Enfim, quem é Jair Oliveira?
Jair Oliveira: Puxa vida, esta pergunta é sempre muito complicada. Acredito que o ser humano é sempre um ser em transformação. E comigo não é diferente. Evito, ao máximo, tentar me definir. Mas eu sou tudo isso: pai, filho, marido e amigo. Tem várias coisas que podem me definir.
Léo Maia: Ah, o Jair é uma pessoa maravilhosa e com um conhecimento de música muito grande. Ele se formou em Berklee com honras, com uma das maiores médias da história. Tenho um carinho muito grande por ele, pela irmã, pela mãe, pelo pai… O fato de eu ter vindo morar na Granja… Somos amigos de bairro, nos encontramos na Deôla, no shopping, nas tretas… É isso aí: a família em movimento! Quem me apresentou para a classe musical, me abraçou e disse “este aqui está com a gente” foi a sua família. Então, sou muito grato, pois me abriu muitas portas. Com isso, o meio musical me aceitou aqui de uma maneira mais fácil e tranquila.
Enfim, quem é Léo Maia?
Léo Maia: Amigo de boa parte da Música Popular Brasileira. O bom parceiro de todos. O trabalhador de música. Estou nessa desde os meus 7 anos. Fiz valer pelo próprio talento, não por favoritismo. Entrei pela porta de serviço, que é muito mais legal.
Jair Oliveira: O Léo é um cara divertido e talentoso. Nós temos histórias parecidas e estamos sempre nos encontrando no supermercado, na padaria… ele luta jiu-jítsu junto com uns amigos. Gosto muito dele e temos um projeto em conjunto chamado Os Filhos dos Caras.
Fale-nos um pouco desse projeto.
Léo Maia: Volta e meia, nós participamos de eventos juntos. Aí juntou essa trupe – eu, Jair e Simoninha – para relembrar sucessos dos nossos pais. Foi o maior sucesso. A turnê está começando a se desenhar e ainda a tomar forma, mas a crítica tem tratado o show com apreço e carinho. É um projeto bacana. Mostramos um pouco do nosso repertório próprio e acompanhados por um quinteto, resgatamos nosso DNA interpretando grandes clássicos de nossos pais.
Como é subir ao palco, para vocês, e cantar as músicas dos seus pais?
Jair Oliveira: O repertório do meu pai, o Jair Rodrigues, está aí para manter a sua memória. O artista se coloca eterno por meio do seu trabalho. É uma honra ter esse legado e continuar com isso. Fico feliz quando faço show e canto suas músicas. É leve, não tem peso.
Léo Maia: Para mim, também, é sempre um grande prazer. Aliás, viver de música é algo supremo, divino. Para mim, não tem algo mais gostoso. Eu gosto de ser cantor. É o exercício de minha profissão. É o que faço desde os meus 14 anos de idade, todos os fins de semana.
Léo, alguns costumam compará-lo ao seu pai: o timbre de voz, o estilo… é muita responsabilidade ser comparado com o Tim Maia?
Léo Maia: Tomo sempre com muita humildade e consciência de que meu pai era um gênio, e eu sou apenas um cantor. Um compositor. Um trabalhador de música. Meu pai é um rio e eu sou só um afluente da história dele. Não tenho vergonha de dizer que o que eu faço é um pouco do que consegui aprender com ele. Ele muito me ensinou, mas minha capacidade não era tão grande como meu desejo. Tenho de fazer o que ele me ensinou e seguir o que está na Bíblia: honrar pai e mãe.
Fale sobre o seu relacionamento com o Tim.
Léo Maia: Meu pai era um amigo, um parceiro de rua, de night. Eu era o piloto do meu pai, dirigia o carro dele já com 13 anos de idade. Sei que isso é uma irresponsabilidade, mas era mais responsável eu dirigir do que ele. A gente saía, se divertia, jogava muita bola junto. Fomos muito à praia juntos. Meu pai tinha uma onda muito maneira: quando passava o cara do picolé, ele dizia “o que tiver aqui é nosso; eu pago aqui e você vai dar um mergulho”. Assim, ficávamos eu e meu pai chupando picolé até a cabeça gelar. Era demais. É uma fase que eu guardo com muito carinho.
Como é conviver com sua ausência?
