Educação pós-pandemia: afinal o que esperar do futuro?

 

 

Conversamos com profissionais de escolas da região para debater alguns tópicos sobre essa educação que nasce – ou deveria nascer – no cenário pós-pandemia. Sob diferentes óticas, cada um apresenta suas visões da realidade atual.

Confira as experiências compartilhadas por eles e desenvolvidas na região.

 

 

Favorecer os encontros e os reencontros presenciais é a grande tarefa da escola?
A instituição “escola” já teve muitos papéis. O primeiro deles foi divulgar conhecimento, a manutenção de elementos culturais da sociedade, passando informação de uma geração
a outra. Já faz tempo, porém, que esse papel perdeu quase que completamente o sentido. Hoje qualquer um pode ter acesso a esse conhecimento de forma rápida e gratuita, com
um toque dos dedos. A escola perdeu uma função de grande importância, mas adquiriu outra, que não poderá ser substituída por nenhuma máquina: a responsabilidade de ensinar pessoas a conviver com seus semelhantes. É natural para o ser humano viver em sociedade, mas estamos em um momento em que esse convívio precisa ser estimulado e, até mesmo, ensinado. Essa é a grande função da escola atual: promover o encontro do ser
humano com a própria natureza e resgatar as habilidades e virtudes necessárias para que a convivência seja harmônica.
Ligia Sanchez, diretora do Colégio Santa Tereza

Qual papel emerge para as escolas agora?
Na realidade, não é o que emerge. Mas o que reforça é a função social de uma instituição escolar, ou seja, ser um ambiente que modele intencionalmente comportamentos pró-sociais, como interdependência, resiliência, frustração, empatia, etc. A pandemia também nos trouxe a chance de rever as prioridades. Escola é um ambiente que deve primar por humanizar com a mesma excelência que investe no intelectual, afinal o que todo este cenário nos trouxe foi o quanto a escola ainda age empiricamente com relação a esta pauta.
Claudia Siqueira, diretora do Colégio Sidarta

Quais lições aprendemos?
Todos os professores aprenderam a desenvolver uma aula de maneira mais dinâmica, interativa e atraente, que faça com que os alunos continuem participantes e engajados dentro do processo de aprendizagem por meio de situações vividas. Nenhum professor conseguirá mais montar seu planejamento sem envolver, acrescentar uma ferramenta que facilite a aprendizagem deles. Por outro lado, os alunos desenvolveram habilidades de aprender a aprender de uma maneira distante, sem ter o professor presencialmente, crescendo mais sua autonomia. Essas habilidades eram difíceis de ser verificadas dentro do modelo de estudo que havia até então. Já os pais entenderam a importância em auxiliar ou acompanhar as crianças e adolescentes, durante o processo de aprendizagem e que os estudos podem acontecer dentro das novas plataformas de forma integrada. A tecnologia veio para ficar. Essas mudanças trouxeram uma maior valorização do professor e fortaleceram, assim, a relação entre escola e família.
Livia Bulgarelli, coordenadora pedagógica do Colégio Raposo Tavares

Como lidar com a questão da saúde mental, tanto dos professores quanto dos alunos?
A preocupação com a saúde mental é institucional. Consideramos o ser humano de maneira integral e integrada. Corpo e mente sãos. Educar e acolher, para nós, é um binômio indissociável que faz parte do currículo vivido. De fato, o isolamento e o turbilhão de emoções sentidos na pandemia trouxeram questões que estavam guardadas em nós. Estarmos atentos um com o outro e trazer a rotina como elemento de retomada de nós mesmos foi o caminho adotado. As ações que foram desenvolvidas com a comunidade sustentaram-se nos pilares: escuta ativa, ações de conexão e arte. Demos diretrizes claras do que éramos, somos e podemos ser, respeitando os limites e as vulnerabilidades de cada um.
Claudia Xavier, diretora do Colégio Rio Branco

Como preparar educando e educador para as transformações?
Educar é transformar. Ao passarmos por momentos desafiadores, percebemos cada vez mais a importância de estimular e alicerçar as habilidades socioemocionais dos agentes da educação. Emoção e aprendizagem são indissociáveis. É necessário, nos tempos atuais, dar prioridade aos desafios psicossociais e, então, mobilizar ferramentas que conectem escolas, pais, professores e alunos. Assegurando, assim, integrações humanas regulares, facilitando medidas de cuidados sociais e resolvendo desafios que surgem diariamente. Esse momento pandêmico ressaltou a importância da escola e também da humanização da educação. Sendo assim, uma das competências atuais da escola é proporcionar o equilíbrio emocional, o que gera também um aprendizado saudável e harmônico, concedendo à sociedade educandos sábios e inteligentes emocionalmente para lidar com todas as situações advindas de quaisquer momentos.
Ana Paula de Sá Ancheschi, diretora do Instituto de Desenvolvimento Infantil Ana de Sá

A sala de aula do futuro é híbrida?
O ensino online parecia algo distante, impossível de acontecer na educação básica. Mesmo com os aparatos e recursos tecnológicos existentes na escola, pouco de fato era utilizado para o aprendizado significativo. Entretanto, com a pandemia, tivemos que nos adaptar ao novo e nos reinventar. Foi então que, de fato, pudemos colocar em prática o Ensino Híbrido, que chegou para ficar. Online, conectado na tecnologia para aprender, pesquisar e construir o conhecimento. Presencial para socializar, interagir, experienciar e se relacionar.
Mariana Silva Rangel, coordenadora pedagógica da Escola Natureza

