estudar sobre o tema. Para Solange, a vida lhe trouxe o Enzo, “um ser humano rico de infinitas possibilidades” como define. Quando questionada o que aprendeu com isso, ela é categórica em responder: “autismo não é doença e sim um funcionamento neurológico atípico”.

Para ela, é importante ter em mente que não existe uma única causa ou um defeito em alguns genes, mas uma combinação entre todos. “Não existe exames que comprovem o Autismo. Portanto, não se trata de doença. Existem uma enorme gama de variáveis que pode ocorrer geneticamente e no ambiente, e assim nascer uma criança Autista. Pais saudáveis sem vícios, assim como pais que possuem um modo de vida não saudável e com grandes vícios (cigarros, drogas lícitas e não lícitas, álcool) podem ter filhos autistas. O autismo depende do limiar de cada indivíduo”, explica. O x da questão é que “os médicos pediatras, com raríssimas exceções, alertam os pais da probabilidade de seu filho estar no espectro autístico”.

Para esta moradora da região, é essencial descobrir o autismo o mais cedo possível! “Dessa forma, é possível reduzir os sintomas, diminuir os atrasos de desenvolvimento e corrigir os desvios de linguagem e de comportamento.  Nesse período, o cérebro está mais permeável e aberto para ser modificado”, afirma.

É possível conviver com o transtorno e superar os desafios do Autismo durante a vida. “O tratamento é multidisciplinar e as terapias são muito importantes para que, ao longo dos anos, a sociabilização e a comunicação aconteçam da melhor forma possível”, completa.

Quer entender melhor sobre o transtorno, os objetivos do Abril Azul e a importância de dar destaque ao tema? Acompanhe na entrevista que fizemos com a especialista. Afinal, quanto mais informações sobre a condição as pessoas tiverem, menor será o preconceito e mais fácil sua identificação.

O que é Transtorno do Espectro Autista?
É uma condição no neurodesenvolvimento que causa impacto na habilidade social, na fala e na linguagem, na comunicação verbal e não verbal, e no aspecto comportamental.

Qual a causa?
Não existe uma única causa ou um defeito em uns genes. Ou seja, “pode” ser a combinação entre todos. Não existe exames que comprovem o Autismo. Portanto, não se trata de doença. Existe uma enorme gama de variáveis que pode ocorrer geneticamente e no ambiente, e assim nascer uma criança autista. Pais saudáveis sem vícios, assim como pais que possuem um modo de vida não saudável e com grandes vícios (cigarros, drogas lícitas e não lícitas, álcool, etc) podem ter filhos autistas. Genética + hereditariedade + ambiente = autismo depende do limiar de cada indivíduo.

Quais são os comportamentos mais comuns observados em pessoas com transtorno do espectro do autismo?
No visual, atração por fontes de luz. Eles encaram objetos que rodam, pouco reconhecem expressões faciais, evitam o olhar e chegam a recusar alimentos devido à sua cor. Na questão auditiva, podemos falar em surdez aparente. A criança não atende quando chamada verbalmente, tem intolerância a alguns sons, diferente em cada caso, e pode emitir sons repetitivos. E no olfativo, geralmente,  cheiram coisas não comestíveis, recusam certos alimentos devido a seu odor, tem paladar e sensibilidade bucal, costumam fazer exploração bucal de objetos e tem seletividade alimentar devido à recusa de certas texturas. Podemos falar em comportamento somatossensorial: alta tolerância à dor, aparente falta de sensibilidade ao calor ou frio, auto agressividade, não gosta de contato físico, inclusive certos itens de vestuário e atração por superfícies ásperas. E por fim, pessoas com transtorno do espectro do autismo apresentam movimento iterativo de balanço, equilíbrio inadequado, chega até a ser desajeitado. Mas cada um tem o seu tipo de comportamento, não é possível generalizar.

Autismo tem cura?
O autismo não tem cura, pois se trata de disfunções no funcionamento neurológico. O tratamento deve envolver uma equipe multidisciplinar e tem como objetivo melhorar a qualidade de vida através do controle dos sintomas comportamentais e condicionamento do indivíduo à vida social respeitando suas limitações.

Pode não ter cura. Mas tem tratamento, correto?
Sim. Tradicionalmente as linhas de tratamento adotadas são: farmacológico, onde o uso de medicamentos feito com a prescrição do médico psiquiatra, neurologista e pediatra atua sobre os sintomas, a intervenção psicóloga comportamental, terapia ocupacional, psicopedagogia, fonoaudiologia entre outros profissionais que atuem em terapia fundamentada em associação, rotina e aprendizado. Os tratamentos são explorados para exigir personalização no nível individual devido à variabilidade na mutação genética entre indivíduos, ou seja, não existem dois indivíduos iguais.