Léo Maia: Ah, meu pai está presente todo santo dia. É só ligar o rádio que ele está tocando, falando comigo. Do pai, eu vou sentir a falta para sempre, como todo bom filho. Tínhamos uma relação de amor verdadeiro, e isso é para sempre. Lembro dele me ensinando a cortar com garfo e faca. Lembro de não conseguir fazer a porcaria da conta de multiplicar e ele me ensinando tabuada. Lembro dele me ensinando a escrever. Lembro dele cozinhando porque a empregada faltou. Meu pai era uma pessoa muito normal, um tijucano da zona norte carioca. Meu pai queria muito que a gente se formasse… A saudade, isso a gente carrega com a gente.
E para você, Jair, como é conviver com a ausência do seu pai?
Jair Oliveira: A única certeza que a gente tem é a morte. Quando meu pai morreu, eu pensei nisso com mais intensidade. É difícil lidar com a morte, mas, ao mesmo tempo, o fato de ele ter vivido a vida com vontade, com alegria… acho que o fato de ele ter morrido de uma hora para outra também foi uma glória para ele. Talvez eu sofresse mais se visse meu pai sofrendo. A presença física dele faz falta, é claro. Mas é tão interessante: quando a pessoa preenche a vida com todas as forças, é óbvio que você sente falta da presença física, mas não sente falta da alegria que ele deixou, porque isso estará sempre presente. É deixar um legado que preencha a vida das outras pessoas de maneira completa. Meu pai preencheu. Às vezes, eu sinto falta de dar um abraço nele, ouvir uma piada. Mas isso é tão menor do que ele já me deixou. Eu internalizei essa coisa legal que ele deixou, e isso está sempre comigo. Meu pai ensinou a lidar com a morte de um jeito natural. Meu pai fez a vida dele valer a pena. E eu tento fazer coisas que façam a minha vida valer a pena. E é este legado que quero deixar para minhas filhas, família, amigos… Isso é uma coisa em que eu penso muito: o que posso deixar? Impossível a gente vir para cá, viver um pouco, morrer e acabar. O significado está na alegria que possa deixar, nas coisas boas que possa espalhar. Como meu pai cumpriu essa missão, não lamento jamais a morte dele. Meu pai viveu o que tinha de viver. Eu celebro a vida dele. E quero muito que as pessoas celebrem a minha vida, e não a morte, quando for minha hora também.
O que seu pai representava para você?
Jair Oliveira: Representava o ser humano em sua plenitude, com os defeitos e qualidades. Representava o ser humano na melhor forma possível: sem máscaras. Ninguém assume seus preconceitos, seus erros… e isso vai deixando a sociedade mais pesada. Meu pai era muito alegre e feliz. Ele representava o melhor do ser humano para mim, mesmo no pior dele. Eu, como pai, fico pensando em deixar isso para minhas filhas também: ser um humano aberto e que saiba lidar bem com seus defeitos.
Já que falou em legado, qual seu pai te deixou?
Jair Oliveira: Alegria, vontade de viver, respeito, humildade… estes foram os maiores legados. Meu pai sempre fez algo muito especial: tratar as pessoas sempre do mesmo jeito. Ele mantinha a humildade, e isso eu admirava muito nele. E pelo fato de admirar isso nele, trouxe isso para mim. É um legado muito importante. Aprendi com meu pai a respeitar, também, a opinião dos outros, desde que ela não prive a liberdade. Isso sem falar no legado musical… ele deixou uma carreira linda. Mais de 50 discos. E ele me deixou essa vontade de ser músico.
E para você, Léo: qual legado Tim te deixou?
Léo Maia: O legado da honestidade, do trabalho, da cabeça erguida, de sonhar e correr atrás do seu sonho, sem ter medo. O legado de ser feliz. O legado de ser filho de um entregador de marmita que virou um dos maiores artistas do Brasil. Como ele sempre dizia: você é capaz e pode fazer tudo o que desejar na sua vida, só que tem que desejar de verdade. Tem que desejar mais que todo mundo. Se for de verdade, você vai conquistar. Foram essas coisas que meu pai me ensinou.
E o que mudou na vida de vocês com a paternidade?
Léo Maia: Ah, tudo. Paternidade deixa você mais calmo, concentrado e mais ligado nas nuances da vida. Passa a observar o que é certo e errado, como forma de exemplo. Você tem de estar preparado para dar o exemplo. Falar é fácil. Dar o exemplo é muito mais difícil. Palavras não são necessárias quando você emprega pela verdade do ato. Então, eu tento viver assim: de uma forma justa e honrada.