Tecnologia na educação, chegou para ficar?
Temos o antes e o durante a pandemia. E no momento atual, a tela favorece sob alguns aspectos. Porém, o distanciamento trouxe uma enorme perda nos aspectos motores, sociais e emocionais dos estudantes, principalmente quando na fase da pré ou formalização da escrita. Na Educação Infantil e Ensino Fundamental I, a grande ferramenta de aprendizagem é o próprio corpo da criança. Desta forma, restringir a tela, tanto no ambiente escolar como no familiar, é oportunizar o desenvolvimento de estruturas corporais, sociais e emocionais, estas sim, fundantes e integrantes do desenvolvimento entendido como cognitivo. Já na etapa do Fundamental II e Médio, desde que o estudante tenha desenvolvido integralmente as estruturas mencionadas acima, a tecnologia pode e deve ser usada com mais intensidade. Ela é mais uma linguagem importante, que amplia, facilita e integra processos de aprendizagem. Se usada da maneira correta, contribui para a formação dos estudantes.
Márcio Macarini, orientador educacional da Escola Granja Viana

Como prevenir transtornos mentais dentro e fora dos muros das escolas?
Um novo normal nos traz novas maneiras de pensar, de agir, de refletir e, principalmente, de nos comunicarmos. Estamos em um processo de mudanças diárias onde o planejamento, muitas vezes, é modificado e isso pode gerar interrogações que levaremos tempo para responder. Pensando em transtornos mentais, nós, enquanto educadores, no papel da escola, precisamos sempre refletir como nos comunicamos. Sugerimos uma comunicação não-violenta, assunto que precisamos colocar em pauta aprendendo como criar conexões com outras pessoas, entendendo as necessidades delas e as suas. Pois, quando criamos essas conexões compreendendo o todo e a nós mesmos, automaticamente entendemos a importância das parcerias, com alunos, familiares, comunidade e especialistas. Precisamos instigar discussões dentro do espaço escolar, ouvir as demandas dos alunos que retornaram após um período distante da socialização, e desafiá-los a enfrentar os novos desafios. Podemos dizer que a essência escolar sempre será a mesma: dar ferramentas e inspirar caminhos para que o aluno consiga criar autonomia e seguir. A medida principal que temos que selar nesse novo caminho é nos comunicar, ouvindo o outro e estabelecendo em nossas falas a cooperação, o incentivo ao diálogo, a empatia, a resolução de conflitos e o fazer juntos para fazer bem.
Cleis Castelluber Guazzelli e Ruan Rucasi, do Grupo Pitangueiras (Escola Pitangueiras e Escola Janela Para o Talento)

Como é ou deveria ser a escola que nasce a partir de agora?
Mais forte, mais consolidada e mais unida! A pandemia veio mostrar o quanto é importante o trabalho conjunto entre família e escola. Antes, a devolutiva por parte dos pais, para essa união, era sempre a falta de tempo ou a incerteza na realização das atividades, muito embora a escola sempre reforçasse a importância de se caminhar junto. Por isso, acredito que, após esse cenário, todos percebam que a participação familiar precisa ser muito grande para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça de maneira consolidada. Essa é minha visão para a escola pós-pandemia: mais fortalecida emocionalmente pela união família e escola e tecnologicamente, pelos recursos que foram colocados. Mas principalmente, uma escola mais inovadora, repleta de caminhos e possibilidades.
Denis Franceschinelli, Diretor Administrativo do Colégio Samarah

O que priorizar daqui em diante?
O retorno às aulas presenciais é de suma importância para a saúde mental das crianças. Neste momento, o acolhimento e a escuta humanizada terão papel importante para se planejar uma volta segura e que transmita confiança. Outro ponto importante a se considerar é que a pandemia acentuou a diferença entre aqueles que tinham mais dificuldade de aprender. Teremos que suprir isso de maneira leve, mas que traga resultados rápidos. O reforço deverá estar presente em todos os níveis. A escola deverá manter um ambiente seguro, porém muito divertido, com o lúdico sempre presente. Nossa primeira preocupação será o acolhimento dos alunos e, gradativamente, com muito carinho, trazê-los de volta à rotina, tão importante para um bom aproveitamento pedagógico.
Sandra Pires, diretora da Escola Doce Geração

Como dosar a tecnologia agora?
Diálogo, confiança, autonomia e responsabilidade são as palavras- chaves para driblar os desafios em relação à vida digital dos jovens. Estabelecer uma relação de confiança é fundamental para manter diálogos reflexivos e construtivos. Devolver perguntas, colocando-os para o exercício de refletir. Contribuir para o desenvolvimento da autonomia, oferecendo oportunidades para que o jovem faça o que lhe compete, o que já está de acordo com a sua idade, por exemplo, estabelecendo uma rotina de estudo e momentos de “lazer digital”. Atrelado à autonomia vem o desenvolvimento da responsabilidade, “quanto tempo posso estar conectado?”, “quanto tempo de sono é necessário para eu ter bom desempenho no meu dia?” “quais são os conteúdos adequados para a minha idade?” e por aí vai. Não há receita, mas, sem dúvida, há caminhos.
Christiane Cerretto, orientadora educacional do Colégio Giusto Zonzini

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