Vamos falar dos símbolos do autismo. Por que a cor azul, o quebra-cabeça e a fita de conscientização?
O azul representa a maior incidência de casos no sexo masculino (proporção de 4:1), fato que a ciência ainda não consegue explicar. Já a peça de quebra cabeça mostra a complexidade do autismo e seus diferentes espectros que se encaixam formando o TEA. Esta imagem foi usada pela primeira vez em 1963 e popularizada pela Autism Speaks. É usada para simbolizar a ideia de que pessoas autistas são difíceis de compreender (como um quebra-cabeça) e que a “cura” para o autismo é a peça que falta. Mas o logotipo da neurodiversidade, um sinal do infinito do arco-íris, foi colocado como uma alternativa para a peça do quebra-cabeça. Por fim, a fita de conscientização é utilizada também por outras causas, mas em cores diferentes. A fita do quebra-cabeça foi adotada em 1999 como o sinal universal da consciência do autismo. Além de trazer o quebra cabeça, suas peças são em cores diferentes para representar a diversidade de pessoas e famílias que convivem com o transtorno. As cores fortes representam a esperança em relação aos tratamentos e à conscientização da sociedade em geral. É usada para identificar locais onde pessoas com TEA são bem-vindas.

Por fim, o que aprendeu com o autismo?
Muitas coisas. Autismo não é doença e sim um funcionamento neurológico atípico. O DSM – Diagnóstico de Doenças Psiquiátricas está se adequando ao novo olhar sobre o Autismo. Por exemplo, até a CID 10, o transtorno se enquadrava dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD – código F84). A partir de agora, o autismo está dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA – código 6A02). Leve, moderado ou severo. Com ou sem comorbidades. Com ou sem oralidades. Outra coisa que aprendi, e talvez a mais importante, é que o autismo pode evoluir ou regredir de acordo com o tratamento, terapêutico e medicamentoso. Tudo depende do estímulo adequado e individual. E não se engane: a pessoa Autista compreende tudo (não use de gestos ou palavras indevidas perto deles). Para eles, os olhos do outro é algo aterrorizante. Por isso, só fixam o olhar nos olhos de quem transmite segurança. No geral, possuem pouca capacidade de criar situações lúdica. Veem o mundo de modo funcional. São verdadeiros. São bons de regras, no entanto não seguem regras sociais manipuladas. No que eles sabem fazer, será excelente. Por esse motivo, alguns desenvolvem TOC, transtorno obsessivo compulsivo. Enfim, a vida me trouxe o Enzo, um ser humano rico de infinitas possibilidades.

Cotia supera a marca de 100 carteirinhas (CIPTEA) emitidas
Cotia – a primeira cidade da região a instituir a Carteira de Identificação do Autista, em setembro de 2019 – celebrou o Dia Mundial de Conscientização do Autismo com mais de 100 Carteiras de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA’s) solicitadas e emitidas, e a entrega de um cordão quebra cabeça para todos os cadastrados.
“A administração pública de Cotia sempre teve um olhar de carinho, atenção e respeito para este público. Profissionais da saúde que atendem pacientes TEA foram capacitados, o prefeito Rogério Franco trouxe as melhores referências no assunto para capacitar os colaboradores. A carteirinha do autista foi uma grande conquista que se somou a todo o cuidado que a Prefeitura tem com o autista e com a sua família”, destacou Mara Franco, secretária de Desenvolvimento Social, pasta responsável pela emissão da CIPTEA que garante atendimento preferencial em setores públicos e privados.
A moradora Camila Tomaz (foto) é mãe de um autista e destaca a importância da carteirinha. “Nem toda deficiência é visível e com a carteirinha em mãos fica mais prático o atendimento prioritário, evitando contestações e necessidade de apresentar laudo médico. O conhecimento referente a prioridade nos atendimentos para autistas vem melhorando, porém ainda encontramos dificuldades, seja por falta de conhecimento sobre o assunto, ou até mesmo por ignorância. Mas como temos a Lei ao nosso lado, ninguém mais sai impune”, disse.
Saiba como solicitar a CIPTEA e quais os documentos necessários pelo CRAS CREAS Online: Whatsapp 11 96300-7500

Por Juliana Martins Machado

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