Jair Oliveira: Eu aprendi e tenho aprendido muito com a paternidade. Representa uma coisa bem bonita para mim: essa coisa transformadora. Ser pai me transformou e tem me transformado todos os dias. Ser pai é aprender, aprender, aprender, aprender… Você precisa se transformar para ser um modelo para que seus filhos se transformem também. É aprender a lidar com a tristeza, a frustação… é um grande aprendizado.
Vamos falar dos seus filhos, então.
Léo Maia: Tenho dois meninos: Jorge, o mais velho, o galã, tem 13 anos. O Bentinho (Antonio Bento) tem 5. São maravilhosos, dois moleques realmente bacanas. Eles estudam e são bacanas no colégio. Os dois fazem jiu-jítsu, algo que eu considero educacional. Matemática, português, história, geografia e jiu-jítsu. Então, todos deverão ter faixa preta em casa.
E suas filhas, Jair?
Jair Oliveira: A Isabela tem 10 anos e a Laura, 6. São tranquilas e respeitosas. Os filhos são espelho em algum formato dos pais. Reconheço-me nas duas e reconheço a Tania nelas também. Por isso, preocupo-me em dar um bom exemplo. “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” não funciona com a gente. Lá é faça o que eu acredito. Tenho um amor absoluto por elas e aprendo muito com as duas.
Quais são as maiores dificuldades na educação dos filhos?
Jair Oliveira: A maior dificuldade é justamente o fato de viver numa época em que as pessoas estão com a ansiedade no máximo e a paciência no mínimo. Minha maior preocupação é fazer com que minhas filhas tenham bem-estar, respeitando seu próprio organismo e a sociedade em geral. Eu vejo que a geração delas talvez tenha uma inteligência emocional maior que a anterior. Minha geração é preocupada em se dar bem na vida, em fazer acontecer, ser milionário. Sinto e genuinamente torço – e tento educá-las dessa maneira – que isso seja uma consequência, não o mais importante. Tento mostrar que o mais importante é que você tenha uma vida mais digna, que possa se respeitar e ao outro, que todos possam se dar as mãos para ninguém passar por cima do sonho de ninguém. Respeitar o ser humano, o mundo. Senão, daqui a pouco não vai ter mais nada para elas. Busco prepará-las para ter esse tipo de conduta. O modelo da minha geração é perigoso e se degasta. Mostro para minhas filhas um sucesso diferente, em que eu acredito mais. Eu quero ver um mundo melhor.
Léo Maia: Para mim, a maior dificuldade na educação dos meninos é que eles enxergam a vida de outro jeito, e a gente fica em choque e em dilema. Por exemplo, eles não veem importância em decorar a tabuada porque existe a porcaria da calculadora. Mas eu acho que consegui chegar a um entendimento com eles, quando eu estabeleci a ideia de que a calculadora não pode ser mais inteligente. Tudo é mais digital, mais simples, mais fácil. Antigamente, se você quisesse saber de alguma coisa, tinha de pegar um livro e o ler inteiro. Agora, o moleque vai ali no Google e pum… já descobre quem é o cara, de onde veio, quantos anos tem, como é a treta… então, pronto, eu já sei. Não preciso saber mais do que isso. A superficialidade das coisas empobrece. A dificuldade na criação é tentar criar uma substância mais sólida, emocional e culturalmente falando, para a vida deles.
Vocês são rígidos?
Jair Oliveira: Não. Quer dizer, sou rígido naquilo em que acredito. Mas não naquela rigidez de: ah, você tem que fazer como eu faço. Eu e Tania damos o exemplo, e são elas que têm que ver se aquilo é bom ou não. A gente, claro, como todo pai e toda mãe, tenta minimizar as frustações, as tristezas, mas não tenta eliminar isso da vida delas. Não temos essa rigidez de ter hora para comer, hora para dormir… Tentamos manter uma organização e uma estrutura. Não pode ser anárquico também, senão não funciona. Mas a gente acredita, como pai e como mãe, que a principal palavra é transformação. Se acreditamos que hoje é bom para elas, a gente vai e faz. Mas pode ser que isso se transforme daqui a pouco. Não podemos ficar refém da rigidez. Para qualquer assunto, não tem tabu. Não existe assunto proibido em casa.
Léo Maia: Eu sou rígido. Meu pai era e eu me vejo educando como ele. Veja só: meu pai dava ingresso e discos para o pessoal da faculdade me caguetar. Mas eu, como bom Maia, dava o dobro. Lógico: se você vai subornar alguém, certifique-se de que tem o suficiente para bancar o suborno; senão, você pode tomar uma volta com o seu próprio dinheiro (risos). Mas isso era coisa de moleque. Eu era um bom aluno. Minhas médias eram ótimas. Era o jeito de ele tentar me proteger, me controlar para ver se estava tudo caminhando bem. E eu sou assim com meus filhos também. Para o meu pai, eu tinha de pedir a bênção, mas meus filhos, cara, não estão nem aí para isso.
Vocês apostam que seus filhos seguirão a carreira artística também?
Léo Maia: Caramba, não sei. Talento eles têm. São inteligentes e bonitos. Mas não quero forçar nada. A arte é uma coisa que tem de ser natural. Ela brota em você. A gente é médico da alma, é outra viagem. É espiritual, é de coração. Não é uma onda efêmera, é uma onda verdadeira. Então, se for para ser verdadeiro, beleza, porque eu não gostaria de ter filho nenhum meu desonrando os Maia. A arte, para a gente, em casa, é uma coisa muito profunda. Muito verdadeira. Meu pai foi o maior artista da família, então tem de honrar a galera que está trabalhando aqui. Se eles quiserem entrar para o plantel, tem de honrar.
Jair Oliveira: Olha, se elas quiserem seguir, seria ótimo. Não coloco nenhuma pressão e nenhum impedimento. Elas são cercadas por artes e nós estimulamos muito esse lado artístico. Sei que isso é importante. Sei o quanto eu descobri do mundo por meio da música, das fotografias, dos filmes. As escolas deveriam fazer o mesmo. Arte não é recreação.
Já que citou a arte, pergunto: qual a relação de vocês com a arte?
Jair Oliveira: Sou fruto da arte. Filho da arte. A arte, para mim, é o instrumento de transformação da sociedade. Eu acredito muito na arte, ela é essencial para o meu ser. Quando você é músico e lança alguma coisa… e essa coisa afeta alguém ou muda a vida dessa pessoa, isso é algo muito especial. Aconteceu comigo e com meu pai. Vidas transformadas por meio de uma música. É uma função especial. Sinto-me realizado e iluminado ao fazer alguma coisa que marca a vida de alguém.
Léo Maia: minha relação com a arte é total, plena e absoluta. Eu vivo disso. Desde criança, eu nunca fiz outra coisa na vida. Comecei jovem, com 7 anos. E aos 14, já tocava pelos bares da vida. Tive o prazer de cantar com duas orquestras na adolescência. Tocava no intervalo do show do Jorge Vercillo, quando ele tocava na noite. Ralei de verdade. Eu escolhi a música. Estudei Direito, mas a música sempre falou mais alto. Eu trocaria qualquer parada para continuar sendo cantor. A grana e o status não são mais importantes que a música.
O fato de vocês terem crescido em um ambiente musical, frequentado por lendas da MPB, influenciou a escolha de vocês?
Léo Maia: São os desígnios da vida, o destino e os propósitos de Deus. Deus me deu, naturalmente, um talento musical. Além disso, fui criado numa família, numa casa onde tive um suporte de ensino. Aprendi a tocar violão com meu pai e tive todos da banda Vitória Régia como professores. A primeira vez que entrei em um estúdio foi com o Roberto Menescal. Os caminhos para o cara que é da música, que nasceu para ser da música, cujo ofício é música… as coisas acontecem. Caetano (Veloso), certa vez, falou algo que é muito legal e que eu repito: você não sabe a força que as coisas têm quando querem acontecer. Eu não escolhi a música, a música me escolheu.
Jair Oliveira: Desde que me lembro por gente, tenho esse encantamento pela música, principalmente, pelo meio ambiente criado pelo meu pai, de ensaios, shows, de gravações… Sem dúvidas, a convivência neste meio que meu pai proporcionou me influenciou muito. Acompanhava meu pai e gostava muito. Às vezes, eu e minha irmã deixávamos de brincar com os amigos na rua para acompanhar os ensaios. Era muito divertido e encantador. E para minhas filhas tem muito disso também. Não sei se elas vão seguir a carreira, mas acham divertido.
As meninas fazem parte de um projeto com você, né Jair? Aliás, sua ligação forte com elas é que deu vida ao Grandes Pequeninos, certo? Fale um pouco desse projeto que aborda o universo mágico do amor em família.
Jair Oliveira: Nossas filhas estavam nos planos, mas o Grandes Pequeninos, não. Foi uma surpresa muito agradável que veio do amor e do respeito por elas. Comecei a fazer canções, quando a Isabela nasceu, para as situações do dia a dia. Tinha música da amamentação, de passear com o papai, da hora de dormir… Quando vi, tinha tantas músicas para cantar para ela e para a Tania que a própria Tania comentou: grava um disco dessa aí. Gravei e lancei em 2009, se não me engano. Aí virou um projeto. Quando a Laura nasceu, em 2011, comecei a fazer música para as duas. Ampliamos o projeto e começamos a fazer vídeos no YouTube, criamos uma peça, lançamos DVD, o programa do Discovery Kids… virou grande. A expectativa é começar a fazer o volume 3 no segundo semestre. É um projeto familiar. É um projeto para a família. As mensagens das músicas são muito positivas e muitos pais vêm elogiar. Essas músicas eu compus com muito amor para minhas filhas, e esse amor acabou se expandido para outras famílias.
Vocês, Léo e Jair, mostram que filho de peixe, peixinho é. E seus filhos também: tal pai, tal filho?
Jair Oliveira: A Laurinha faz aula de piano e canta. A Isa canta também. Elas têm uns dons artísticos que a gente já consegue perceber, mas é como eu falei… Não sei se elas seguirão a carreira. Deixe-as crescer e aí perguntaremos para elas. (risos) Às vezes, elas perguntam se podem gravar comigo e eu deixo. A gente incentiva, mas não cria expectativa. Criamos elas com base na inspiração, para que elas se inspirem em coisas boas, legais, positivas. Não importa se vão ser musicistas, médicas, advogadas… o importante é que se inspirem em pessoas legais, façam o que quiserem fazer com vontade e que isso lhes traga felicidade.
Léo Maia: Meus meninos têm muito talento musical. São afinados. O mais velho está tocando guitarra, e muito bem. Tem um ouvido muito bom. Mas a música mudou. Os meios musicais mudaram. Essa nova música, da qual eles ainda vão fazer parte… ah, está tudo muito novo. Está nascendo um novo negócio. Acredito que, nos próximos cinco anos, vai haver uma revolução na indústria na música. Então, vamos ver o que vai acontecer.
Já que tocamos neste assunto, como está o cenário musical no Brasil?
Léo Maia: Acho que o mercado de música, no Brasil, está em total transformação e expansão. O digital é um mundo novo. As probabilidades e as possibilidades de fazer negócio são novas e infinitas. Está nascendo uma nova onda na indústria, e estamos na fase de descobrir como fazer o negócio ainda. É relativo dizer que o mercado está mais democratizado ou que dá para fazer um som de maneira independente… porque o som que dá para fazer em casa não tem aquela qualidade expressiva a ponto de ganhar o mercado. O mercado que se diz free já não é tão free: você paga para ter uma exposição maior, para que seu nome e trabalho sejam linkados a outras coisas. Enfim, é uma nova indústria que está nascendo, formatando-se. De qualquer forma, é indústria. É negócio. Não vai mudar. Tem a Internet free, mas o que funciona, mesmo, são as plataformas digitais. Tem as grandes majors que continuam tomando conta e investem milhões e milhões e milhões. Agora, não tem mais aquela inocência de antes, e você compra o time da mídia. O dia tem 24 horas, você pode comprar quantos minutos? A música é livre e independe do formato, da mídia e da indústria. O cara pode fazer música na casa dele. Agora, para acontecer, tem de ser algo genial. A indústria te dá os caras que sabem fazer. Existe uma ciência para gravar discos e compor. Não é tão intuito o cara e o violão num quarto só.
Jair Oliveira: Olha, vou responder a isso falando do cenário do Brasil como um todo. A gente tentar separar cultura da educação, da saúde… essa segmentação só causa mais confusão. Na verdade, a gente tem de analisar como está o Brasil. Na minha humilde opinião, enxergo, como muitos brasileiros, que o Brasil está doente. Doente não só em termos de saúde. Falta educação de qualidade no Brasil. E isso é primordial. É por meio da educação que a gente melhora tudo. É com educação que a gente forma uma sociedade sólida. A música brasileira não foge a essa regra. Eu que tive a oportunidade de acompanhar uma geração anterior, por intermédio do trabalho do meu pai, vejo que o respeito às artes e a compreensão do público brasileiro com relação à música deram uma enfraquecida muito grande. Mas isso não quer dizer que não tenha música boa sendo bem-feita no Brasil. Tem muita coisa bem-feita, mas hoje em dia a preocupação mercadológica com a música é tão grande que a gente não acompanha tudo o que é feito. Temos acesso às coisas, ao que toca na TV ou na rádio, o que nem sempre traduz o que o brasileiro ouve ou quer ouvir. Existe um monopólio de reduzir a cultura brasileira a certos estilos. Acaba sendo algo muito monocromático. O sistema é chato. Ele escolhe dois ou três estilos e os tocam à exaustão.
Diante desse cenário, é difícil viver de música no Brasil?
Jair Oliveira: Sempre foi. Tem muito mais gente querendo participar do mercado do que o mercado suporta. Mas isso não é só na música, e sim em todas as áreas. A Internet trouxe uma liberdade maior, mas no Brasil a TV ainda é a grande mídia. A Internet é a porta aberta e a TV, o olho mágico. Por quê? Você só consegue enxergar à frente do olho mágico. Já a porta, quando você abre, vê não só o que põe na sua frente. Mas, infelizmente, a maior parte da população não navega por conta própria. Ainda temos muito o que evoluir, mas já é um alento para iniciantes e músicos independentes. Porque não ficamos tão dependentes das escolhas dos programadores e tem mais liberdade para divulgar seu trabalho. Talvez, seja mais difícil para um artista iniciante do meu estilo iniciar do que meu pai, por exemplo. Mas, ao mesmo tempo, na época dele havia a dificuldade do número de veículos. Não é e nunca foi fácil. Mas essas dificuldades não são motivos para desistir.
Léo Maia: Eu, por exemplo, vivo de música desde os meus 7 anos. Nunca fiz outra coisa. Existe a música que é totalmente descartável e a que rola de verdade. As pessoas ainda sentem necessidade de ver um artista de verdade cantando e tocando. Pode ser que para a grande mídia e o grande negócio não seja essa uma necessidade. Existe uma diferença entre a música verdadeira e a verdadeiramente comercial.
Vocês realmente são felizes no que fazem…
Léo Maia: Pô, pra caramba. Fui para os EUA para fazer 4 shows e fiz 15. Era para ficar uma semana e fiquei 3 meses. Se não bato o pé e venho embora, estaria lá até agora. Estou indo fazer show em Portugal, na Espanha e estamos conversando sobre ir para a China, o Japão. Então, tem uma música que é brasileira, boa, de altíssima qualidade, que o mundo está a fim de ouvir. As possibilidades e as probabilidades, vão se abrindo naturalmente. A arte é universal. Eu não preciso falar japonês para cantar lá. Somos donos de uma poesia musical e de uma batida, de uma bossa, de um samba, de um groove que, pô, ninguém no mundo consegue fazer, a não ser a gente. Todo mundo ama.
Como é conciliar a carreira com a família?
Léo Maia: Ah, é mole. A Luciana (sua esposa) é quem toma conta da minha carreira. A gente se autogerencia, se autopromove, se autovende. Levo meus filhos para o estúdio, para ver a gravação, levo-os para o palco… Claro, não levo tanto, porque tem colégio e é uma vida cansativa. Vida de estrada é perigosa. Não é todo lugar que é legal, mas quando é um lugar mais perto, em que vai rolar uma grande festa… eu levo todo mundo. Quando estou longe, para matar a saudade, WhatsApp, telefone toda hora, FaceTime. Mas eles já estão acostumados. É família de artista. Vivem isso desde o dia em que nasceram.
Jair Oliveira: Não é tão difícil quanto parece, sabe? Tem gente que diz que é importante estar com seus filhos. Sim, é importante. Mas mais importante é passar para os seus filhos que a vida tem dessas coisas, que você está trabalhando e vai ficar um tempo longe, mas aí você volta. E o amor vai estar presente, independentemente de estar no Brasil, no Japão, nos Estados Unidos. Eu tenho procurado colocar meu trabalho para funcionar no cotidiano delas. Sempre que dá, trabalho de casa. Tenho um estúdio lá. O importante é mostrar que o amor não se dissipa por conta da distância. Pelo contrário, se reforça. Mas é óbvio que, dependendo da idade dos filhos, você precisa estar mais presente. Planejamos para que, em algum momento do ano, nós fiquemos realmente juntos. E em outros momentos, explicamos que a distância é pequena perto do amor que sentimos uns pelos outros.
Como vocês aproveitam o tempo livre com os filhos?
Léo Maia: Vamos muito ao japonês, a Embu das Artes, ao cinema… Nós vivemos a Granja Viana. Estamos sempre nas feirinhas, comprando verduras e legumes fresquinhos. Temos uma vida bem legal.
Jair Oliveira: Vamos muito ao cinema, aos parques, exposições ou mesmo ao parquinho do condomínio. Aproveitamos muito o que a Granja tem a oferecer de programas familiares, que não são poucos.
Já que citaram a Granja Viana, qual a relação de vocês com o bairro?
Jair Oliveira: Adoro a Granja Viana. Moro aqui desde os meus 15 anos. Acho sensacional, principalmente para quem tem família. Dentro do que a gente espera de tranquilidade e qualidade de vida, a Granja oferece boas opções. Mas precisa melhorar muito ainda a questão da mobilidade e da segurança. O que incomoda bastante é o trânsito. Mas é um lugar muito agradável. Gosto das pessoas, dos vizinhos… as pessoas que moram aqui, em geral, são prestativas e simpáticas. Minhas filhas também adoram a Granja, os amigos da escola e a vizinhança. Elas nasceram aqui e são acostumadas com isso. Acho só que, quando elas estiverem dirigindo, isso vai mudar um pouquinho. (risos)
Léo Maia: Moro aqui há quase 7 anos e sabe que escolhi a Granja Viana por causa do sr. Jair Rodrigues? Morava no Jardins e estava comprando um apartamento lá. Um dia, vim a uma festa aqui e, quando vi bairro, pensei: isso aqui é igual ao Recreio dos Bandeirantes. Na semana seguinte, começamos a procurar casa para morar. Eu amo morar aqui. Não trocaria por São Paulo jamais. Tenho em casa pés de banana, mamão, acerola, limão… um quintalzão maravilhoso, uma cachorra… cara, tenho a vida que eu tinha no Rio de Janeiro aqui. Eu pego onda, né? Então, segunda e terça-feira, eu pego o carro e vou para a praia, passo o dia pegando onda e volto. E faço jiu-jítsu aqui a semana toda. Então, mais carioca que isso, não tem… (risos) Estou em São Paulo há 15 anos e totalmente adaptado. Eu vim conquistar São Paulo, mas foi São Paulo que me conquistou. Moro aqui de coração. Sou grato à cidade que me fez para o mundo.
Para finalizar, quais projetos estão em andamento?
Jair Oliveira: Tenho feito muitas coisas interessantes e que têm preenchido muito a minha alma. Isso eu acho que é sucesso. Viver fazendo coisas de que se gosta e sobreviver disso. Estou com a minha produtora S de Samba, com o Simoninha e o João Batista, que mora aqui na Granja também. Temos feito muitas coisas legais, como a produção musical do Show dos Famosos, do Faustão. Fiz um projeto interessante e divertido chamado Quarto de Músico. Foram oito apresentações, e isso me mostrou como eu me realizo fazendo coisas diferentes. Faço umas lives com o Pedro Mariano: Nós in a Live. Toda quinta, eu, a Tania e a psicóloga Carolina Sales fazemos uma live no Face dos Grandes Pequeninos: Canta e Conta, em que abordamos temas relacionados à maternidade e paternidade. Cara, tenho feito muitas cosias como produtor musical e criador de jingles para a publicidade, teatro, TV e cinema. Temos planos de passar um tempo fora, no exterior, gravar um disco e dedicar um tempo à uma reformulação pessoal e fortalecendo a família, os laços e a arte. Queremos oferecer mais arte e cultura a nossas filhas.
Léo Maia: Vou fazer quase 30 anos de música, estou feliz com as conquistas e ainda desejo conquistar muitas outras. Acabei de terminar meu disco de carreira, que deve sair agora no segundo semestre. Estou, graças a Deus, trabalhando bastante. São seis músicas em novelas da Rede Globo. Existe um mercado de música, de classic music, muito grande no país ainda. O povo brasileiro ainda ama música, a boa música, a arte. Sigo trabalhando e esperando que a música popular brasileira volte aos áureos tempos. É isso. Estou feliz. Meu desejo é ir devagar e sempre.